Na madrugada do último sábado, 22 de junho, por volta de 2h30, horário do Irã, os Estados Unidos lançaram uma ofensiva combinada contra três das principais instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan. A operação, batizada de “Operation Midnight Hammer”, envolveu sete bombardeiros stealth B‑2, vindos da base em Whiteman (Missouri), que largaram 14 bombas bunker-buster GBU‑57 MOP, cada uma com peso de 30 000 lb, e mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro Tomahawk disparados por submarinos.
O presidente Trump anunciou a ação nas redes sociais afirmando que “Fordow está destruída”, descrevendo a missão como um “sucesso militar espetacular”. As aeronaves dos EUA teriam ultrapassado espaço aéreo iraniano e retornado sem confrontos, com os sistemas iranianos de defesa aérea aparentemente sem reação.
Impacto e evidências por satélite
Imagens de satélite fornecidas pela Maxar Technologies mostram, no complexo de Fordow, seis crateras recentes, nuvens de poeira cinzenta e fragmentos de concreto, sinais claros da detonação de bombas de penetração profunda. O design da MOP visa explodir após penetrar profundamente, o que explica a ausência de grandes destroços superficiais, e sugere que os iranianos selaram os túneis antes do ataque para conter os danos internos.
Estima-se que alvos como Fordow, enterrado sob cerca de 80 m de rocha, foram diretamente visados pelas MOPs, cujo uso em combate foi confirmado oficialmente pela primeira vez. Enquanto isso, Natanz e Isfahan receberam ataques semelhantes, com Tomahawks complementando os impactos diretos.
Agências iranianas afirmam que não houve vazamento de radiação e que o estoque de urânio enriquecido já havia sido removido previamente para evitar danos ambientais . Representantes do país confirmaram que áreas afetadas em Qom, próximas a Fordow, não apresentam risco para a população.
Dissuadir, não derrubar
No Pentágono, o secretário de Defesa Pete Hegseth declarou que a operação foi um sucesso esmagador, afirmando que o programa nuclear iraniano foi “devastado”. Enfatizou ainda que a missão não visava troca de regime e que civis e tropas iranianas não eram alvos, mas as “ambições nucleares” do Irã .
O vice-presidente JD Vance reforçou esse discurso ao afirmar: “Estamos em guerra com as ambições nucleares do Irã, mas não com seu povo”, e garantiu que Washington e seus aliados trabalharão para desmantelar permanentemente o programa nuclear iraniano através de ações além do ataque.
Apesar da ofensiva militar, o governo americano sinalizou abertura à diplomacia. Hegseth declarou que o Irã ainda é bem-vindo à mesa das negociações. Já Trump advertiu: “Qualquer retaliação será respondida com força muito maior”.
Críticas e apoio: um país dividido
Dentro dos EUA, a reação foi polarizada, com muitos republicanos, inclusive o senador Lindsey Graham, elogiando a ação e classificando como necessária para conter o programa nuclear iraniano.
Já conservadores “MAGA”, como Steve Bannon e Marjorie Taylor Greene, criticaram, acusando Trump de envolvimento em outro conflito externo desnecessário.
Democratas, liderados por figuras como Hakeem Jeffries, questionaram a legalidade da operação sem autorização do Congresso e alertaram para um possível engajamento dos EUA em um conflito prolongado.
No âmbito internacional, a ONU, França, Reino Unido e União Europeia manifestaram preocupação com o risco de escalada, pedindo retorno à diplomacia. Israel, por sua vez, celebrou o ataque. O premiê Netanyahu classificou o poder militar americano como “justo e impressionante” e afirmou que isso complementou as ações israelenses na última semana .
Riscos de retaliação e nova escalada regional
De imediato, o Irã reagiu ativando defesas aéreas em regiões como Bushehr e Yazd, e lançou mísseis contra Israel, atingindo Tel Aviv e Haifa e provocando dezenas de feridos. Embora não tenha atacado bases americanas diretamente, o Irã advertiu que fechar o estreito de Ormuz está sob consideração, aumentando o risco para o tráfego global de petróleo .
Analistas do Council on Foreign Relations e da Carnegie alertam para uma possível fase prolongada de hostilidades: o Irã pode preferir uma retaliação assimétrica por meio de milícias no Oriente Médio. O Pentágono declarou que suas forças na região estão em alerta máximo e prontas para responder qualquer ação iraniana.
