A decisão dos Estados Unidos de abandonar o programa de fragatas da classe Constellation após a construção de apenas dois exemplares marca uma guinada significativa na estratégia naval do país. Mais do que um simples ajuste orçamentário, a medida revela a pressão crescente sobre o Pentágono para responder a desafios urgentes, especialmente no Indo-Pacífico, onde a competição com a China exige rapidez, volume e flexibilidade.
O anúncio foi feito pelo Secretário da Marinha, John Phelan, que classificou a mudança como “estratégica”, enfatizando que as fragatas FFG-61 Constellation e FFG-62 Congress serão concluídas pela Fincantieri Marinette Marine. Segundo Phelan, isso garante a continuidade da força de trabalho no estaleiro, preservando competências críticas para futuros contratos da Marinha americana.
Contudo, o restante do programa que previa seis navios e poderia chegar futuramente a uma frota de 20 unidades, foi interrompido antes mesmo que as outras quatro embarcações saíssem do papel. O programa acumula mais de três anos de atraso, e os navios que deveriam ser entregues no próximo ano só estarão, na melhor das hipóteses, prontos para operar em 2029. Em um cenário geopolítico acelerado, esse cronograma se tornou inaceitável para o Pentágono.
A lógica por trás da decisão não é apenas operacional, mas estrutural. Washington quer navios mais baratos, de construção rápida e capazes de reforçar a presença naval em teatros onde a competição estratégica se intensifica. Trata-se de priorizar o ritmo da indústria e a capacidade de responder a crises emergentes, mesmo que isso signifique abandonar um projeto que no papel representava um salto tecnológico.
O redirecionamento dos recursos do programa Constellation para outras classes de navios indica que a Marinha dos EUA busca algo maior literalmente. A Casa Branca e o Departamento de Defesa avaliam uma nova geração de “navios de guerra” mais robustos, com maior blindagem e armamento projetado especificamente para o ambiente altamente contestado do Indo-Pacífico. A resposta à expansão naval chinesa, marcada por centenas de navios de superfície, porta-aviões e uma capacidade industrial incomparável, exige mudanças profundas.
Pete Hegseth, Secretário da Defesa, reforçou a nova filosofia: “A rapidez na entrega é agora o nosso princípio organizador.” A mensagem é clara: a vantagem estratégica depende menos de plataformas ideais e mais da capacidade de produzir e colocar meios no mar sem os atrasos que têm marcado quase todas as classes de navios da frota americana.
A decisão também expõe uma vulnerabilidade crítica: a crise nos estaleiros dos EUA. Phelan admitiu que a Marinha enfrenta atrasos generalizados em todos os tipos de embarcação. O caso das fragatas Constellation é apenas o mais recente sintoma de um problema estrutural que afeta produtividade, custos e previsibilidade.
No pano de fundo, a competição naval global está se reconfigurando. Enquanto os EUA enfrentam dificuldades para entregar navios dentro do cronograma, a China opera o maior conglomerado naval do mundo, capaz de lançar uma frota do tamanho da britânica inteira em poucos anos. O Indo-Pacífico, portanto, não permite luxos ou hesitações.
O cancelamento do programa Constellation não representa uma derrota, mas sim uma reorientação pragmática de prioridades. É um reconhecimento de que a supremacia naval americana, pilar da ordem internacional desde a Segunda Guerra, está sendo pressionada por uma potência que opera em ritmo industrial.
A mudança deixa claro que para Washington, o futuro da guerra no mar dependerá menos da perfeição e mais da velocidade, da escala e da capacidade de adaptação. É nesse tabuleiro que os EUA reposicionam suas peças, e o abandono das fragatas Constellation é apenas o primeiro movimento de uma transformação muito maior.
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