Todos os sinais emitidos por Washington e Londres sugerem que 
uma ação militar contra a Síria é agora uma forte possibilidade. Planos de 
contingência estão sendo elaborados, listas de alvos potenciais estão sendo 
revisadas e diversos ativos militares estão sendo colocados em posição.

A Marinha americana está reposicionando diversos de seus navios de guerra, 
incluindo quatro destróieres com mísseis de cruzeiro no leste do Mediterrâneo e 
possivelmente um submarino com capacidade de lançamento de mísseis.
 
 
Um submarino nuclear britânico classe Trafalgar é outra plataforma potencial 
de lançamento de mísseis.
Se mais poder de fogo for necessário, dois porta-aviões americanos podem 
lançar ataques aéreos. Baseas aéreas na Turquia e no Chipre também podem ser 
usadas. E a França também está disposta a enviar aeronaves militares para 
reforçar a ação.
Mas que tipo de ação militar está sendo proposta? Quais são os riscos 
envolvidos? Qual é a análise racional que embasa tal ação? E quanto uma ação 
militar ocidental pode contribuir para a resolução da crise na Síria?
 
Quais são os modelos para uma possível intervenção?
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Iraque 1991: Coalizão global liderada  pelos Estados Unidos e baseada em leis internacionais; mandato explícito do  Conselho de Segurança da ONU para expulsar as forças iraquianas do Kuwait.  - 
 
 
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Balcãs 1990s: Armamentos americanos  foram fornecidos para a resistência anti-sérvia na Croácia e na Bósnia, apesar  de um embargo de armas da ONU estar em vigor. Mais tarde, uma campanha aérea foi  liderada pelos americanos contra paramilitares sérvios. Em 1999, caças  americanos realizaram 38 mil voos pela Otan (aliança militar ocidental) contra a  Sérvia para tentar impedir massacres em Kosovo. Elas foram consideradas  legalmente controversas.  
 
 
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Somália 1992-93: O Conselho de  Segurança da ONU autorizou a criação de uma força internacional com o objetivo  de facilitar a chegada de suprimentos humanitários com o colapso do Estado. Um  envolvimento militar americano gradual e sem objetivo claro culminou com o  disastre das quedas dos helicópteros Blackhawk em 1993. O episódio levou à  retirada das tropas americanas do país.  - 
 
 
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Líbia 2011: França e Grã-Bretanha  pediram autorização do Conselho de Segurança da ONU para fazer uma intervenção  humanitária em Benghazi em 2011. A Rússia e a China se abstiveram, mas não  vetaram a resolução. Ataques aéreos continuaram até a queda de Khadafi.  
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Forças disponíveis para um eventual ataque à Síria
PAÍS | 
UNIDADES MILITARES | 
Estados Unidos | 
Quatro destróieres - SS Gravely, USS Ramage, USS Barry and 
USS Mahan ─ no leste do Mediterrâneo, equipados com mísseis de longo alcance
 
 Mísseis de cruzeiro podem ser lançados de submarinos 
nucleares posicionados na região
 
 Bases aéreas em Incirlik e Izmir, na Turquia, podem ser 
usadas para lançar ataques
 
 Dois porta-aviões – USS Nimitz e USS Harry S Truman estão na 
região
 
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Grã-Bretanha | 
Mísseis de cruzeiro podem ser lançados de um submarino 
britânico classe Trafalgar
 
 A Força-tarefa de Resposta da Marinha Real ─ que inclui o 
HMS Illustrious (porta-helicópteros), e as fragatas HMS Montrose e HMS 
Westminster ─ está na região para uma missão agendada previamente
 
 Base aérea no Chipre pode ser usada para lançar ataques
 
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França | 
Porta-aviões Chales de Gaulle está em Toulon, no oeste do 
Mediterrâneo
 
 Caças Raffale e Mirage podem operar a partir da base aérea 
de Al-Dhahra, nos Emirados Árabes Unidos
 | 
 
