quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Exército apoia transporte de gerador para Centro de Saúde Indígena Yanomami em Surucucu

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O Comando Operacional Conjunto Catrimani II realizou, em 26 de agosto, o transporte de um gerador de 830 quilos que integrará o sistema de energia elétrica do novo Centro de Referência de Saúde Indígena em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima. A construção da unidade faz parte do esforço do Governo Federal, por meio da Casa de Governo em Roraima, para ampliar a assistência médica aos povos indígenas da região.

A operação logística foi dividida em duas etapas. Inicialmente, o gerador seguiu por via terrestre de Boa Vista até Alto Alegre, em um percurso de 112 quilômetros. A partir dali, o equipamento foi içado e transportado por um helicóptero Black Hawk H-60 da Força Aérea Brasileira, em manobra conduzida com o apoio de uma equipe do Exército Brasileiro especializada em transporte de carga externa, percorrendo 224 quilômetros até Surucucu.

Para o engenheiro eletricista Ângelo Brito, do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, o suporte das Forças Armadas foi indispensável. “O sistema tem duas formas de energia, a fotovoltaica e o gerador. Isso dá mais robustez ao sistema. O acesso aqui é complexo. Não temos capacidade de transportar esse equipamento em nossos voos. Esse apoio é primordial para a execução desse trabalho”, destacou.

Os profissionais de saúde que já atuam no atendimento provisório ressaltam que o gerador garantirá maior segurança nas operações, especialmente para estabilizar pacientes em estado grave durante resgates aeromédicos. “Não podemos ficar à mercê se faltar energia, porque isso pode prejudicar os aparelhos. O sentimento é de gratidão por todo mundo envolvido nesse projeto, porque sabemos da importância de cada setor estar integrado em prol de um único objetivo: proporcionar saúde para esse povo”, afirmou Flávia Thays de Moura Silva, gestora do polo do DSEI em Surucucu.

O transporte do gerador evidencia os desafios logísticos da região, marcada pela ausência de estradas, pistas de pouso limitadas e rios que não permitem a passagem de embarcações de grande porte. Nesse cenário, os meios empregados pelas Forças Armadas são essenciais tanto para apoiar ações de saúde quanto para reforçar a repressão ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

A entrega do gerador integra a Operação Catrimani II, ação conjunta das Forças Armadas, órgãos de Segurança Pública e agências governamentais, coordenada pela Casa de Governo em Roraima. Prevista pela Portaria GM-MD nº 5.831, de 20 de dezembro de 2024, a operação atua de forma preventiva e repressiva contra o garimpo ilegal e outros ilícitos na região, ao mesmo tempo em que apoia a assistência às comunidades indígenas.


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com Exército Brasileiro



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Novo míssil Nimbrix da Saab mira ameaça de drones

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A Saab revelou oficialmente o Nimbrix, seu primeiro míssil dedicado ao combate de Sistemas Aéreos Não Tripulados (C-UAS). A novidade chega em um momento em que os drones se consolidam como uma das principais ameaças no cenário de guerra moderno, tanto em operações de reconhecimento quanto em ataques coordenados em enxame.

Projetado como um míssil do tipo “dispare e esqueça”, o Nimbrix foi desenvolvido para oferecer uma resposta ágil e de baixo custo contra aeronaves não tripuladas de pequeno porte. Com alcance de até 5 quilômetros, o sistema conta com buscador ativo para rastrear o alvo, ogiva de destruição rápida e modo de rajada aérea, capaz de neutralizar múltiplos drones em uma mesma ação. Segundo a fabricante, a prioridade foi combinar eficiência operacional e economia, fatores essenciais diante da crescente proliferação de UAS nos conflitos atuais.

“O Nimbrix é a nossa resposta às ameaças aéreas não tripuladas que aumentaram nos últimos anos. É econômico, o que é crucial dada a proliferação de UAS no campo de batalha. O Nimbrix se beneficia da nossa longa experiência em defesa aérea, juntamente com uma forma ágil de responder a novas necessidades”, afirmou Stefan Öberg, chefe da unidade de negócios de Sistemas de Mísseis da Saab.

Versátil em sua aplicação, o míssil pode ser utilizado como sistema terrestre independente ou integrado a arquiteturas maiores de defesa aérea. A Saab destaca ainda que o Nimbrix possui opções de montagem flexíveis, permitindo sua instalação em diferentes tipos de veículos ou em plataformas fixas, ampliando as possibilidades de adaptação a cenários variados de combate. Essa flexibilidade, combinada ao baixo custo, possibilita a implantação de um número maior de unidades, aumentando a cobertura contra ameaças aéreas.

As primeiras entregas do Nimbrix estão previstas para 2026, e as conversas com potenciais clientes já estão em andamento. A estreia oficial para o público internacional ocorrerá durante a DSEI 2025, em Londres, entre os dias 9 e 12 de setembro, no estande da Saab (N9-105).

Com o lançamento do Nimbrix, a Saab reforça sua posição no mercado de soluções contra drones, um segmento que cresce em ritmo acelerado diante da urgência em lidar com a presença cada vez mais dominante dessas plataformas no campo de batalha contemporâneo.


