Pelo segundo dia consecutivo, Tailândia e Camboja trocaram intensos disparos de artilharia pesada ao longo de uma fronteira disputada há mais de um século, numa escalada que gerou pelo menos 16 mortos, a maioria civis tailandeses, e forçou a evacuação de mais de 130 mil pessoas em ambos os países. O conflito, o mais grave em mais de dez anos, persiste apesar dos apelos internacionais por cessar-fogo.
As hostilidades se espalharam para pelo menos 12 locais ao longo da linha de fronteira. As forças tailandesas acusam o Camboja de atacar deliberadamente áreas civis, incluindo escolas e hospitais, usando artilharia pesada e sistemas de foguetes BM-21 de fabricação russa. Em contrapartida, o governo cambojano denuncia o uso de munições de fragmentação por parte da Tailândia — armamento controverso e amplamente condenado pela comunidade internacional.
O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, declarou que o país está apenas defendendo seu território contra ataques múltiplos e alertou que o conflito pode evoluir para um estado de guerra. Segundo ele, "atos de intrusão e agressão" têm causado sofrimento à população civil e elevam o risco de um confronto em larga escala.
Os combates foram desencadeados após a explosão de minas terrestres que feriram soldados tailandeses, situação pela qual Bangkok culpa tropas cambojanas, acusação negada por Phnom Penh. Em resposta, a Tailândia expulsou o embaixador do Camboja e convocou seu enviado em Phnom Penh.
Na quinta-feira, a Tailândia realizou um raro ataque aéreo com um caça F-16 contra instalações militares cambojanas, ação que Phnom Penh classificou como “agressão militar imprudente e brutal” e pediu ao Conselho de Segurança da ONU que interceda. O Camboja também confirmou ao menos um civil morto e cinco feridos, além da evacuação de aproximadamente 1.500 famílias em regiões afetadas.
Na província tailandesa de Surin, jornalistas testemunharam o deslocamento de tropas, blindados e tanques rumo à fronteira, enquanto explosões e clarões de artilharia marcavam a linha de frente. Mais de 130 mil pessoas fugiram das áreas de conflito na Tailândia, muitas buscando abrigo em locais públicos improvisados.
Relatos emocionados de civis revelam o medo e o sofrimento provocados pelo conflito. Aung Ying Yong, 67 anos, evacua-se com lágrimas nos olhos: "Ouvimos explosões muito fortes e tivemos muito medo. Estamos tristes por viver esta guerra."
Apesar das ofertas de mediação por parte dos Estados Unidos, China e Malásia, atual presidente da ASEAN, bloco do qual Tailândia e Camboja fazem parte, o governo tailandês rejeitou a intervenção externa, defendendo negociações bilaterais para a resolução do conflito. “Mantemos nossa posição de que o mecanismo bilateral é a melhor saída”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores tailandês, Nikorndej Balankura.
Por sua vez, o Camboja pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar do conflito, classificando as ações tailandesas como agressão não provocada.
O conflito expõe a fragilidade da paz em uma fronteira marcada por disputas territoriais desde o período colonial, e acende alertas sobre o risco de uma escalada maior na região do Sudeste Asiático.
GBN Defense - A informação começa aqui
com Reuters
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