O Paris Air Show 2025, o maior evento aeroespacial e de defesa do mundo, tornou-se palco de uma verdadeira revolução tecnológica na guerra aérea. Neste ano, um número recorde de drones de combate avançados, conhecidos como “wingmen”, dominou a atenção de especialistas, militares e executivos da indústria de defesa. Esses sistemas não tripulados, projetados para operar ao lado de caças tripulados, estão redefinindo os conceitos de superioridade aérea, táticas de combate e projeção de força global.
O conceito de “wingmen”: multiplicadores de poder aéreo
Os “wingmen” são aeronaves não tripuladas de combate que voam em formação com caças como o F-35 ou o futuro F-47 da Força Aérea dos Estados Unidos. Seu papel é diversificado: podem executar missões de vigilância, guerra eletrônica, ataques de precisão, distração de defesas inimigas ou até operações cibernéticas. Mais do que simples alvos ou drones de reconhecimento, essas plataformas atuam como parceiros inteligentes e autônomos, capazes de receber comandos de pilotos humanos ou operar de forma independente com base em inteligência artificial embarcada.
O interesse global por essa tecnologia cresceu exponencialmente após os conflitos recentes, especialmente a guerra na Ucrânia, onde drones de todos os tipos provaram seu valor tático e estratégico. Além disso, as tensões no Indo-Pacífico, envolvendo Estados Unidos e China, estão acelerando o desenvolvimento de capacidades de combate que possam oferecer vantagem decisiva em cenários de negação de acesso (A2/AD).
Indústria americana na dianteira: Anduril, General Atomics e Boeing
Entre os destaques do pavilhão norte-americano, a Anduril Industries, sediada na Califórnia, atraiu atenção especial com seu drone Fury, um veículo de 17 pés de comprimento, desenvolvido para o programa CCA (Collaborative Combat Aircraft) da Força Aérea dos EUA. Segundo Jason Levin, vice-presidente sênior de engenharia da empresa, o Fury é uma aeronave com “capacidade de missão comparável à de um caça”, embora detalhes operacionais permaneçam confidenciais.
A Anduril já investiu US$ 2,5 bilhões na construção de uma planta industrial de última geração com 465 mil metros quadrados em Ohio, cuja construção começará em 2026, visando a produção em massa até 2027.
Além do Fury, a Anduril também apresentou o Altius, um drone menor e mais compacto que pode ser lançado de solo ou ar, com capacidade para missões de ataque, iscagem e guerra cibernética. O Altius já foi exportado para a Ucrânia por meio de um contrato de 30 milhões de libras com o Reino Unido, assinado em março.
A General Atomics, tradicional fornecedora de drones como o MQ-9 Reaper, apresentou seu novo modelo YFQ-42A, uma aeronave que rivaliza com o Fury em termos de performance e integração ao conceito de guerra centrada em rede. Ambos os projetos visam garantir superioridade aérea em um eventual cenário de guerra contra a China no Pacífico, incluindo uma possível defesa de Taiwan, considerada por Pequim uma província rebelde.
Outro marco importante foi a demonstração da Boeing, que revelou os resultados de um exercício com a Força Aérea Real Australiana (RAAF). No teste, dois drones Ghost Bat voaram ao lado de uma aeronave de vigilância E-7A Wedgetail, sendo operados remotamente para simular um ataque coordenado a um alvo aéreo. O governo australiano destacou que o Ghost Bat pode transformar um único caça em uma equipe aérea multi-plataforma, ampliando significativamente o alcance sensorial e a capacidade de engajamento.
Europa e Ásia: resposta acelerada ao avanço americano
As empresas europeias não ficaram atrás. A sueca Saab, junto com o consórcio franco-espanhol formado por Dassault Aviation, Airbus e Indra Sistemas, promoveram os avanços do programa Future Combat Air System (FCAS), que visa a integração de drones autônomos com caças tripulados de sexta geração.
Enquanto isso, a Baykar, da Turquia, apresentou pela primeira vez no salão dois de seus principais sistemas: o Akinci, um drone de grande altitude e elevada capacidade de carga, e o TB3, com asas dobráveis, desenvolvido especialmente para operar a partir de porta-aviões com pista curta, como o recém-comissionado TCG Anadolu.
Além disso, a Baykar e a italiana Leonardo formalizaram durante o evento uma joint venture focada no desenvolvimento de sistemas não tripulados para o mercado europeu e mediterrâneo, sinalizando um novo eixo de cooperação na indústria de defesa.
A Rheinmetall, da Alemanha, também aproveitou a feira para anunciar uma parceria estratégica com a Anduril, visando a produção de variantes europeias do Fury e do Barracuda, um drone que adota o conceito de míssil de cruzeiro com capacidade de reuso.
Uma transformação estrutural na guerra aérea
O crescente investimento global em drones wingmen sinaliza uma transformação profunda na doutrina de combate aéreo. Em vez de missões realizadas apenas por aeronaves tripuladas, as futuras operações deverão envolver enxames coordenados de plataformas autônomas, capazes de confundir defesas inimigas, realizar ataques simultâneos e assumir tarefas de alto risco, preservando a vida dos pilotos.
O conceito de "massificação inteligente", onde cada caça poderá comandar múltiplos drones subordinados, promete mudar o equilíbrio de poder nos céus. Segundo analistas do setor, países que não investirem rapidamente nessa tecnologia correm o risco de perder sua capacidade de dissuasão aérea já na próxima década.
O Paris Air Show 2025 deixou claro que a corrida global por superioridade aérea de próxima geração está apenas começando, e que os drones wingmen serão protagonistas dessa nova era.
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