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com SAAB

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IACIT reforça rede meteorológica do Brasil com radar de longo alcance em Rio Branco

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A IACIT concluiu neste mês os Testes de Aceitação em Campo (SAT) do radar meteorológico RMT 0200 instalado em Rio Branco, no Acre. O equipamento já está em operação e integra o contrato firmado em 2023 com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), por meio da CISCEA (Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo), que prevê a entrega de cinco radares de longo alcance para reforçar a rede nacional.

Com a ativação na capital acreana, dois dos cinco sistemas contratados já estão em funcionamento, o primeiro foi entregue em Belém (PA). Os próximos serão instalados em Cachimbo (PA), Chapada dos Guimarães (MT) e Vilhena (RO), ampliando a cobertura especialmente sobre a região amazônica, onde as condições climáticas representam desafios constantes para a aviação civil e militar.

O RMT 0200 opera na banda S e possui alcance de 400 quilômetros, permitindo monitorar desde formações leves de névoa até tempestades severas. Submetido a rigorosos testes técnicos, o radar comprovou sua confiabilidade e será integrado ao SISMET (Sistema de Meteorologia), plataforma digital operada pelo DECEA por meio do CIMAER (Centro Integrado de Meteorologia Aeronáutica). Com isso, passará a compor o mosaico da rede de radares meteorológicos do Brasil, contribuindo diretamente para ações preventivas, decisões operacionais e planejamento de missões aéreas em condições adversas.

Para o coordenador de Radar da CISCEA, Leonardo Paiva, a nova aquisição representa um avanço significativo para o país. “O objetivo dessa aquisição é compor o mosaico da rede de radares meteorológicos. Com alcance de 400 km, o RMT 0200 amplia a cobertura do DECEA. Além da economia de energia proporcionada pela tecnologia em estado sólido, há ganhos de segurança, uma vez que ele não lida com alta tensão e confiabilidade para o mantenedor e para a navegação aérea, especialmente na região amazônica”, destacou.

Na avaliação de Luiz Teixeira, CEO da IACIT, a entrega simboliza também a consolidação do domínio tecnológico nacional. “O radar RMT 0200 é um grande avanço para o Brasil. É uma tecnologia moderna, dominada por poucos países, e que coloca a IACIT entre as líderes mundiais em dados meteorológicos por radar. Para nós, é motivo de orgulho contribuir com os esforços da Força Aérea Brasileira no fortalecimento da segurança dos céus do país e na busca pela autonomia tecnológica nos setores de defesa e meteorologia”, afirmou.

O investimento ocorre em um momento crítico, em que os efeitos das mudanças climáticas vêm impactando cada vez mais a rotina nacional. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Brasil registrou mais de 1.500 ocorrências de desastres naturais em 2024, grande parte deles relacionados às chuvas intensas. Nesse contexto, radares de longo alcance como o RMT 0200 tornam-se ferramentas indispensáveis não apenas para a gestão do tráfego aéreo, mas também para a defesa civil e resposta a emergências.

Além das aplicações aeronáuticas e militares, o RMT 0200 pode ser integrado a centros de controle de emergências e Defesa Civil, fornecendo informações de alta resolução que apoiam decisões rápidas em situações críticas. O sistema, acessível por meio de plataforma web, permite o compartilhamento de dados em tempo real com diferentes instituições, fortalecendo a capacidade nacional de monitoramento meteorológico e ampliando a segurança em todo o território.


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com Rossi Comunicação


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OTAN: todos os membros atingem meta de 2% do PIB em defesa, mas apenas três superam novo patamar de gastos

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Pela primeira vez desde que a meta foi estabelecida em 2014, todos os 32 membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atingiram o patamar mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela própria aliança. O marco representa uma mudança significativa no esforço coletivo dos países membros, impulsionada principalmente pela invasão russa da Ucrânia em 2022 e pela crescente pressão dos Estados Unidos para que os aliados europeus assumam maior responsabilidade por sua própria segurança.

Apesar do avanço histórico, apenas três países ultrapassaram a nova meta de 3,5% do PIB, definida pelos líderes da OTAN em cúpula realizada em Haia, em junho deste ano. A Polônia lidera os investimentos militares, destinando 4,48% do PIB à defesa, seguida pela Lituânia, com 4%, e pela Letônia, com 3,73%. Esses números colocam os três países do leste europeu em posição de destaque dentro da aliança, refletindo a preocupação estratégica com o flanco oriental, diretamente exposto à pressão russa. Em contraste, muitos aliados ficaram apenas marginalmente acima dos 2%, revelando que, embora o compromisso mínimo tenha sido cumprido, o desafio de avançar para níveis mais ambiciosos ainda persiste.

O compromisso firmado em Haia prevê que até 2035 todos os membros da OTAN deverão alcançar 3,5% do PIB em defesa, dentro de uma meta mais ampla de chegar a 5% em investimentos relacionados à segurança. Esse cálculo inclui não apenas a manutenção e expansão das Forças Armadas, mas também áreas críticas como segurança cibernética, resiliência de infraestrutura e modernização de portos e rodovias capazes de suportar equipamentos militares pesados. Em outras palavras, trata-se de um esforço que vai além da compra de armamentos e se conecta diretamente à capacidade de resposta integrada em um cenário de guerra moderna, em que logística, tecnologia e proteção de redes digitais têm peso estratégico.

