
Três décadas e meia depois do início da transição e da redemocratização do Brasil, Portugal e Espanha, os sistemas de Inteligência – aparelhos de informação e contra-informação – desses países ainda preservam legados autoritários das ditaduras. Os perfis institucionais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), do Serviço de Informação de Segurança (SIS), de Portugal, e do Centro Nacional de Inteligência (CNI), da Espanha, permanecem militarizados. Como reserva de domínio estratégico dos militares, essas agências civis de Inteligência ainda sofrem o controle do poder militar. As análises comparativas e revelações estão no livro Serviços Secretos – A Sobrevivência dos Legados Autoritários, do jornalista, cientista político e oficial de Inteligência da Abin, Roberto Numeriano, 49, que acaba de ser editado pela Editora Universitária (UFPE). O SIS e o CNI conseguiram avançar mais para a hegemonia civil, em razão das rupturas com os regimes de força, – a Revolução dos Cravos, o golpe dos militares contra a ditadura, em 1974, em Portugal, e o pacto espanhol (Moncloa) de amplas reformas no País –, desmontando os aparelhos de polícia política.
A pesquisa desvenda os serviços de Inteligência civis do Brasil, Portugal e Espanha, desde as ditaduras do século 20, passando pela transição e no pós-ditadura. Trabalho de conclusão do doutorado em Ciência Política (UFPE), é transformado agora em livro, numa análise comparativa dos órgãos de Inteligência civil dos três países. Área de rara e difícil penetração, a Abin, o SIS e o CNI, aparelhos de segurança do Estado e da sociedade que surgiram com a redemocratização desses países, são núcleos ainda de resquícios de estrutura e concepções autoritárias, conforme desnuda a pesquisa. Ou seja, após o fim das ditaduras de 1964, no Brasil, de Antônio Salazar (1932-1968, o instituidor do Estado Novo português, que vigorou até 1974) e do ditador espanhol, o generalíssimo Francisco Franco (1939-1975) – um aliado de Adolf Hitler e do fascista Benito Mussolini – não foi possível desmontar, integralmente, até os dias de hoje, a serpente da coerção e da ideologização dessas instituições.
O livro será lançado no dia 4 de junho, na Livraria Cultura, no Paço Alfândega, às 19h. Nele, o jornalista e oficial de inteligência da Abin, Roberto Numeriano, revela que a Inteligência civil brasileira “permanece submetida a legados autoritários de natureza político-ideológica”, sobretudo pela forte presença da mentalidade militar no órgão, que é subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Fica subordinada, assim, ao GSI a política nacional de Inteligência. “A concepção e organização militares não desapareceram. Isso tem influência direta na doutrina de Inteligência. Ela é ainda ideologizada. Há a crença no inimigo interno potencialmente perigoso à ordem social, que é sempre de esquerda”.
O livro coincide com a abertura do debate sobre a atividade e os órgãos de Inteligência no Brasil. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) do Senado começou a promover audiências públicas - a partir deste mês - no Congresso Nacional. “A Abin foi criada pelo presidente Fernando Henrique (1994), mas, 17 anos depois, vive uma crise de identidade que é consequência dos legados autoritários. É preciso fazer a ruptura democrática na Abin”.
Constitucionalizar os conceitos e enquadrar as atividades, entende Numeriano, são fundamentais para evitar que os agentes extrapolem de seu papel e missão institucionais.
Fonte: Jornal do Commercio
A pesquisa desvenda os serviços de Inteligência civis do Brasil, Portugal e Espanha, desde as ditaduras do século 20, passando pela transição e no pós-ditadura. Trabalho de conclusão do doutorado em Ciência Política (UFPE), é transformado agora em livro, numa análise comparativa dos órgãos de Inteligência civil dos três países. Área de rara e difícil penetração, a Abin, o SIS e o CNI, aparelhos de segurança do Estado e da sociedade que surgiram com a redemocratização desses países, são núcleos ainda de resquícios de estrutura e concepções autoritárias, conforme desnuda a pesquisa. Ou seja, após o fim das ditaduras de 1964, no Brasil, de Antônio Salazar (1932-1968, o instituidor do Estado Novo português, que vigorou até 1974) e do ditador espanhol, o generalíssimo Francisco Franco (1939-1975) – um aliado de Adolf Hitler e do fascista Benito Mussolini – não foi possível desmontar, integralmente, até os dias de hoje, a serpente da coerção e da ideologização dessas instituições.
O livro será lançado no dia 4 de junho, na Livraria Cultura, no Paço Alfândega, às 19h. Nele, o jornalista e oficial de inteligência da Abin, Roberto Numeriano, revela que a Inteligência civil brasileira “permanece submetida a legados autoritários de natureza político-ideológica”, sobretudo pela forte presença da mentalidade militar no órgão, que é subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Fica subordinada, assim, ao GSI a política nacional de Inteligência. “A concepção e organização militares não desapareceram. Isso tem influência direta na doutrina de Inteligência. Ela é ainda ideologizada. Há a crença no inimigo interno potencialmente perigoso à ordem social, que é sempre de esquerda”.
O livro coincide com a abertura do debate sobre a atividade e os órgãos de Inteligência no Brasil. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) do Senado começou a promover audiências públicas - a partir deste mês - no Congresso Nacional. “A Abin foi criada pelo presidente Fernando Henrique (1994), mas, 17 anos depois, vive uma crise de identidade que é consequência dos legados autoritários. É preciso fazer a ruptura democrática na Abin”.
Constitucionalizar os conceitos e enquadrar as atividades, entende Numeriano, são fundamentais para evitar que os agentes extrapolem de seu papel e missão institucionais.
Fonte: Jornal do Commercio
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