Na madrugada de 1º de setembro de 1939, o silêncio na fronteira oriental da Alemanha foi rompido por bombardeios e disparos de artilharia. Às 4h45 da manhã, tropas alemãs cruzavam o território polonês em diversos pontos, marcando o início de uma ofensiva planejada minuciosamente e que ficaria conhecida pela sua rapidez e brutalidade: a Blitzkrieg, ou “guerra-relâmpago”. Era o estopim da Segunda Guerra Mundial.
A operação, batizada de Fall Weiss (“Caso Branco”), previa três frentes de ataque pelo norte, a partir da Prússia Oriental; pelo oeste, cruzando a fronteira direta; e pelo sul, através da Eslováquia, recém-transformada em Estado-satélite do Reich. O objetivo era claro: cercar e neutralizar as forças polonesas, conquistando a capital Varsóvia em questão de dias.
O ataque não foi precedido por declaração de guerra formal. Para justificar a agressão, o regime nazista havia encenado um episódio conhecido como Incidente de Gleiwitz: na noite de 31 de agosto, agentes da SS vestidos como poloneses simularam um ataque a uma estação de rádio alemã, transmitindo uma falsa mensagem anti-alemã. Com esse teatro, Adolf Hitler tentou legitimar perante sua população a invasão que já estava decidida.
Naquele 1º de setembro, as primeiras bombas caíram sobre a cidade de Wieluń, arrasando hospitais e áreas civis, em um ato simbólico do terror aéreo que caracterizaria a guerra. Ao mesmo tempo, o encouraçado alemão Schleswig-Holstein abriu fogo contra o depósito militar polonês de Westerplatte, em Danzig (atual Gdańsk). O ataque a Westerplatte se transformaria em símbolo da resistência polonesa, que resistiu heroicamente por sete dias contra forças muito superiores.
Apesar da coragem das tropas polonesas, a disparidade era esmagadora. O exército alemão, com tanques modernos, aeronaves de apoio e táticas combinadas, encontrou pouca dificuldade para avançar. A Polônia, por sua vez, contava com equipamentos em grande parte ultrapassados, muitos ainda herdados da Primeira Guerra Mundial.
A reação internacional foi rápida, mas não suficiente para deter o avanço inicial alemão. Em 3 de setembro, dois dias após o início da invasão, Reino Unido e França declararam guerra à Alemanha, cumprindo suas garantias de defesa à Polônia. Contudo, a ajuda prática demoraria a chegar, e os poloneses ficaram sozinhos no campo de batalha.
Enquanto isso, no leste europeu, outra ameaça se preparava. Conforme os termos secretos do Pacto Molotov-Ribbentrop, assinado semanas antes entre Alemanha e União Soviética, a Polônia estava destinada a ser dividida. No dia 17 de setembro, tropas soviéticas atravessariam a fronteira pelo leste, selando o destino do país.
O 1º de setembro de 1939 não foi apenas o início de uma invasão: foi o marco do maior conflito da história da humanidade. Em poucas semanas, a Polônia seria derrotada e ocupada, sua elite perseguida e seu povo submetido a anos de violência e repressão sob dois regimes totalitários.
A ofensiva alemã contra a Polônia não foi apenas o primeiro ato da Segunda Guerra Mundial; representou também a aplicação de uma estratégia militar inovadora e o resultado de uma manobra diplomática calculada por Hitler para redesenhar o equilíbrio de poder na Europa.
No campo militar, a Wehrmacht estreava de forma contundente a chamada Blitzkrieg, ou “guerra-relâmpago”. Essa doutrina, ainda em gestação, consistia na combinação de forças blindadas, infantaria motorizada e apoio aéreo em ataques rápidos e coordenados, visando romper as linhas inimigas e desorganizar completamente o comando adversário. Executada através do Plano Fall Weiss, a ofensiva se deu em três frentes simultâneas, norte, oeste e sul, cercando as tropas polonesas e abrindo caminho para Varsóvia em poucas semanas.
A Luftwaffe desempenhou papel crucial nesse processo. Seus bombardeiros não se limitaram a alvos militares: a destruição de infraestrutura, centros urbanos e linhas de comunicação tinha como objetivo quebrar a capacidade de resistência e semear o pânico entre civis. O bombardeio de Wieluń, ainda no primeiro dia, simbolizou o novo tipo de guerra que se desenhava: rápida, devastadora e sem distinção entre frente de batalha e retaguarda civil.
Em contrapartida, a Polônia mostrava-se mal preparada para enfrentar esse tipo de guerra. Embora tivesse um exército numeroso, suas forças estavam equipadas de forma desigual e ainda baseadas em doutrinas ultrapassadas, como a cavalaria tradicional.
Um episódio emblemático desse contraste ocorreu logo no primeiro dia da invasão, durante a Batalha de Krojanty. O 18º Regimento de Ulanos poloneses lançou uma carga de cavalaria contra a infantaria alemã nas proximidades de Chojnice, conseguindo inicialmente surpreender o inimigo. Porém, a chegada de blindados e veículos mecanizados rapidamente inverteu o resultado, impondo pesadas baixas aos poloneses. Embora a propaganda nazista tenha explorado o fato para insinuar que a Polônia teria atacado tanques com lanças e sabres, o episódio real ilustra o enorme descompasso entre as forças: um exército ainda preso a tradições do passado enfrentando a guerra mecanizada do futuro.
Por trás dessa operação militar bem-sucedida estava também um cenário geopolítico manipulado habilmente por Hitler. O passo decisivo foi dado em agosto de 1939, com a assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop. Publicamente um tratado de não-agressão, o acordo continha cláusulas secretas que previam a divisão da Polônia entre Alemanha e União Soviética. Assim, Hitler neutralizou o risco de uma guerra em duas frentes, erro fatal cometido pelo Império Alemão em 1914, e garantiu liberdade de ação contra Varsóvia.
A reação internacional revelou as fragilidades das alianças. Dois dias após a invasão, Reino Unido e França declararam guerra à Alemanha, cumprindo seus compromissos com a Polônia. No entanto, a esperada ofensiva ocidental não ocorreu. Instalou-se a chamada “Guerra de Mentira”, em que tropas francesas e britânicas permaneceram praticamente inativas até a ofensiva alemã em 1940. A Polônia, portanto, enfrentou sozinha a máquina de guerra nazista, até que, em 17 de setembro, foi surpreendida pela invasão soviética a leste, selando sua derrota.
Esse movimento conjunto de Berlim e Moscou não apenas dividiu a Polônia, mas demonstrou que alianças entre regimes ideologicamente opostos eram possíveis diante de interesses estratégicos comuns. Ao mesmo tempo, expôs a limitação prática das garantias ocidentais, que embora representassem um gesto político, não foram capazes de alterar o destino imediato do país.
A campanha polonesa consolidou a confiança alemã em sua nova doutrina militar e estabeleceu um padrão de guerra que se repetiria nos anos seguintes, em países como Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica e França. Também inaugurou uma nova etapa da política internacional: marcada por pactos secretos, ofensivas rápidas e pela incapacidade das potências tradicionais de deter a escalada nazista.
O dia 1º de setembro de 1939, portanto, não apenas marcou o início de um conflito devastador, mas também redefiniu a forma de se fazer guerra e abriu um ciclo de instabilidade geopolítica que moldaria todo o século XX.
por Angelo Nicolaci
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