A queda do Império, em 1889, não representou apenas uma mudança de regime. Ela significou a interrupção de uma linha de continuidade histórica e estratégica que vinha sendo construída havia quase sete décadas. Ao nos perguntarmos onde o Brasil estaria hoje caso o projeto de Dom Pedro II tivesse sido preservado, não entramos no campo da fantasia, mas da análise comparativa com países que, naquele mesmo período, seguiram caminhos semelhante, e que hoje figuram entre as maiores potências do planeta.
Enquanto o Brasil derrubava seu imperador, o Japão iniciava a Restauração Meiji. A Alemanha, sob Otto von Bismarck, consolidava sua unificação. Os Estados Unidos, recém-saídos da Guerra Civil, apostavam fortemente em indústria, ferrovias, ciência e educação. Em todos esses casos, o que existia era uma visão de Estado, continuidade administrativa, investimento pesado em formação técnica, indústria de base, infraestrutura e capacidade militar.
O Brasil, sob Dom Pedro II, estava na mesma rota.
Tínhamos território, recursos naturais incomparáveis, população em crescimento, estabilidade política, instituições funcionando e, sobretudo, um líder comprometido integralmente com educação, ciência, tecnologia e soberania. Caso essa linha tivesse sido mantida, é razoável projetar que o Brasil teria entrado no século XX não como país periférico ou dependente, mas como uma das principais potências industriais emergentes do mundo.
Do ponto de vista econômico, o país teria consolidado uma base industrial própria já nas primeiras décadas do século XX, com parques siderúrgicos, metalúrgicos e navais mais robustos, reduzindo drasticamente a dependência de capitais e tecnologias estrangeiras. A exploração de riquezas minerais, a produção energética e a industrialização teriam sido conduzidas sob um projeto nacional, e não entregues, em grande parte, a interesses externos ou ciclos de desmonte interno.
O Brasil poderia ter se tornado, ainda no início do século passado, uma referência tecnológica no hemisfério sul, com universidades de excelência consolidadas, centros avançados de pesquisa e desenvolvimento e produção científica contínua, sustentada pelo próprio Estado, como desejava o imperador. A fuga de cérebros que marcaria a história republicana talvez sequer existisse, e ao contrário, o país teria atraído mentes do mundo inteiro.
No campo militar, os efeitos seriam ainda mais evidentes. A Marinha Imperial já era uma das mais respeitadas do mundo no século XIX. Com continuidade de investimentos, doutrina própria e desenvolvimento tecnológico nacional, o Brasil teria ingressado no século XX como potência naval de primeira linha. Poderia ter desempenhado papel decisivo nas duas Guerras Mundiais, não apenas como aliado secundário, mas como potência relevante no equilíbrio estratégico global, sobretudo no Atlântico Sul.
Essa condição teria alterado profundamente nossa posição geopolítica. O Brasil não seria visto apenas como fornecedor de matérias-primas, mas como um dos pilares de estabilidade e poder no hemisfério ocidental, ao lado dos Estados Unidos, e não à sua sombra. Teríamos exercido maior influência sobre a América do Sul, a África e o mundo lusófono, construindo uma zona de cooperação sob liderança brasileira, sem submissão e sem isolamento.
Talvez fôssemos, desde meados do século XX, um país com protagonismo nas decisões multilaterais globais, com assento permanente em mecanismos centrais de governança internacional, capacidade própria de dissuasão estratégica, programa nuclear completo sob controle soberano, indústria aeronáutica muito mais avançada e um complexo militar-industrial comparável ao de nações como França, Reino Unido ou Alemanha.
Mais importante que isso: teríamos preservado uma cultura de Estado, e não de governo. Uma mentalidade de planejamento em décadas, e não em mandatos. Um compromisso contínuo com educação, ciência, indústria, defesa e identidade nacional. Teríamos desenvolvido uma sociedade mais instruída, mais disciplinada institucionalmente e mais consciente de seu papel no mundo.
Essa comparação não serve para alimentar nostalgia vazia, mas para resgatar uma pergunta fundamental: em que momento o Brasil deixou de pensar como projeto de civilização para se contentar em sobreviver a crises cíclicas?
A figura de Dom Pedro II cresce justamente neste contraste. Não como símbolo de saudosismo monárquico, mas como representação de uma mentalidade estratégica que segue em falta no Brasil contemporâneo. Em um mundo que volta a ser multipolar, competitivo, tecnológico e duro, sua visão de soberania pelo conhecimento, pela educação e pela força institucional se revela mais atual do que nunca.
O Brasil que ele imaginou ainda não existiu plenamente. Mas ele continua sendo, paradoxalmente, uma possibilidade histórica em aberto.
Resgatar o pensamento de Dom Pedro II não é retornar ao século XIX. É, talvez, a única forma de finalmente entrar no século XXI como nação protagonista.
por Angelo Nicolaci
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