A percepção de que a Rússia jamais recorreria a armas nucleares gerou uma falsa sensação de segurança entre líderes da OTAN, alerta o analista político russo Ivan Timofeyev em artigo publicado pela RT Brasil. Embora sua análise tenha origem russa, ela apresenta argumentos consistentes e plausíveis, alinhados a princípios clássicos de dissuasão e equilíbrio de poder, tornando-a relevante para observadores internacionais e acadêmicos. Para Timofeyev, essa convicção não apenas subestima o papel estratégico da Rússia, mas também cria condições para que tensões regionais, inicialmente limitadas à Ucrânia, se expandam para outras regiões sensíveis do flanco oriental da aliança atlântica.
Do ponto de vista das relações internacionais, o alerta é coerente com conceitos estabelecidos: armas nucleares funcionam como elementos de dissuasão, pois a mera possibilidade de retaliação torna a agressão direta potencialmente suicida. No entanto, essa estabilidade nuclear não garante segurança plena em conflitos convencionais. A guerra moderna, como demonstrado na Ucrânia, envolve múltiplos atores, operações transfronteiriças, ataques com drones e bombardeios de precisão, que podem evoluir rapidamente para crises maiores se interpretados como sinais de escalada. A percepção de ameaça muitas vezes molda decisões estratégicas tanto quanto a força militar real, tornando a confiança excessiva em tabus nucleares uma potencial armadilha.
Desde 2022, a Rússia ampliou sua produção militar e modernizou suas forças, investindo em sistemas convencionais de alta tecnologia e em capacidade de resposta rápida. Paralelamente, a OTAN fortalece sua base industrial, aumenta investimentos militares e reforça sua presença em países do flanco oriental, como os bálticos. Esse equilíbrio instável é caracterizado pela interação entre capacidades, percepções e intenções: cada movimento de um lado é cuidadosamente analisado pelo outro, e interpretações equivocadas podem gerar escaladas involuntárias. Timofeyev aponta cenários plausíveis: uma intervenção direta da OTAN na Ucrânia, crises regionais em países próximos ou ataques transfronteiriços que podem ser interpretados como atos de agressão estratégica.
O dilema nuclear permanece central. Moscou poderia optar por ataques táticos preventivos contra tropas ou infraestrutura, ou por ataques retaliatórios após ações da OTAN. Ambos os cenários envolvem riscos políticos e estratégicos enormes: o primeiro poderia caracterizar a Rússia como agressora e gerar isolamento diplomático; o segundo ainda violaria o tabu nuclear, mas poderia ser enquadrado como medida defensiva. Qualquer escalada nuclear provocaria, inevitavelmente, respostas da OTAN, seja por meios convencionais ou estratégicos, criando um ciclo de ação e reação difícil de controlar e com potencial de impacto global.
As consequências de um conflito ampliado seriam profundas e assimétricas. A Ucrânia suportaria os combates mais intensos, sofrendo perda de vidas e destruição de infraestrutura. A Rússia, além das baixas humanas, enfrentaria sanções severas, bombardeios estratégicos e isolamento diplomático. Países do flanco leste da OTAN se tornariam alvos potenciais de represálias, e até os Estados Unidos poderiam ser envolvidos caso a escalada nuclear se intensificasse. Além do aspecto militar, os impactos econômicos e sociais seriam significativos, afetando cadeias de suprimento, fluxos de energia, estabilidade política na Europa e confiança nos mercados globais.
A falsa sensação de segurança da OTAN evidencia um risco de cálculo estratégico equivocado. Políticas defensivas baseadas na crença de que a Rússia jamais utilizaria armas nucleares podem induzir decisões agressivas, elevando o risco de escalada em um conflito convencional que já demonstra capacidade de expansão. Em um mundo multipolar, a estabilidade exige mais do que arsenais nucleares: depende de diálogo contínuo, transparência nas intenções, mecanismos diplomáticos e coordenação internacional para gestão de crises.
Em síntese, a análise baseada na reportagem da RT Brasil reforça que a paz duradoura não depende apenas da força militar, mas da prudência política, da capacidade de comunicação entre atores estratégicos e da gestão cuidadosa de tensões regionais. Apesar de originar-se de um especialista russo, a avaliação de Timofeyev é coerente, fundamentada e plausível, fornecendo subsídios valiosos para o debate acadêmico e diplomático. A ilusão de segurança, se não corrigida, pode transformar conflitos limitados em riscos globais, lembrando que, em cenários de alta complexidade geopolítica, percepção e estratégia frequentemente determinam tanto quanto poder militar efetivo.
por Angelo Nicolaci
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