segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Dom Pedro II, 200 anos: Parte II - As instituições, a soberania e o Brasil que a República não soube preservar

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Se a primeira parte desta série ressaltou a visão quase profética de Dom Pedro II, sua erudição incomum e seu papel na consolidação de um Brasil unido, respeitado e em expansão, esta segunda análise avança para o campo das instituições e das rupturas. Aqui, não se trata apenas de comparar regimes, mas de entender por que o Brasil, que caminhava em direção à modernidade, entrou em um ciclo crônico de instabilidade após a queda do Império.

Durante o Segundo Reinado, o Brasil construiu algo raro na América Latina do século XIX: continuidade institucional. Enquanto países vizinhos mergulhavam em golpes, guerras civis e sucessivas reformas constitucionais, o Império brasileiro manteve uma estrutura jurídica estável, uma diplomacia respeitada e fronteiras praticamente consolidadas. A Constituição de 1824, embora monárquica, sustentava liberdades civis, e a separação de poderes por meio do Poder Moderador, uma engrenagem de equilíbrio que.na prática, evitava rupturas violentas entre Executivo e Legislativo.

Dom Pedro II compreendia que soberania não nasce apenas das armas, mas da credibilidade institucional. Foi sob seu comando que o Brasil estruturou um Estado funcional, uma burocracia eficiente para a época, um Judiciário organizado e uma política externa baseada em dissuasão, diplomacia e projeção de estabilidade. A própria Guerra do Paraguai, frequentemente analisada apenas pelo viés militar, foi, na realidade, um marco na afirmação regional do Brasil como potência capaz de mobilizar recursos, coordenar alianças e sustentar uma campanha prolongada sem colapsar internamente.

O que veio depois, com a Proclamação da República em 1889, não foi uma evolução natural, foi uma ruptura abrupta, liderada por setores militares e elites desconectadas do próprio povo. Não houve plebiscito. Não houve mandato popular. A queda de Dom Pedro II não representou o anseio do povo brasileiro, mas o arranjo de elites que manobraram os militares. O imperador, que poderia ter resistido, preferiu não derramar uma única gota de sangue brasileiro em nome do próprio trono. Esse gesto, por si só, já define o abismo moral entre o estadista e seus detratores.

A República prometia modernizar, mas o que se seguiu foi um período de fragmentação política, coronelismo, revoltas armadas, guerras internas e instabilidade crônica. A alternância entre governos autoritários e experiências democráticas frágeis tornou-se a regra. O país que, sob o Império, projetava-se internacionalmente como potência emergente, passou a ser caracterizado por ciclos de crise, dependência externa e descontinuidade estratégica.

Um dos maiores danos desse processo foi a erosão da visão de Estado. Dom Pedro II pensava em séculos. A República passou a pensar em mandatos. O Brasil imperial investiu em ciência, educação, cultura, infraestrutura e integração nacional de forma contínua. O Brasil republicano, com raras exceções, passou a agir por impulsos, interesses partidários e agendas de curto prazo.

Mesmo na área de defesa, que hoje volta ao centro do debate global, o Império demonstrava maior coerência estratégica. Havia um projeto de Marinha, uma doutrina de Exército, uma política de fronteiras e uma clara consciência de território. A República em muitos momentos, negligenciou a soberania em favor de alinhamentos externos ou improvisações internas.

Não se trata, aqui, de romantizar um passado nem de negar avanços pontuais da República. Mas é impossível ignorar uma evidência histórica: o Brasil que Dom Pedro II governou caminhava para ser potência. O Brasil que o depôs passou a buscar, de forma intermitente e insegura, recuperar um protagonismo que já estivera em suas mãos.

Esta segunda parte evidencia que a maior perda não foi a coroa, mas a lógica de Estado: o senso de continuidade, de projeto nacional e de responsabilidade histórica.

