A Polônia deu um passo decisivo para reforçar sua capacidade de defesa no Mar Báltico ao anunciar, nesta quarta-feira (26), a escolha da sueca Saab para fornecer três submarinos da classe A26, o projeto mais avançado já desenvolvido pela indústria naval da Suécia. O acordo, avaliado em cerca de US$ 2,7 bilhões, insere-se no programa estratégico “Orka”, criado para modernizar a Marinha polonesa diante de um ambiente regional marcado por incertezas, tensões e uma Rússia cada vez mais ativa no Báltico.
Desde a invasão da Ucrânia em 2022, Varsóvia se tornou um dos países europeus que mais ampliaram seus investimentos em defesa. E a escolha da Suécia, agora membro pleno da OTAN, simboliza mais que a compra de submarinos: representa a consolidação de um eixo nórdico-báltico de defesa, num momento em que antigos alinhamentos da Europa Central se fragmentam devido às divergências sobre como enfrentar Moscou.
Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, destacou que a oferta sueca “foi a melhor em todos os critérios”, especialmente quando se considera o ambiente operacional do Mar Báltico, que exige plataformas discretas, ágeis e preparadas para a guerra no fundo do mar.
Além dos três submarinos A26, a Suécia fornecerá um quarto submarino para treinamento e se comprometeu a adquirir sistemas de armamento fabricados pela indústria polonesa, um reforço industrial e político que ajuda Varsóvia a ampliar sua base tecnológica nacional.
Para a Saab, trata-se de um marco histórico: é o primeiro contrato internacional de submarinos desde que a empresa assumiu a divisão naval em 2014. Micael Johansson, CEO da companhia, classificou a decisão como “um avanço extraordinário” e ressaltou que a presença dos A26 operando tanto sob bandeira sueca quanto polonesa “muda o padrão de segurança no Báltico”.
A expectativa é que o contrato seja assinado até o segundo trimestre de 2026, com a primeira entrega planejada para 2030, prazo considerado realista pela Saab, mesmo com o histórico de atrasos do programa em território sueco.
Tecnologia para vencer no teatro mais sensível da Europa
Discreto, compacto e projetado para navegar onde outros submarinos simplesmente não conseguem operar, o A26 é fruto de décadas de experiência sueca no Báltico, um ambiente raso, de visibilidade limitada e que exige plataformas silenciosas para missões de longa duração.
Com 66 metros de comprimento e propulsionado por motores Stirling, tecnologia que dispensa entrada de ar e garante semanas de imersão sem revelar posição, o submarino é considerado um dos mais silenciosos do mundo na categoria convencional (não nuclear).
Seu elemento mais inovador é o portal multimissão: uma câmara de 1,5 metro que permite lançar drones submarinos, veículos autônomos e equipes de mergulhadores. Essa capacidade faz do A26 uma ferramenta valiosa para proteger cabos submarinos, oleodutos e outras infraestruturas críticas que hoje estão no centro das preocupações de segurança europeias.
A guerra no fundo do mar se tornou uma prioridade após os incidentes envolvendo danos suspeitos a infraestrutura submersa desde 2022. Mesmo sem conclusões formais sobre autoria, o tema acendeu o alerta na OTAN, e pressionou países como Polônia e Suécia a investirem em capacidades mais sofisticadas.
O A26 pode lançar torpedos, empregar minas e transportar forças especiais navais, mas não possui capacidade de lançamento de mísseis. Ainda assim, é considerado um multiplicador subaquático capaz de alterar o equilíbrio regional.
O novo tabuleiro estratégico do Báltico
A decisão polonesa ocorre em meio a uma reconfiguração acelerada da segurança no Norte da Europa. A entrada de Finlândia e Suécia na OTAN transformou o Mar Báltico em um “lago da Aliança”, aumentando a necessidade de coordenação entre os aliados que o cercam.
A região também se tornou palco de episódios que envolvem possíveis sabotagens e operações clandestinas nas profundezas, um domínio sensível, difícil de monitorar e que exige plataformas especializadas, como o A26.
Para a embaixadora da Suécia na Polônia, Martina Quick, o acordo simboliza uma Europa mais consciente da necessidade de assumir responsabilidade por sua própria defesa. Já o ministro sueco da Defesa, Pal Jonson, destacou que o novo arranjo cria “um sistema comum para operações subaquáticas”, ampliando a capacidade combinada sueco-polonesa e fortalecendo diretamente o flanco norte da OTAN.
Os submarinos incluirão componentes britânicos, adicionando o Reino Unido ao eixo estratégico que se forma entre Estocolmo e Varsóvia, uma triangulação que reforça o poder naval da Aliança em uma das áreas mais sensíveis do planeta.
A notícia impulsionou as ações da Saab, que registraram alta imediata após o anúncio. A empresa já havia firmado um memorando com o conglomerado polonês PGZ, reforçando a expectativa de que o acordo gere transferência de tecnologia e cooperação industrial de longo prazo.
Disputa acirrada e sinal político claro
A Polônia recebeu propostas de Alemanha, França, Itália, Espanha e Coreia do Sul, enquanto o Reino Unido manifestou apoio explícito à candidatura sueca. A escolha sueca não é apenas técnica: é também estratégica. Ela alinha Varsóvia ao bloco nórdico-báltico, onde a percepção de ameaça russa é mais intensa e a resposta é mais robusta.
Com o acordo, a Polônia avança mais um passo em sua ambição de se tornar uma potência militar regional, e reforça um recado que ecoa pelo Báltico: a OTAN está fortalecendo sua presença nas profundezas, onde a guerra moderna já começou.
GBN Defense - A informação começa aqui
com Reuters e SAAB




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