domingo, 10 de janeiro de 2010

Fatura extra na compra dos caças


Sem dúvida, cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva bater o martelo na hora de definir qual dos três modelos de avião de combate em análise pelo governo brasileiro, num negócio da ordem de R$ 10 bilhões, melhor atenderá ao interesse nacional. O problema é que a palavra final foi dada prematuramente. O chefe do Executivo se manifestou favoravelmente ao Rafale, produzido na França pela Dassault, ainda nas comemorações do 7 de Setembro de 2009. Só agora sabe-se que o caça francês é a última das alternativas na preferência da Aeronáutica, atrás do sueco Gripen, da Saab, e do norte-americano F-18, da Boeing.

Uma coisa são as avaliações técnicas e econômico-financeiras. Outra, as conveniências das políticas externa e de segurança nacional. A questão vai além do simplório balanço custo-benefício escorado meramente em aspectos comerciais. Passa pela transferência de tecnologia, pela construção de parcerias militares e estratégias de inserção internacional do país. A divergência, portanto, é natural. Artificial, problemático, indesejável é o impasse tornado público de modo a que qualquer solução seja desfavorável a um dos lados, como se as partes não compusessem um todo chamado Brasil.

Um país com 8,5 milhões de km² de extensão, 7,3 mil km de litoral e outros 16,8 mil km de divisas com 10 vizinhos não pode ter capacidade de defesa e dissuasão comprometidas, por mais pacífico que seja seu caráter. Afinal, está vulnerável ao contrabando, ao tráfico de armas e drogas (já com sérias implicações na segurança pública de grandes centros urbanos) e à entrada ilegal de estrangeiros.

O reaparelhamento e a modernização das Forças Armadas brasileiras é, pois, urgência urgentíssima, tomando emprestado termo típico do Legislativo — seja pelas décadas de sucateamento das três Armas, seja pelo protagonismo internacional do país, cada vez mais evidente, seja por tantas outras razões não menos importantes. Por exemplo: o avanço dos investimentos militares em nações limítrofes, a cobiça sobre a riqueza do pré-sal, o fato de o Brasil sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

A concorrência internacional foi atropelada pela imprudência do presidente da República. No papel de anfitrião do colega francês, Nicolas Sarkozy, na festa da Independência, em Brasília, Lula surpreendeu ao se comprometer antecipadamente com um resultado. Feita a trapalhada, qualquer que seja a solução certamente alguma autoridade sairá enfraquecida. Esse mal é fatura extra a ser paga pelo país, cujos negócios militares com a França já somavam 8 bilhões de euros em encomendas de submarinos e helicópteros. Importa, agora, que os 36 novos caças, sejam eles Rafale, Gripen ou F-18, reforcem o quanto antes as Forças Armadas brasileiras.


Fonte: Correio Braziliense
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