Durante a inauguração de uma fábrica de munições da empresa alemã Rheinmetall, na cidade de Unterluess, o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, destacou os avanços, mas alertou que números, por si só, não garantem a segurança coletiva. “Dinheiro por si só não garante segurança. A dissuasão não vem de 5%. A dissuasão vem da capacidade de combater inimigos em potencial”, afirmou. A declaração reforça a necessidade de transformar o aumento dos orçamentos em capacidades militares reais, evitando que os recursos adicionais se percam em burocracia ou investimentos de pouco efeito prático.

O cumprimento universal da meta de 2% em 2025 simboliza uma mudança estrutural na postura de defesa da aliança. É, ao mesmo tempo, reflexo do impacto geopolítico da guerra na Ucrânia e da necessidade de reposicionamento estratégico da Europa, que busca reduzir sua dependência dos Estados Unidos e fortalecer sua própria capacidade de dissuasão. No entanto, o verdadeiro desafio estará em manter a coerência desse esforço a longo prazo, garantindo que os gastos extras se traduzam em modernização efetiva das forças armadas e em uma preparação consistente para os cenários de segurança que moldarão o futuro da OTAN.


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com Reuters



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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Análise - "O Brasil está pronto para a guerra que já começou?"

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A guerra do século XXI não se parece com nada que o Brasil ou o mundo já viveram. Não se decide apenas em campos abertos, mares ou céus, mas em redes de dados, algoritmos e microchips. Drones patrulham fronteiras, observam cidades, monitoram o mar e podem atacar de forma quase invisível. Algoritmos de inteligência artificial analisam imagens de satélite, rastreiam padrões, preveem movimentos inimigos e, em alguns casos, decidem o momento exato de agir sem qualquer intervenção humana. A Pergunta então é: "O Brasil está preparado para esse novo tipo de guerra?".

A resposta é dura e direta: não estamos, e a realidade é mais grave do que a maioria imagina. O país possui talento e infraestrutura em alguns setores estratégicos, mas ainda de forma fragmentada. Temos universidades de excelência produzindo pesquisa avançada em IA, empresas como a Embraer trabalhando com aeronaves não tripuladas, e programas da Marinha e do Exército em sistemas de defesa integrados. No entanto, grande parte dos componentes essenciais, como chips, sensores, softwares de comando e controle, continua importada. Essa dependência não é apenas uma vulnerabilidade econômica, é uma fragilidade estratégica que pode comprometer a capacidade de defesa em um conflito futuro.

O exemplo internacional é claro. A guerra na Ucrânia evidenciou que enxames de drones baratos podem neutralizar blindados e artilharia pesada em minutos, alterando completamente a dinâmica de batalha. No Oriente Médio, grupos não estatais já utilizam drones e inteligência artificial com eficiência estratégica, desafiando países com recursos militares superiores. A lição é cristalina, no século XXI, a força não está apenas no tamanho ou custo do equipamento, mas na capacidade de dominar tecnologias e informação.

A inteligência artificial é o diferencial que torna essa guerra invisível ainda mais decisiva. Algoritmos podem processar enormes volumes de dados em segundos, identificar padrões que o olho humano não percebe, e coordenar ataques com precisão cirúrgica. Conceitos como o “manned-unmanned teaming”, nos quais aeronaves tripuladas controlam enxames de drones, exemplificam como a integração entre humanos e máquinas redefine o campo de batalha. Quem ficar para trás nesse desenvolvimento não apenas perde vantagem em defesa, mas perde autonomia estratégica, tornando-se refém das decisões de outros países que controlam essas tecnologias.

Historicamente, o Brasil já enfrentou o preço da falta de antecipação tecnológica. Durante a revolução industrial e nas décadas seguintes, a dependência de importações limitou nosso crescimento econômico e a capacidade de influenciar eventos internacionais. Hoje, o risco é mais urgente e potencialmente mais grave, a soberania brasileira está em jogo. Países que não controlam suas próprias tecnologias críticas, como drones, IA e semicondutores, correm o risco de ver sua capacidade de decisão limitada, seja por sanções, bloqueios ou pela simples falta de infraestrutura. A guerra do futuro não espera que ninguém se atualize, ela avança na velocidade da inovação.

O Brasil possui oportunidades claras de mudança. A integração entre governo, indústria e academia poderia criar um ecossistema nacional de defesa tecnológica, capaz de produzir drones, softwares autônomos e sistemas de comando e controle próprios. Programas estratégicos, como o PESE da Força Aérea e a Marinha do Brasil, e iniciativas da Embraer em aeronaves remotamente pilotadas, são exemplos de que o país pode avançar. No entanto, sem uma política de Estado que defina prioridades, financie projetos de longo prazo e coordene esforços, esses avanços continuam fragmentados e insuficientes para enfrentar os desafios de soberania do século XXI.

O alerta é urgente, não se trata apenas de modernização militar, mas de sobrevivência estratégica. Um país que não controla seus algoritmos e sistemas autônomos não tem soberania real. Depender de tecnologias estrangeiras em um mundo em que decisões de guerra podem ser tomadas por máquinas é um risco inaceitável. Cada mês perdido aumenta a distância para países que já estão moldando as regras dessa nova era, enquanto o Brasil permanece como espectador.

