terça-feira, 2 de novembro de 2010

Americanos vão às urnas nesta terça; republicanos ganham força, mas racham


Os americanos votam hoje para o Congresso dos EUA com expectativa de vitória dos republicanos, que deverão retomar maioria ao menos na Câmara. Mas o partido não será o mesmo dos últimos dois anos, e os pontos de tensão já são bem visíveis.

Depois de oscilarem entre rejeitar os ultraconservadores que ameaçaram o "establishment" e usar sua excitação para ganhar votos, os republicanos chegam ao final da campanha mais divididos do que o grupo que cerrou fileiras contra o presidente Barack Obama desde 2009.

A briga interna de foices apareceu nas próprias campanhas, com candidatos novatos que não receberam endosso dos líderes partidários.

O futuro da unidade do partido vai depender do tamanho da vitória de hoje. As últimas pesquisas mostram a oposição mais de oito pontos à frente no voto genérico para o Congresso 50% a 41,7%, segundo média do site Real Clear Politics.

Estão em disputa 37 das cem vagas do Senado, todas as 435 da Câmara e 37 governos estaduais. Só no Senado democratas parecem resistir ao avanço da oposição.

Um ponto que fará toda a diferença será o comparecimento às urnas. Tipicamente, no máximo 40% dos eleitores registrados (cerca de 150 milhões) aparecem para votar para o Congresso no meio de um mandato presidencial. A expectativa para este ano é de 35%.

À espera dos novos membros do Congresso, a alta burocracia do partido e seus colaboradores afirmam que têm duas tarefas após a eleição: "cooptar" os novos membros e controlar as ondas ultraconservadoras, pró-Sarah Palin, antes de 2012.

A liderança quer evitar duas coisas: uma imagem radical demais, o que atrapalha a disputa pela Presidência, e um racha interno caso novatos tentem propostas "inaceitáveis" como a privatização da seguridade social.

O senador Richard Lugar, mais alto republicano na comissão de Relações Exteriores da Casa, admitiu que seus correligionários pós-2011 "não terão a mesma disciplina que tivemos nos últimos dois anos".

Trent Lott, ex-líder do Senado e hoje influente lobista em Washington, foi ainda mais explícito. "Não precisamos de um monte de discípulos de Jim DeMint [senador e patrono dos ativistas ultraconservadores do Tea Party]", disse. "Assim que chegarem aqui, vamos ter que cooptá-los."

Animosidade é recíproca, com os ultradireitistas criticando o "elitismo de clube de campo" do establishment.

A situação chegou ao ponto de o presidente do Comitê Nacional Republicano, Michael Steele, pedir aos republicanos que "calem a boca". "Todo esse dissenso e frustração dentro do partido não ajuda em nada", afirmou.

Para Alexander Keyssar, analista político da Universidade Harvard, será inevitável uma disputa interna por poder e um potencial problema de relações públicas.

"Em termos legislativos, porém, não deve haver tanto dissenso, porque todos vão seguir se opondo à Casa Branca", declarou Keyssar. "Se congressistas do Tea Party tentarem promover agendas radicais demais, os líderes simplesmente não permitirão um voto."


ÚLTIMAS PESQUISAS

No Senado, segundo o especialista em pesquisas Cliff Young, do instituto Ipsos, os democratas devem manter a maioria, com 52 ou 53 do total de 100 senadores. Na Câmara, segundo essa pesquisa, os republicanos devem ficar com 231 dos 435 deputados (ou 50% dos votos nacionais, contra 44% para os democratas).

A pesquisa ouviu 1.075 adultos entre os dias 28 e 31 de outubro, sendo 893 eleitores registrados e 654 que disseram ter a intenção de votar. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para toda a amostra, 3,3 pontos para os eleitores registrados, e 3,8 pontos para os que pretendem vota

Já a última pesquisa do instituto Gallup, realizada entre quinta-feira e domingo, com 1.539 prováveis eleitores, coloca os republicanos na dianteira com 55% das intenções de voto, contra 40% dos democratas.

Outro levantamento conjunto do "The Wall Street Journal" e do canal de televisão "NBC" também prevê um grande avanço dos republicanos diante do que descrevem como "frustração" com o presidente Barack Obama e o Congresso de maioria democrata.

Na consulta encomendada pelos dois veículos de comunicação, os republicanos aparecem com uma vantagem de seis pontos e atingem 49% do apoio popular, contra 43% obtidos pelos democratas.

Quase a metade dos eleitores que se inclinam por um Congresso de maioria republicana assegura que trata-se de um "voto de protesto" contra os democratas.