Na próxima parte desta série, a análise avançará sobre o papel de Dom Pedro II como indutor da ciência, da tecnologia e da educação, elementos essenciais para qualquer nação que aspire liderança no século XXI, e como o Brasil, ao abandoná-los de forma estrutural, afastou-se novamente de seu destino natural de potência.


por Angelo Nicolaci


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Lituânia amplia sua defesa antiaérea com terceiro pedido do sistema MSHORAD da Saab

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A Saab confirmou o recebimento de um terceiro pedido do sistema Mobile Short Range Air Defence (MSHORAD) da Agência de Material de Defesa da Lituânia, em um contrato avaliado em aproximadamente 1,4 bilhão de coroas suecas. As entregas estão previstas para ocorrer entre 2026 e 2030, consolidando o fortalecimento contínuo da defesa aérea de baixa altura do país báltico em um contexto de crescente instabilidade no flanco oriental da OTAN.

Com o novo acordo, a Saab fornecerá uma terceira bateria completa do MSHORAD às Forças Armadas da Lituânia. O sistema será integrado pela empresa sueca a veículos JLTV 4x4, fabricados pela norte-americana Oshkosh, combinando elevada mobilidade, proteção balística e capacidade de operar em ambientes complexos e contestados.

Em declaração oficial, Görgen Johansson, diretor da área de negócios Dynamics da Saab, destacou a robustez do sistema frente às ameaças modernas: “Temos orgulho de continuar contribuindo para manter os céus da Lituânia seguros. Nosso sistema de defesa antiaérea móvel é capaz de resistir até mesmo às contramedidas mais avançadas, oferecendo ao usuário a capacidade de se preparar para o esperado e reagir com sucesso ao inesperado”.

O MSHORAD da Saab é uma solução integrada de defesa antiaérea de curto alcance, projetada para acompanhar tropas em movimento e proteger unidades terrestres contra uma ampla gama de ameaças aéreas em baixa altitude, incluindo aeronaves tripuladas, helicópteros, mísseis de cruzeiro e drones.

A arquitetura do sistema combina:

  • Uma unidade de radar móvel baseada no Giraffe 1X, capaz de detectar, rastrear e classificar múltiplos alvos com elevada precisão e velocidade de resposta;

  • Uma unidade de tiro equipada com o sistema de mísseis RBS 70 NG, conhecido por sua alta letalidade, resistência a contramedidas eletrônicas e capacidade de engajamento em ambientes complexos;

  • A integração de todos os elementos por meio do sistema de comando e controle GBAD C2 (Ground-Based Air Defence Command and Control), que garante consciência situacional em tempo real, tomada de decisão rápida e coordenação eficiente entre sensores e atiradores;

  • Um datalink seguro que permite a troca de informações entre as unidades em movimento, ampliando o alcance operacional e a eficácia do sistema em operações distribuídas.

A escolha do MSHORAD reforça a tendência global de priorização de sistemas móveis, modulares e altamente integrados, capazes de responder às novas dinâmicas do campo de batalha moderno, marcado pelo uso intensivo de drones, munições guiadas de precisão e ataques de saturação.

Para a Lituânia, país que faz fronteira com a Rússia e Belarus, o investimento em camadas adicionais de defesa aérea representa não apenas uma necessidade militar, mas um instrumento estratégico de dissuasão e proteção da soberania nacional. Ao ampliar sua capacidade de negação de acesso e proteção de forças terrestres, o país eleva o custo de qualquer tentativa de violação de seu espaço aéreo e territorial.

O novo contrato também evidencia a crescente relevância da Saab no mercado europeu de defesa, especialmente em soluções de curto e médio alcance, que vêm ganhando protagonismo diante do cenário de guerra de alta intensidade observado nos últimos anos.

Mais do que uma simples aquisição de equipamentos, o terceiro pedido do MSHORAD por parte da Lituânia sinaliza uma mudança definitiva na forma como os países europeus encaram sua própria segurança: menos dependência reativa e mais investimento estruturado em capacidades defensivas, adaptadas às ameaças reais do século XXI.