O futuro da defesa nacional não será definido em bases militares tradicionais. Será decidido em laboratórios, linhas de produção de semicondutores, centros de pesquisa em inteligência artificial e softwares de comando. O Brasil tem o talento, os recursos humanos e o potencial industrial para ser protagonista, mas precisa agir agora. Investir em IA, drones e autonomia tecnológica não é uma questão de luxo ou modernidade, é uma questão de soberania, segurança e capacidade de decisão independente.

Quando perguntamos se o Brasil está preparado para a guerra dos drones e da inteligência artificial, a resposta é inequívoca: não, ainda não estamos. Mas podemos mudar esse destino, desde que haja visão estratégica, investimentos consistentes e, principalmente, decisão política. A guerra do futuro já começou, e o tempo para reagir é agora. Cada atraso é uma vulnerabilidade; cada escolha acertada é uma oportunidade de garantir que o Brasil continue sendo um país que decide seu próprio destino e não apenas reage às decisões dos outros.


por Angelo Nicolaci


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A Nova Guerra Fria Tecnológica: Chips, Drones e Inteligência Artificial

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A geopolítica mundial está entrando em uma nova era de disputas estratégicas. Se no século XX a Guerra Fria foi marcada pela corrida armamentista, pela ameaça nuclear e pelo equilíbrio de poder entre blocos militares, hoje a rivalidade entre potências assume outra dimensão. A corrida não se dá apenas pela quantidade de tanques, submarinos ou ogivas, mas pela capacidade de controlar tecnologias de ponta que moldam não apenas a guerra, mas também a economia global. O tabuleiro central dessa disputa é formado pelos chips semicondutores, pelos sistemas de drones e pela inteligência artificial, elementos que juntos estão redefinindo o que significa ter poder no século XXI.

Os chips em particular, são o coração invisível de praticamente toda a infraestrutura moderna de defesa. Sem eles não há radares, satélites, comunicações seguras, sistemas de navegação ou armamentos inteligentes. A maior parte da produção global de semicondutores avançados está concentrada em Taiwan, transformando a ilha em ponto de tensão estratégica entre China e Estados Unidos. Washington busca limitar o acesso chinês a tecnologias de ponta por meio de sanções, ao mesmo tempo em que reforça a importância da TSMC, maior fabricante mundial de semicondutores, para o equilíbrio global. Pequim, por sua vez, investe pesadamente para desenvolver sua própria capacidade produtiva, ciente de que a dependência externa é um risco inaceitável em tempos de rivalidade crescente. Assim como no passado se falava em “petróleo como motor da geopolítica”, hoje os semicondutores ocupam esse lugar central, funcionando como combustível essencial para a soberania tecnológica e militar.

Paralelamente, a guerra da Ucrânia revelou o impacto de outra revolução: a dos drones. O que antes era visto como ferramenta auxiliar de vigilância rapidamente se transformou em uma arma estratégica de baixo custo e alto impacto. Pequenos drones, muitas vezes comerciais adaptados com explosivos improvisados, passaram a destruir blindados, posições de artilharia e até infraestruturas críticas, demonstrando que sistemas de milhões de dólares podem ser neutralizados por equipamentos que custam algumas centenas. Essa assimetria alterou a lógica do campo de batalha e inspirou novos conceitos, como o uso de enxames autônomos capazes de saturar defesas aéreas de forma massiva. No Oriente Médio, drones iranianos já são utilizados em larga escala, mudando o equilíbrio de forças regionais e obrigando potências ocidentais a adaptarem suas doutrinas defensivas. A lição é clara: no futuro próximo, nenhuma força armada poderá ignorar a ameaça ou o potencial transformador dessas plataformas.

A terceira peça desse novo xadrez estratégico é a inteligência artificial. A IA deixou de ser uma promessa futurista para se tornar presença concreta em diversos sistemas militares. Hoje, algoritmos são utilizados para interpretar imagens de satélite, prever deslocamentos inimigos e apoiar a tomada de decisões em tempo real. Os Estados Unidos trabalham intensamente no conceito de “manned-unmanned teaming”, em que aeronaves tripuladas comandam de forma integrada enxames de drones, ampliando exponencialmente a capacidade de combate. Rússia e China também exploram a IA, mas com um enfoque adicional em guerra eletrônica, apostando na possibilidade de confundir e paralisar os sistemas adversários em vez de apenas competir em capacidade de processamento. O resultado é um ambiente onde a linha entre homem e máquina se torna cada vez mais difusa, e onde decisões críticas podem ser tomadas por sistemas autônomos em velocidade impossível de ser acompanhada por comandantes humanos.

Para o Brasil, essa nova Guerra Fria tecnológica apresenta riscos e oportunidades. Nossa dependência externa em semicondutores, sensores e sistemas críticos expõe vulnerabilidades estratégicas: em caso de bloqueios ou sanções internacionais, setores fundamentais da defesa e da economia poderiam ser paralisados. Ao mesmo tempo, o país já dá sinais de buscar autonomia em áreas-chave, como no Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), voltado para garantir comunicações seguras via satélite, e nos projetos da BID, que investe no desenvolvimento de aeronaves remotamente pilotadas. No entanto, essas iniciativas ainda não compõem uma política nacional robusta capaz de enfrentar o desafio estrutural imposto por esse novo cenário global. A ausência de uma estratégia consistente para semicondutores e inteligência artificial aplicada à defesa pode comprometer a soberania em um futuro próximo.

