A poucos quilômetros da fronteira com a Rússia, a administradora Agnieszka Jedruszak, de 36 anos, empunha uma pá para abrir uma trincheira. Pintada com camuflagem e vestida de uniforme, ela não é militar de carreira, mas uma das mais de 20 mil pessoas que se inscreveram em treinamentos voluntários nos primeiros sete meses de 2025. Seu objetivo é claro: estar pronta para defender a família e o país em caso de conflito.
"Eu faria qualquer coisa para manter meu filho seguro. E eu definitivamente lutaria para protegê-lo", disse Jedruszak, mãe de um adolescente de 13 anos.
A disposição da população polonesa em se engajar no treinamento militar reflete a crescente apreensão diante da agressividade russa. Essa preocupação se intensificou após a derrubada de drones russos no espaço aéreo da Polônia nesta semana, o primeiro incidente conhecido em que um membro da OTAN disparou contra equipamento russo desde o início da guerra na Ucrânia.
Maior gasto militar da OTAN
Desde 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a Polônia mais que dobrou seus investimentos em defesa, elevando-os de 2,2% para 4,7% do PIB em 2025, o maior percentual entre os 32 países da OTAN. Atualmente, as Forças Armadas polonesas contam com 216 mil efetivos, número que coloca o país atrás apenas dos EUA e da Turquia em tamanho dentro da aliança.
O primeiro-ministro Donald Tusk, que viveu a juventude sob o regime comunista, tem sido uma das vozes mais firmes a cobrar maior protagonismo europeu na defesa do continente, sobretudo após a volta de Donald Trump à Casa Branca reacender dúvidas sobre a disposição dos EUA em defender aliados.
Escudo Oriental e modernização militar
Entre as medidas de reforço está a construção do “Escudo Oriental”, uma linha de 640 km de fortificações na fronteira com a Bielorrússia e o enclave russo de Kaliningrado, combinando barreiras antitanque, sistemas de vigilância e guerra eletrônica. Além disso, Varsóvia já recebeu parte dos 180 tanques sul-coreanos K-2 encomendados em 2022, incorporados ao treinamento em locais estratégicos como Braniewo.
A reorganização das forças armadas busca maior mobilidade, fortalecimento da defesa aérea, expansão da capacidade blindada e incremento das operações logísticas. Ao mesmo tempo, a estratégia de deslocar unidades para o leste aproveita o engajamento das comunidades locais e gera empregos em regiões historicamente afetadas pelo desemprego.
Reservas e voluntariado como diferencial
Os programas de treinamento permitem flexibilidade: o voluntário pode seguir carreira profissional no Exército, integrar a Força de Defesa Territorial (WOT), de atuação regional e mobilização parcial, ou permanecer na reserva ativa ou passiva. Esse modelo escalável já é utilizado em países como Lituânia e Alemanha, permitindo ampliar rapidamente o contingente em caso de necessidade.
O desafio europeu
Enquanto a Polônia e países do leste europeu, como Finlândia e Estados bálticos, ampliam suas fileiras, potências tradicionais da OTAN enfrentam dificuldades. A Alemanha, por exemplo, mantém 180 mil militares ativos, abaixo das metas, e o Reino Unido sofre com baixos índices de alistamento e retenção, contando hoje com o menor efetivo em três séculos.
Preparação para o futuro
O governo polonês lançou um programa que prevê treinar 100 mil voluntários até 2027, mirando um horizonte estratégico que coincide com avaliações da OTAN sobre o tempo que a Rússia precisará para estar pronta para um eventual confronto direto com o Ocidente.
“Estamos prontos para enfrentar o tipo de ameaça que é real hoje. E estamos nos preparando para a ameaça que será real amanhã”, disse o vice-ministro da Defesa, Pawel Zalewski.
Com trincheiras abertas por civis e tanques K-2 em campo de treinamento, a Polônia se firma como linha de frente da OTAN na Europa, transformando o medo em mobilização e enviando uma mensagem clara: o país está disposto a pagar o preço da defesa de sua soberania.
GBN Defense - A informação começa aqui
com Reuters
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