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KIZILELMA entra para a história ao realizar o primeiro abate aéreo BVR por uma aeronave de combate não tripulada

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A aviação militar mundial acaba de testemunhar um marco sem precedentes. Pela primeira vez na história, uma aeronave de combate não tripulada conseguiu engajar e destruir com sucesso um alvo aéreo utilizando um míssil ar-ar de longo alcance, engajando o alvo além do alcance visual (BVR), em um cenário real de teste operacional. O feito foi alcançado em 29 de novembro, durante um disparo histórico realizado pelo Bayraktar KIZILELMA, plataforma de combate não tripulada desenvolvida pela Baykar, em uma operação sustentada integralmente por sistemas da ASELSAN e pela indústria de defesa da Türkiye.

O engajamento ocorreu sobre o Mar Negro e demonstrou uma cadeia completa de detecção, identificação, rastreamento e abate totalmente autônoma e soberana. O KIZILELMA detectou e acompanhou o alvo por meio do radar AESA MURAD, desenvolvido pela ASELSAN, uma das mais avançadas tecnologias de sensoriamento já integradas a uma plataforma aérea não tripulada. Em seguida, o míssil ar-ar BVR GÖKDOĞAN, desenvolvido pela TÜBİTAK SAGE, foi guiado com extrema precisão até o impacto direto, utilizando o radar de busca por radiofrequência da própria ASELSAN.

Além do radar AESA MURAD, participaram da operação um conjunto avançado de tecnologias turcas, incluindo o sistema de identificação amigo-inimigo (IFF), sistemas de comunicação seguras e soluções de controle de tiro de alta confiabilidade. Esses elementos trabalharam de forma integrada, demonstrando não apenas a eficiência individual de cada sistema, mas a maturidade de toda a arquitetura de combate em rede desenvolvida pela Türkiye para seus vetores aéreos não tripulados.

O teste foi acompanhado em voo por altas autoridades militares e industriais do país. Entre os presentes estavam o Comandante da Força Aérea da Türkiye, General Ziya Cemal Kadıoğlu, o Comandante da Força Aérea de Combate, General Rafet Dalkıran, o Presidente e CEO da ASELSAN, Ahmet Akyol, e o Presidente da Baykar, Selçuk Bayraktar. As autoridades acompanharam a missão a bordo de caças F-16 que decolaram da Base Aérea de Merzifon, evidenciando o caráter estratégico do evento e seu elevado grau de importância para a doutrina de emprego futuro da aviação de combate turca.

Mais do que um simples teste bem-sucedido, a missão simboliza uma ruptura conceitual nas operações aéreas modernas. A capacidade de uma aeronave não tripulada engajar alvos aéreos além do alcance visual, empregando mísseis de longo alcance e sensores avançados de forma autônoma, altera profundamente a lógica da superioridade aérea. Plataformas como o KIZILELMA passam a ocupar um espaço até então reservado exclusivamente a caças tripulados, abrindo caminho para novas doutrinas, redução de riscos humanos e maior flexibilidade tática em ambientes contestados.

A conquista reforça, ainda, o salto qualitativo da base industrial de defesa da Türkiye. O domínio completo do ciclo tecnológico, que vai do desenvolvimento de radares AESA à produção de mísseis ar-ar e sistemas criptografados de comunicação, posiciona o país em um seleto grupo de nações capazes de projetar e executar operações aéreas de nova geração com autonomia estratégica.

Ao demonstrar a viabilidade operacional de caças não tripulados armados com mísseis BVR e dotados de sensores avançados, a Türkiye não apenas consolida sua posição como potência emergente em tecnologia de defesa, mas também redefine parâmetros do combate aéreo do futuro. O episódio marca o início de uma nova era, em que a superioridade aérea poderá ser conquistada, em boa medida, por sistemas inteligentes, autônomos e produzidos integralmente dentro das fronteiras nacionais.


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