A lição que se impõe é que a guerra do século XXI não será vencida apenas com soldados em terra, navios no mar ou caças no ar. O verdadeiro campo de batalha se estende ao domínio invisível dos dados, dos algoritmos e dos microprocessadores. O país que dominar a tríade composta por chips, drones e inteligência artificial terá não apenas superioridade militar, mas também capacidade de influenciar o rumo da economia mundial e das relações internacionais. O Brasil, ao decidir seu caminho, deve compreender que investir em tecnologia de ponta não é apenas uma questão de modernização, mas de soberania e sobrevivência estratégica em um mundo cada vez mais competitivo e incerto.


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Amazônia Azul: Poder Marítimo e o Futuro Estratégico do Brasil

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O Brasil é reconhecido no mundo por sua vastidão territorial, suas riquezas naturais e sua posição geográfica privilegiada. No entanto, por décadas, o debate público e político sobre soberania concentrou-se sobretudo na Amazônia terrestre, ignorando que o país possui outro território de importância igual ou até superior, a Amazônia Azul. Essa expressão, cunhada pela Marinha do Brasil no início dos anos 2000, refere-se à imensa área marítima sob jurisdição nacional, que ultrapassa 5,7 milhões de km² de mar territorial e zona econômica exclusiva (ZEE), com possibilidade de expansão para mais de 6,5 milhões de km² mediante a extensão da plataforma continental aprovada pela ONU.

Trata-se de um espaço vital. Mais de 95% do comércio exterior brasileiro circula por rotas marítimas, e cerca de 90% do petróleo nacional é extraído do mar, sobretudo do pré-sal. A Amazônia Azul concentra, portanto, não apenas recursos estratégicos, como petróleo, gás, minerais e biodiversidade, mas também as linhas de comunicação marítima que conectam o Brasil ao mundo. Controlar e defender esse imenso território equivale a proteger o próprio futuro econômico e geopolítico do Brasil.

O valor estratégico da Amazônia Azul

A relevância da Amazônia Azul vai além da economia. No cenário internacional, o mar brasileiro é parte do Atlântico Sul, região cada vez mais disputada em função do avanço da exploração energética offshore, das rotas de comércio entre América, África e Ásia e da presença de potências extrarregionais, como Estados Unidos, Reino Unido, França e China. Não é coincidência que bases militares estrangeiras se espalhem pela costa africana do Atlântico, ou que navios de guerra de grandes potências façam presença frequente na região.

Para o Brasil, essa realidade impõe um dilema estratégico: manter sua condição de potência regional exige mais do que retórica, é preciso capacidade real de controle e dissuasão. Se a Amazônia terrestre é alvo de pressões internacionais sob a bandeira ambiental, a Amazônia Azul pode tornar-se alvo sob o pretexto da “livre navegação” ou da “governança internacional dos recursos marinhos”. A defesa dessa imensa área não é, portanto, apenas militar, mas também política e diplomática.

Desafios da defesa marítima brasileira

O poder marítimo brasileiro tem como pilar a Marinha do Brasil, cuja missão central é assegurar a soberania nacional sobre a Amazônia Azul. Entretanto, a atual capacidade da Força de Superfície está muito aquém do que preconiza a própria doutrina naval brasileira. A Estratégia Nacional de Defesa e os documentos da Marinha indicam a necessidade de, no mínimo, 18 escoltas modernas para garantir a presença permanente, a proteção das linhas de comunicação marítimas e a defesa de áreas sensíveis como o pré-sal. Hoje, a realidade é crítica: a espinha dorsal da frota ainda é composta por navios construídos nas décadas de 1970 e 1980, as classes Niterói e Greenhalgh, muitos já em processo de descomissionamento, operando no limite de seus ciclos de vida.

O Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT), embora essencial, prevê apenas quatro unidades, cuja primeira entrega está programada para o final de 2025. Em um quadro de urgência, tais meios chegam como substitutos, e não como reforço. Em termos operacionais, isso significa apenas trocar navios obsoletos por modernos, sem ganho numérico que amplie a capacidade da Esquadra. Para efeito comparativo, marinhas de países com responsabilidades geopolíticas menores, como a do Chile, com oito fragatas, ou a da Colômbia, que planeja renovar sua frota com pelo menos cinco novas unidades, já apresentam uma proporção de escoltas superior à brasileira.

A consequência prática é clara: com apenas quatro novas fragatas, o Brasil permanecerá distante do patamar mínimo necessário para cobrir de forma eficaz sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de mais de 5,7 milhões de km², além de comprometer a capacidade de dissuasão no Atlântico Sul. A lacuna entre o que a doutrina considera indispensável e o que efetivamente será entregue expõe um risco estratégico imediato, evidenciando que o país continua a operar em uma lógica de substituição pontual, quando a realidade impõe uma expansão consistente e planejada de sua Força de Superfície.

No campo dos submarinos, o Programa de Submarinos (PROSUB) representa um verdadeiro marco para o Brasil. O projeto contempla quatro submarinos convencionais da classe Riachuelo (S-BR), já em diferentes fases de entrega, além do ambicioso Submarino Nuclear Álvaro Alberto (SN-BR), o primeiro da América Latina. Enquanto os S-BR oferecem significativa capacidade de negação do uso do mar em áreas estratégicas próximas ao litoral, o SN-BR introduzirá um salto qualitativo sem precedentes: graças à propulsão nuclear, será capaz de patrulhar grandes extensões oceânicas com maior permanência submerso, velocidade sustentada e alcance praticamente ilimitado, ampliando de forma substancial o poder de dissuasão nacional.

