A Índia comunicou oficialmente aos Estados Unidos que não tem interesse em adquirir o caça furtivo F-35, aeronave de quinta geração considerada um dos principais símbolos da superioridade aérea americana. Segundo informações divulgadas pela agência Bloomberg, o governo do primeiro-ministro Narendra Modi reforçou às autoridades de Washington que sua prioridade é o fortalecimento da indústria nacional de defesa, com foco em projetos que incluam transferência de tecnologia e produção local.
Essa decisão marca um novo capítulo na política de defesa indiana, cada vez mais alinhada à iniciativa “Make in India”, que visa reduzir a dependência externa em setores estratégicos. Uma autoridade ouvida pela Bloomberg foi clara ao afirmar: “O governo está mais interessado em uma parceria focada no projeto e na fabricação conjunta de equipamentos de defesa no mercado interno”.
Foco na produção nacional
A recusa ao F-35 se insere em um contexto mais amplo de redefinição das prioridades indianas, mesmo diante de insistentes tentativas dos EUA de estreitar os laços militares e industriais com o país asiático. Para Nova Déli, o simples acesso à tecnologia de ponta não basta se não houver ganhos concretos na capacitação da indústria de defesa local. É justamente essa lacuna que a proposta russa vem tentando preencher.
Nas últimas semanas, a Rússia apresentou à Índia um ambicioso pacote que inclui o fornecimento do caça de quinta geração Su-57E e do caça multifuncional Su-35M. A proposta, liderada pela estatal Rostec e pela fabricante Sukhoi, inclui a montagem local das aeronaves na fábrica da Hindustan Aeronautics Limited (HAL) em Nashik, a mesma que já produziu mais de 220 caças Su-30MKI.
Um dos pontos mais atrativos do acordo russo é a promessa de transferência completa de tecnologia para o Su-57E, algo inédito para um caça furtivo dessa categoria. Estima-se que até 60% dos componentes da aeronave possam ser produzidos localmente, permitindo à Índia integrar sistemas nacionais, como o míssil ar-ar Astra, os mísseis antirradares Rudram e o radar AESA Virupaksha.
Com isso, o país asiático busca superar o conhecido “dilema tecnológico”: abrir mão de adquirir diretamente o mais avançado sistema disponível (como o F-35), em troca de um equipamento levemente inferior, mas que trará ganhos estratégicos de longo prazo por meio da nacionalização da produção.
Entregas e cronograma
Fontes próximas às negociações indicam que a proposta prevê a entrega inicial de 20 a 30 unidades do Su-57E em um prazo de três a quatro anos, seguida da produção em larga escala em território indiano. Ao todo, entre 70 e 100 aeronaves poderão ser entregues até o início da década de 2030.
Em paralelo, a oferta do Su-35M serviria como solução imediata para complementar os esquadrões da Força Aérea Indiana, que enfrentam defasagem de aeronaves operacionais. A similaridade de 80% entre o Su-35M e o Su-30MKI, atualmente em uso pela Índia, facilitaria a adoção logística e o treinamento de pessoal, reduzindo custos e acelerando a integração.
Outro ponto sensível abordado pela proposta russa é a questão das sanções internacionais. A fabricação local dos caças reduziria os impactos das restrições impostas a Moscou por países ocidentais, permitindo à Índia manter sua cadeia de suprimentos independente e estável.
Autoridades russas garantem que o acordo foi estruturado de forma a proteger a produção e manutenção das aeronaves dos efeitos negativos das sanções.
Desafios do Su-57
Apesar do interesse indiano, o programa Su-57 ainda carrega algumas incertezas. Iniciado em 2002, o caça enfrentou atrasos significativos e problemas técnicos. O primeiro exemplar de produção em massa, entregue em 2019, caiu antes mesmo de ser incorporado às forças russas. O principal obstáculo até então era o desempenho do motor Saturn AL-41F.
A Rússia afirma ter solucionado o impasse com o desenvolvimento do novo motor Saturn Izdeliye 30, projetado especificamente para o Su-57, oferecendo melhor empuxo e confiabilidade. Ainda assim, a produção da aeronave avança lentamente: das 72 unidades contratadas pelas forças russas até 2027, pouco mais de 20 foram entregues, e o cumprimento do cronograma é considerado improvável.
Escolha estratégica
Ao recusar o F-35 e priorizar a nacionalização do Su-57, a Índia dá um passo firme rumo à autonomia estratégica, mesmo que isso implique abrir mão, momentaneamente, de contar com o mais avançado caça da atualidade. Para o governo Modi, o fortalecimento da base industrial de defesa e a soberania tecnológica parecem pesar mais que o prestígio de integrar o seleto clube dos operadores do F-35.
Essa decisão pode redesenhar o equilíbrio geopolítico da região asiática, aprofundando os laços com Moscou e colocando a Índia em um caminho mais assertivo na busca por autossuficiência militar.
GBN Defense - A informação começa aqui
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