Ação militar
As opções militares dos líderes políticos americanos e britânicos são 
variadas, desde um pequeno ataque restrito a determinados alvos na Síria (a 
opção mais provável) até uma intervenção em grande escala, incluindo tropas 
terrestres, para tentar acabar com a guerra civil no país.
A invasão não está na mesa de negociações, mas é uma possibilidade que 
permanece latente nos batidores do processo político.
Aqueles que estão céticos sobre um engajamento militar maior temem, porém, 
que qualquer ação possa caminhar para uma escalada. As forças ocidentais podem 
ser arrastadas para uma luta mais prolongada, um atoleiro sem fim que muitos 
temem se tornar um novo Iraque ou Afeganistão.
Então quais são as opções militares?
O general americano Martin Dempsey, principal conselheiro militar de Barack 
Obama, deu sua visão mais detalhada sobre o assunto por meio de uma carta ao 
senador Carl Levin, no meio de julho.
Ela é o mais importante documento público sobre o assunto, que dá uma visão 
das possibilidades avaliadas pelo Pentágono.
Vamos dar uma olhada em cada uma delas, não necessariamente na ordem proposta 
pelo general Dempsey. É preciso ter em mente que elas não são mutamente 
excludentes; combinações de diferentes opções podem ser empregadas 
simultaneamente.
1. Ataques limitados à distância
Alguns podem chamar essa opção de "ataques punitivos". O objetivo seria  chamar a atenção do presidente Assad e persuadi-lo a não recorrer a armas  químicas no futuro. Os alvos podem incluir instalações militares muito ligadas  ao regime ─ como quartéis generais e bases de unidades militares de elite, por  exemplo.
Unidades de produção de mísseis podem ser atingidas. Porém, isso teria que  ser feito com cautela para não atingir instalações de fabricação de armas  químicas e para evitar vazamentos que poderiam causar danos significativos à  população.
Complexos de defesa aérea e centros de comando podem inclusive ser atingidos  como uma advertência e demonstração das capacidades militares ocidentais.
O atrativo dessa opção é que ela poderia ser colocada em prática rápido e de  uma forma na qual os riscos às forças ocidentais envolvidas seriam baixos. A  principal arma escolhida para a tarefa seria o míssil terra-terra Tomahawk ─  lançado de navios de guerra dos EUA e possivelmente de submarinos americanos e  britânicos.
Essa ação pode sofrer uma escalada para bombardeios aéreos. Porém, as ações  seriam feitas à distância, ou seja, os aviões lançariam seus mísseis e bombas de  fora do espaço aéreo sírio. Bombardeiros britânicos e franceses poderiam atacar  alvos na Síria operando de suas bases nacionais, como fizeram durante a crise na  Líbia, e ─ no caso da França ─ no Mali.
2. Aumento da ajuda à oposição síria
O general Dempsey considera essa a principal opção. Isso envolveria força não  letal para elevar o treinamento e a orientação para elementos da oposição. O  processo seria uma extensão do trabalho que já vem sendo feito no país.
Entretanto, essa opção está naufragando devido às crescentes divisões dentro 
da oposição e ao medo crescente no Ocidente de que algumas das unidades 
militares rebeldes mais poderosas venham de grupos ligados a organizações 
semelhantes à Al-Qaeda.
3. Criação de uma zona de exclusão aérea
O objetivo aqui seria evitar que o governo sírio use sua aviação para atacar 
unidades rebeldes terrestres e abastecer bases isoladas com suprimentos. Para 
isso, provavelmente seria necessário desmantelar o sistema de defesa aérea da 
Síria. Além disso, forças teriam que estar disponíveis para atacar aviões sírios 
que tentassem decolar.
Esse tipo de zona de exclusão aérea vem sendo discutida há um ano e 
geralmente tem sido rejeitada. Falou-se muito do sistema de defesa aérea da 
Síria, que antes da guerra civil era extenso e bem integrado. Ele é composto de 
um grande número de armas da era soviética atualizadas com tecnologia moderna 
russa.
Porém, a eficiência desse sistema como um todo é uma dúvida. As perdas 
territoriais do regime podem ter provocado furos no sistema de defesa e a força 
aérea israelense já demonstrou ser capaz de atingir alvos dentro da Síria 
impunemente (apesar desses ataques terem sido feitos com armas disparadas à 
distância).
O que está claro é que estabelecer uma zona de exclusão aérea envolve muito 
mais riscos iniciais aos pilotos americanos e seus aliados e requer a 
mobilização por prolongado período de tempo de uma força significativa ─ não 
apenas de caças e bombardeiros, mas de aviões de reabastecimento, de radar, de 
comando e de controle, e assim por diante.
4. Estabelecimento de zonas de segurança
A ideia aqui seria estabelecer zonas seguras na Síria ─ provavelmente perto 
de suas fronteiras com a Turquia e a Jordânia ─ a partir de onde forças rebeldes 
poderiam operar e refugiados poderiam receber suprimentos. Contudo, essa 
proposta também já havia sido discutida e descartada.
Essas zonas seguras necessitariam do estabelecimento de zonas de exclusão 
aéreas limitadas e há várias dúvidas sobre como elas seriam defendidas no solo. 
O que aconteceria, por exemplo, se o governo Sírio disparasse contra essas 
regiões?
Outra ideia discutida foi a implementação de áreas de restrição ao movimento 
para limitar a ação das forças terrestres de Assad. Mas nesse caso, intervenções 
aéreas também seriam necessárias e a operação começaria a se parecer cada vez 
mais com uma guerra de larga escala na Sìria.
5. Controle do arsenal de armas químicas da Síria
Essa foi uma das sugestões do general Dempsey com foco em prevenir o uso e a 
proliferação de armas químicas. Isso poderia ser feito por meio da destruição 
parcial de estoques de armamentos da Síria, dificultando sua movimentação ou 
capturando instalações estratégicas. Mas isso requiriria um envolvimento massivo 
dos Estados Unidos, incluindo tropas terrestres, por um período indefinido de 
tempo.
O que aparece claramente na carta do general Dempsey (e também em um texto 
que ele enviou recentemente a um outro parlamentar americano) é sua 
extraordinária relutância em embarcar em qualquer tipo de ação militar.
Mas isso ocorreu antes do suposto uso de armas químicas na Síria, que levaram 
o presidente Barack Obama a ser forçado a dar uma resposta à comunidade 
internacional após a "linha vermelha", que ele disse ter sido cruzada.
 
O cenário mais provável, se o uso da força for necessário, é o número 1: Um 
ataque pequeno e de caráter punitivo para mandar uma mensagem ao regime sírio. 
Mas qualquer decisão para agir levanta uma série de questões:
Em que grau novas evidências ─ se houver alguma ─ serão solicitadas aos 
inspetores de armas da ONU antes que uma ação militar seja desencadeada?
Qual será a legalidade desse tipo de ação em termos internacionais ─ 
especialmente após a Rússia e a China terem se oposto resolutamente no Conselho 
de Segurança da ONU a apoiar qualquer ideia de ação militar?
Mas talvez a questão mais importante de todas seja o que fazer depois de uma 
eventual ação militar. Em que medida essa operação aproximará a Síria da paz? 
Que tipo de política, ou combinação de políticas, pode fazer isso? A dinâmica da 
crise síria será alterada após um ataque dos EUA e seus aliados? Uma ação 
militar ocidental não pode tornar as coisas muito piores na Síria?
 
Fonte: BBC Brasil