No entanto, a quantidade de apenas quatro submarinos da classe Riachuelo revela-se insuficiente diante das demandas estratégicas brasileiras. A frota atual, ao considerar a chamada “diagonal de manutenção”, conceito segundo o qual nem todas as unidades estão disponíveis simultaneamente, devido a inspeções, modernizações e Períodos de Manutenção Geral (PMG) que podem durar de 18 a 24 meses, limitando severamente a presença operacional constante no mar. Na prática, com quatro unidades, dificilmente mais de duas estariam plenamente disponíveis para emprego imediato, o que reduz a flexibilidade estratégica do Brasil. Para um cenário de vigilância e dissuasão compatível com a dimensão da “Amazônia Azul”, o ideal seria operar entre seis e oito submarinos convencionais da classe Riachuelo. Esse número permitiria assegurar presença contínua em múltiplos pontos de interesse, mesmo com parte da frota em manutenção ou treinamento.

Já no campo nuclear, a previsão inicial de apenas um SN-BR é insuficiente para consolidar a capacidade estratégica que se busca. Um único submarino nuclear tende a operar mais como um protótipo ou vetor experimental de doutrina do que como um elemento plenamente operacional de dissuasão. O patamar considerado adequado por muitos analistas situa-se entre três e quatro unidades, o que garantiria sempre pelo menos uma em patrulha, uma em preparação e outra em manutenção, mantendo a continuidade de presença e credibilidade do sistema de dissuasão. Menos que isso comprometeria a efetividade do investimento e deixaria o Brasil vulnerável a lacunas estratégicas.

O PROSUB, portanto, não é apenas um programa de aquisição, mas um esforço de transformação estrutural, que envolve o domínio de tecnologias críticas, a criação de infraestrutura inédita no País e a formação de gerações de engenheiros, técnicos e militares especializados. O grande desafio está na manutenção do fluxo orçamentário e na definição clara de prioridades nacionais, de modo a não apenas concluir o SN10 Álvaro Alberto, mas também expandir a frota de submarinos convencionais e planejar uma série mínima de SN-BRs que garanta efetividade à doutrina de negação e dissuasão no Atlântico Sul.

A defesa marítima do Brasil vai muito além da simples composição da esquadra. Para ser eficaz, exige um sistema integrado de forças, capaz de atuar de forma coordenada em toda a Amazônia Azul e em operações expedicionárias, reunindo Fuzileiros Navais, aviação naval, esquadra, sistemas de monitoramento, radares, drones, bases de apoio e logística avançada.

O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) é o núcleo das operações expedicionárias e precisa expandir suas capacidades com meios modernos e tecnologias ainda em desenvolvimento. Entre as demandas estratégicas destacam-se: a defesa de costa com mísseis de alcance médio e longo MANSUP com a plataforma ASTROS, a ampliação da capacidade de artilharia, atualmente limitada a lançadores de foguetes Astros e obuseiros leves L118 Light Gun de 105mm, e a modernização de blindados. Capacidades desejáveis incluem obuseiros autopropulsados de 155mm, lançadores de foguetes de alta mobilidade, artilharia pesada de longo alcance (155mm) e blindados de nova geração, todos integrados ao emprego de drones e plataformas SARPs para inteligência, vigilância e direcionamento de fogo. Esses sistemas proporcionariam apoio de fogo preciso, mobilidade operacional, alcance estratégico e consciência situacional em tempo real, elementos essenciais para operações litorâneas e expedicionárias modernas.

No campo de monitoramento e vigilância, o avanço tecnológico é igualmente crítico. Apesar da implementação do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), ainda é necessário integrar radares costeiros, sensores remotos e drones, formando uma malha contínua capaz de detectar, rastrear e monitorar navios, aeronaves e atividades irregulares em tempo real, fornecendo informações estratégicas para todas as unidades operativas.

A aviação naval também precisa evoluir, incorporando novas aeronaves de asa fixa capazes de realizar apoio aéreo aproximado, defesa aérea e ataque, além de contar com aeronaves de transporte para lançamento de tropas e cargas, complementadas por plataformas SARPs para vigilância, reconhecimento e direcionamento de operações. Essa integração amplia significativamente alcance, flexibilidade, letalidade e consciência situacional da força, superando as limitações das aeronaves atualmente em operação.

A esquadra, atuando de forma coordenada com o CFN e a aviação naval, oferece suporte logístico, defesa antissuperfície, antissubmarina e antiaérea, além de capacidade de projeção estratégica. A combinação de submarinos, fragatas, corvetas, navios de apoio e sensores integrados permite sustentar operações prolongadas, proteger rotas marítimas vitais e manter presença contínua em toda a Amazônia Azul.

Por fim, a logística é o elo que conecta todas essas capacidades. Uma cadeia robusta de suprimentos, manutenção e projeção de forças garante que CFN, aviação naval e esquadra operem de forma integrada e autônoma, formando um quadro expedicionário completo, capaz de projeção de poder e dissuasão.

