A recente venda de 48 caças de quinta geração KAAN da Türkiye para a Indonésia é mais do que uma conquista comercial. É uma afirmação clara de que a Türkiye está se consolidando como um player relevante no cenário global da defesa e da tecnologia, e também um duro contraste com o Brasil, que insiste em tratar a área de defesa com descaso e visão de curto prazo.
Enquanto a Türkiye investe de forma contínua, estratégica e coordenada no desenvolvimento de sua base industrial de defesa, o Brasil sofre com cortes, projetos abandonados e uma política míope que ignora o imenso potencial do setor para gerar empregos, impulsionar a economia e assegurar soberania nacional.
O preço da negligência
Ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil desperdiçou inúmeras oportunidades de se posicionar como um protagonista tecnológico. Projetos estratégicos como o Sistema de Defesa Cibernética, o programa do VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) nacional e iniciativas ligadas à indústria naval e aeroespacial sofreram com descontinuidade, contingenciamentos e falta de prioridade política.
A Embraer, símbolo do orgulho tecnológico brasileiro, foi abandonada em momentos cruciais. O KC-390, uma das aeronaves de transporte militar mais modernas do mundo, continua sendo subaproveitado na diplomacia comercial do Brasil, com a Embraer disputando o mercado sem o devido suporte. A parceria com a Saab para o desenvolvimento e produção do F-39E/F Gripen, que poderia alavancar a nacionalização de tecnologias, segue avançando a passos lentos devido à incerteza nos aportes financeiros e à fragilidade do ecossistema de defesa.
Enquanto isso, países como a Türkiye estão colhendo os frutos de uma política de Estado sólida e visionária. Com o KAAN, a Türkiye está se projetando como uma das poucas nações capazes de desenvolver e vender um caça de quinta geração, algo que exige não apenas engenharia de ponta, mas também uma cadeia industrial robusta, capacitação de mão de obra e um ecossistema de inovação.
Retorno econômico e tecnológico
Investir em defesa não é gasto: é alavanca de desenvolvimento. A cada real investido nesse setor, há retorno direto na forma de:
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Empregos altamente qualificados: Engenheiros, técnicos, operários e pesquisadores são mobilizados em programas de defesa, com impactos positivos na renda e na formação de mão de obra.
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Estímulo à indústria nacional: O setor de defesa é intensivo em tecnologia e altamente integrado. Um único projeto movimenta centenas de empresas, da metalurgia à eletrônica avançada.
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Inovação tecnológica de uso dual: Tecnologias desenvolvidas para o setor militar têm aplicações diretas em áreas civis, como medicina, segurança pública, telecomunicações e agricultura de precisão.
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Capacidade de exportação: Produtos de defesa bem-sucedidos, como o KC-390, A-29 Super Tucano, o Astros 2020 ou os sistemas optrônicos da AEL Sistemas, têm alto valor agregado e potencial de inserção em mercados estratégicos.
Um exemplo a seguir
A Türkiye enxergou a defesa como eixo estruturante de sua autonomia estratégica e de seu crescimento industrial. O governo turco articulou universidades, empresas públicas e privadas, centros de pesquisa e um sistema financeiro de apoio para garantir que seus projetos fossem levados adiante. O resultado é visível: o país exporta drones, veículos blindados, mísseis e, agora, caças de quinta geração.
O Brasil precisa deixar de tratar a defesa como um tema exclusivamente militar ou ideológico. Segurança, tecnologia e soberania são pilares de desenvolvimento nacional. Países que não investem na própria capacidade de se defender, e de produzir tecnologia crítica, acabam dependentes de terceiros em momentos decisivos.
Se quisermos evitar essa dependência, gerar empregos de qualidade, manter nossos cérebros no país e conquistar relevância internacional, é hora de parar de enxergar a defesa como um luxo e começar a tratá-la como prioridade estratégica.
Por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
De fato e de forma sistematicamente clara, o Governo Brasileiro e suas administrações, reconhecidamente, não possuem envergadura nem preparo intelectual suficientemente maduro para promover politicas Estratégicas Institucionais que sejam independentes de partidos politiqueiros e seus mediocres representantes eivados de vicios mesquinhos, incapazes de pensar na Nação. Defesa deveria ser pensada como Politica de Estado indispensável para sua soberania.
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