Os distintos resultados das pesquisas do "The Wall Street Journal" e do Gallup são um exemplo, mas outras consultas diferem também no grau de apoio: o canal "Fox News", por exemplo, coloca os conservadores 13 pontos à frente, para a "CNN" são dez, enquanto o "The New York Times", prevê vantagem de seis pontos dos republicanos.


CHUTE CERTEIRO

Nate Silver, autor do blog "FiveThirtyEight" que antecipou corretamente os resultados em todos os Estados do país durante as eleições presidenciais de 2008, afirma que dadas as diferentes conclusões das pesquisas, "é difícil prever o tamanho da onda conservadora".

Os republicanos precisam de 39 cadeiras para se tornar a maioria na Câmara de Representantes, e 10 para prevalecerem no Senado.

Segundo o modelo de simulação do "FiveThirtyEight", os conservadores conquistarão cerca de 53 cadeiras na Câmara de Representantes, enquanto no Senado devem ganhar sete, o que não atingiria a maioria.


IMPACTO POR UMA DÉCADA

Os republicanos também parecem direcionados a grandes ganhos nas corridas pelos governos estaduais. Essas decisões têm um grande peso, pois podem redefinir o cenário político dos Estados Unidos por uma década.

Os governos estaduais têm um papel decisivo na redefinição dos distritos eleitorais, processo previsto para o ano que vem. A alteração acontece a cada dez anos, após o censo nacional, para garantir que cada distrito eleitoral --responsável por eleger um representante [deputado] para a Câmara-- representa aproximadamente o mesmo número de pessoas.

Por exemplo, na próxima mudança, o Texas deve ganhar quatro assentos na Câmara, e Arizona, Utah, Geórgia e Carolina do Sul um cada.

Trata-se de um processo altamente politizado, que busca causar o maior estrago possível nos oponentes, fazendo um distrito tornar-se mais confiantemente republicano ou democrata. A redefinição feita no Texas em 2003, engenhosamente planejada pelo líder republicano na Câmara Tom DeLay, custou aos democratas cinco assentos no Congresso.

Dos 18 Estados que devem ganhar ou perder assentos na Câmara, 15 estão com o governo estadual em disputa. Muitos governadores têm influência ou poder de veto sobre os planos de redefiniir os limites de um distrito eleitoral.

"As corridas para governador são o principal evento este ano", define Nathan Daschle, diretor-executivo da Associação de Governantes Democratas. "O que acontece nessas disputas terá um impacto de longo prazo na política nacional por meio da redefinição dos distritos pelo Congresso e a próxima eleição presidencial."


DISPUTA NOS ESTADOS

Os republicanos têm no momento 23 governos estaduais, e esperam ganhar ao menos mais seis ou sete.

A aposentadoria de governadores democratas em Estados fortemente republicanos --como Wyoming, Kansas, Oklahoma e Tennessee-- dá boas chances de vitória aos republicanos. Além disso, a economia fragilizada em Michigan, Pensilvânia, Ohio, Illinois, Iowa e Wisconsin dão mais alguns pontos de vantagem aos republicanos.

Os democratas esperam restringir suas perdas e tomar o governo de alguns importantes centros de batalha, como a Califórnia, a Flórida e talvez até o Texas.

Segundo o grupo apartidário Cook Political Report, dos 19 Estados comandados por democratas em que o governo está em jogo, 16 disputas estão acirradas ou pendendo para o lado dos republicanos. Já na disputa pelos 18 Estados de controle republicano, apenas nove estão empatadas ou pendendo para os democratas.

"Os republicanos vão sair dessas eleições com 30 ou mais governos estaduais", aposta Jennifer Duffy, analista da Cook. "Considerando que esse é um ano de redefinição de distritos, isso é um grande negócio."


MAIORIA NO CONGRESSO


Senado

São cem vagas no total, e são necessárias 51 para garantir maioria. Com 60 cadeiras, um partido consegue impedir o filibuster, procedimento no qual um senador pode bloquear um debate ou votação.

Na atual composição, 56 cadeiras são dos democratas, 41 são republicanas, duas são independentes e uma está vaga.


Câmara dos Representantes

São 435 vagas no total e 218 são necessárias para a maioria na casa.

Na atual composição, 255 são democratas, 178 são republicanos e duas estão vagas.

Os republicanos precisam de apenas 39 cadeiras democratas para acabar com a maioria do partido do presidente Barack Obama na Câmara dos Deputados em 2 de novembro.

Fonte: Folha
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