A modernização da defesa marítima brasileira, envolve planejamento estratégico, integração de sistemas modernos, inteligência operacional e logística avançada, consolidando um sistema de forças interconectado, capaz de assegurar soberania, dissuasão e presença estratégica em toda a Amazônia Azul e áreas adjacentes.

Comparações internacionais: lições a considerar

Outros países em desenvolvimento compreenderam cedo a centralidade do poder marítimo. A Índia, com dimensões continentais e extensa costa, consolidou sua Marinha como um instrumento de projeção de poder no Índico, operando porta-aviões, submarinos nucleares e escoltas modernos. A Türkiye, por sua vez, investiu maciçamente em autossuficiência tecnológica, construindo fragatas, submarinos e até o multipropósito TCG Anadolu, um porta-helicópteros de projeção anfíbia. A China transformou-se em potência naval global em poucas décadas, reconhecendo que seu comércio exterior e sua segurança energética dependiam do mar.

O Brasil, embora possua condições similares em termos de território e recursos, ainda enfrenta entraves estruturais. O orçamento de defesa é limitado, onde cerca de 78% é consumido por gastos com pessoal e pensões, restando menos de 25% para investimentos em equipamentos, pesquisa e manutenção. Essa realidade contrasta com países que priorizaram modernização e tecnologia.

O futuro do poder marítimo brasileiro

Proteger a Amazônia Azul não é apenas uma questão militar, mas de projeto nacional. O Brasil precisa definir se deseja ser protagonista regional com autonomia estratégica ou se aceitará a condição de dependência frente a potências externas. Essa decisão envolve escolhas de longo prazo, investimentos consistentes em programas navais, fortalecimento da indústria de defesa, parcerias tecnológicas e, sobretudo, uma visão estratégica de Estado.

A Amazônia Azul concentra riquezas que sustentarão o Brasil nas próximas décadas. Ao mesmo tempo, é espaço de vulnerabilidades: rotas comerciais expostas, plataformas de petróleo em alto-mar, cabos submarinos de comunicação e fronteiras marítimas ainda pouco vigiadas. Negligenciar sua defesa é comprometer o desenvolvimento nacional.

O mar brasileiro, portanto, é mais do que um espaço geográfico, é a chave do futuro. Assim como a Amazônia terrestre, a Amazônia Azul precisa estar no centro da estratégia nacional de defesa, política externa e desenvolvimento. Sua proteção exige não apenas navios e submarinos, mas uma consciência estratégica compartilhada pela sociedade e pelo Estado.

A Amazônia Azul é um patrimônio estratégico e um campo de disputa silenciosa. O Brasil, por sua posição geográfica e por suas riquezas marítimas, não pode abdicar da responsabilidade de defendê-la. O desafio não é apenas militar, mas também político, econômico e tecnológico. O país precisa decidir se terá um poder naval compatível com sua dimensão ou se permanecerá vulnerável, à mercê de interesses externos. Em última instância, a capacidade de proteger a Amazônia Azul determinará se o Brasil será uma potência soberana ou apenas um gigante dependente nas águas turbulentas do século XXI.


por Angelo Nicolaci


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Operação Atlas 2025 - Exército Brasileiro realiza deslocamento estratégico do 4º Grupamento de Engenharia

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O Exército Brasileiro deu início, em 21 de agosto, ao deslocamento do 4º Grupamento de Engenharia (4º Gpt E) dentro da Operação Atlas 2025, exercício que se estenderá até 4 de setembro. A tropa parte de Porto Alegre (RS) rumo a Boa Vista (RR), passando por Belém (PA) e Manaus (AM), em um trajeto superior a 5 mil quilômetros. A movimentação envolve centenas de militares, viaturas especializadas e equipamentos de engenharia militar, configurando uma das maiores ações logísticas do calendário operacional da Força Terrestre neste ano.

O objetivo central é avaliar a capacidade de mobilização em longas distâncias e o emprego de meios de engenharia em diferentes cenários. Para isso, o Exército testa a eficiência do transporte de pessoal e material pesado em vias terrestres, garantindo suporte de manutenção, comunicações, suprimento e segurança ao longo do percurso. Esse tipo de deslocamento permite integrar diferentes regiões do Brasil e comprovar a aptidão da Força para projetar poder militar da região Sul até a Amazônia, área de grande importância estratégica e geopolítica.

A Operação Atlas 2025 integra o calendário de adestramento do Exército e busca manter elevado o nível de prontidão das tropas. Além do valor militar, a iniciativa contribui para a manutenção da capacidade de resposta rápida diante de ameaças e para a preparação de ações de defesa em ambientes complexos, como a Amazônia. O exercício reafirma o compromisso do Exército com a defesa da soberania nacional, demonstrando que o preparo das tropas vai além do combate, envolvendo também a logística, a engenharia e a integração de meios em escala continental.


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com Exército Brasileiro



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Exigência francesa por liderança exclusiva ameaça futuro do programa FCAS

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O Future Combat Air System (FCAS), ambicioso projeto que busca desenvolver o caça europeu de sexta geração, voltou ao centro de uma disputa entre Paris e Berlim. Um documento do Ministério da Defesa da Alemanha, obtido pela Reuters, acusa a indústria francesa de bloquear a entrada na segunda fase do programa, ao exigir liderança exclusiva no desenvolvimento.