Diante da magnitude dos ataques, o Irã agora se vê pressionado a responder de forma que reafirme sua capacidade de dissuasão sem provocar uma escalada irreversível que leve a um confronto direto com os Estados Unidos. O histórico recente do regime iraniano aponta para um padrão de respostas assimétricas, cuidadosamente calibradas para causar impacto político e militar, mas com margem para negar responsabilidade direta.
Entre as respostas mais prováveis, analistas militares e especialistas em segurança apontam para o aumento das atividades das milícias pró-iranianas no Oriente Médio. Grupos como o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e as facções xiitas no Iraque podem ser acionados para lançar ataques contra alvos dos EUA e de seus aliados, especialmente Israel e as bases militares americanas na região. Esses ataques podem variar desde disparos de foguetes e drones kamikaze até atentados contra instalações diplomáticas ou logísticas.
Outro cenário que preocupa Washington e seus aliados é a possibilidade do Irã optar por ações no ciberespaço. Nos últimos anos, Teerã expandiu consideravelmente suas capacidades de guerra cibernética. Instituições financeiras, infraestruturas críticas de energia e até sistemas de transporte nos Estados Unidos ou em países aliados, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, podem se tornar alvos de ataques coordenados. Esses movimentos permitiriam ao Irã retaliar de forma silenciosa, porém com grande impacto econômico e psicológico.
A possibilidade de um bloqueio parcial ou total do Estreito de Ormuz também permanece sobre a mesa. Cerca de um quinto do petróleo comercializado no mundo passa por esse estreito, e qualquer ameaça de interrupção no tráfego marítimo ali pode provocar pânico nos mercados internacionais e pressionar os Estados Unidos por uma resposta militar imediata. O Irã já demonstrou, em ocasiões anteriores, sua capacidade de minar o estreito ou lançar ataques contra petroleiros, como ocorrido durante as tensões de 2019.
Além dessas ações, há o temor de um ataque direto a Israel. A recente ofensiva de mísseis que atingiu Tel Aviv e Haifa pode ser apenas o início de uma escalada mais ampla. O Irã pode utilizar o Hezbollah para ampliar a pressão, com o lançamento de foguetes ou ataques coordenados contra o território israelense, o que arrastaria Tel Aviv ainda mais para dentro do conflito.
No plano diplomático, Teerã deverá recorrer a fóruns internacionais como o Conselho de Segurança da ONU para denunciar a ofensiva americana como uma violação da soberania iraniana e do direito internacional. Espera-se uma aproximação maior com Rússia e China, com o objetivo de ganhar respaldo político e diplomático no cenário global.
Por fim, uma das respostas que mais preocupa analistas de segurança internacional é a possibilidade de o Irã anunciar formalmente sua saída do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e acelerar o enriquecimento de urânio para níveis próximos aos necessários para a construção de uma bomba nuclear. Esse movimento seria encarado como um desafio direto não apenas aos Estados Unidos, mas a toda a comunidade internacional, e abriria um novo ciclo de tensões, com risco real de novos bombardeios preventivos.
Até o momento, o Pentágono mantém suas forças na região em estado de alerta máximo, com reforços a caminho de bases no Golfo Pérsico. A administração Trump, por sua vez, tem reiterado que qualquer retaliação iraniana será recebida com uma resposta "rápida, esmagadora e definitiva". O futuro imediato permanece incerto, e os próximos dias serão decisivos para determinar se o conflito caminha para uma contenção estratégica ou para uma nova guerra no Oriente Médio.
Equilíbrio entre poder e diplomacia
Esta operação representa uma nova página na história: o uso ofensivo pela primeira vez das bombas bunker-buster MOP em combate real. A missão expôs a capacidade operacional avançada dos EUA, conseguindo penetrar defesas subterrâneas altamente protegidas e infligir danos significativos ao programa nuclear iraniano.
Entretanto, o desafio a partir de agora é manter esse sucesso técnico sem desencadear um conflito de grandes proporções. O espaço diplomático ainda está aberto, mas estreito. A legitimidade política nos EUA, dividida e contestada, e as respostas iranianas, diretas ou por intermediários, vão determinar se este será o fim de um conto ou o prólogo de uma guerra regional prolongada.
Por Angelo Nicolaci
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