Segundo o documento, enviado ao comitê de orçamento do parlamento alemão na última sexta-feira, ceder às demandas francesas teria consequências severas tanto para as capacidades futuras do caça quanto para a participação da indústria alemã no projeto.

O FCAS, estimado em mais de US$ 117 bilhões, é desenvolvido em parceria por França, Alemanha e Espanha, com a participação da Dassault Aviation, Airbus e Indra. O objetivo é substituir gradualmente os caças Rafale e Eurofighter Typhoon a partir de 2040.

Entretanto, as discussões sobre propriedade intelectual e divisão do trabalho têm causado sucessivos atrasos. De acordo com fontes da indústria, a França teria informado à Alemanha sua intenção de garantir 80% de participação no programa, reduzindo o protagonismo de Berlim e de Madrid.

Até agora, as tarefas foram distribuídas em pilares específicos, como a aeronave tripulada, o motor, os drones acompanhantes (“remote carriers”) e a nuvem de combate aéreo, sistema digital que integrará todas as plataformas. A Dassault, encarregada da parte principal, o caça tripulado, insiste em maior autonomia decisória.

O CEO da empresa, Eric Trappier, declarou em julho que “o FCAS precisa de liderança e organização mais claras”, criticando a complexidade de ter todas as decisões negociadas entre três parceiros.

Originalmente, a fase 2, que prevê o desenvolvimento dos primeiros demonstradores em voo, deveria ser lançada ainda em 2024, marcando o início da aplicação de maiores recursos financeiros no programa. Mas a falta de consenso ameaça adiar novamente o cronograma.

O Ministério da Defesa alemão defende que sejam mantidos os acordos anteriores sobre a configuração do consórcio e afirmou que até o final do ano apresentará opções para avançar ou redefinir o programa.

O impasse ocorre justamente às vésperas de encontros diplomáticos de alto nível. O presidente francês Emmanuel Macron deve receber o chanceler alemão Friedrich Merz nesta quinta-feira em Bregancon, no Mediterrâneo, seguido de reuniões em Toulon na sexta-feira, com a presença de ministros de ambos os países.

Um funcionário da presidência francesa minimizou as divergências, classificando-as como “pequenas diferenças” e reforçou que há forte determinação de ambos os lados para fazer o FCAS avançar.

Mais do que um caça de sexta geração, o FCAS é visto como um pilar da autonomia estratégica europeia em defesa. Contudo, as divergências entre Paris e Berlim reacendem o temor de que a Europa repita erros do passado, com projetos fragmentados e concorrentes, cenário que pode enfraquecer sua capacidade de enfrentar desafios militares em um ambiente geopolítico cada vez mais instável.


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com Reuters


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Impasse entre França e Alemanha ameaça futuro do programa FCAS

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O futuro do Future Combat Air System (FCAS), projeto franco-alemão que visa desenvolver o próximo caça europeu de sexta geração, vive um momento decisivo. Às vésperas de uma reunião entre o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz, integrantes do parlamento da Alemanha alertam que Berlim precisa tomar uma decisão rápida: ou avança para a fase de desenvolvimento do programa ou busca alternativas fora da parceria com Paris.

O custo estimado do FCAS ultrapassa os US$ 117 bilhões, envolvendo a francesa Dassault Aviation, a Airbus e a espanhola Indra. O programa, no entanto, tem enfrentado anos de atrasos e disputas internas, principalmente sobre direitos de propriedade intelectual e a divisão de responsabilidades industriais.

Segundo a Reuters, Berlim culpa a França por bloquear a entrada na chamada “fase 2”, etapa em que seriam construídos os primeiros demonstradores de voo, originalmente prevista para o final de 2024.

Christoph Schmid, membro do comitê de defesa do parlamento alemão e integrante do Partido Social-Democrata do ministro da Defesa Boris Pistorius, foi direto: “Se não obtivermos uma decisão em Toulon para entrar na fase 2, tudo se tornará cada vez mais difícil. Quanto mais uma decisão for adiada, mais irrealista se torna a implementação do FCAS.”

Eurofighter como alternativa

Diante das incertezas, Schmid defendeu que a Alemanha considere alternativas. Ele citou o Eurofighter Typhoon, fruto da cooperação entre Alemanha, Reino Unido e Itália, como exemplo de sucesso conjunto sem a participação francesa.

Na visão do parlamentar, não seria um desastre se Berlim e Paris seguissem caminhos distintos. A Alemanha poderia inclusive encomendar mais 60 caças Eurofighter até 2029 para substituir sua frota de Tornado. Isso abriria espaço para evoluções do Typhoon ou até para a participação no Global Combat Air Programme (GCAP) — iniciativa liderada por Reino Unido, Itália e Japão para desenvolver um caça stealth de próxima geração.

Outros cenários em análise incluem um desenvolvimento nacional alemão ou uma cooperação com parceiros fora do eixo tradicional europeu, como a Suécia, que já possui experiência avançada com o Saab Gripen.

Pressão política em Berlim

O impasse não é apenas técnico. Para Sebastian Schaefer, parlamentar do Partido Verde e membro do comitê de orçamento, o ministro da Defesa alemão precisa atuar de forma mais incisiva junto ao seu homólogo francês: “Não basta culpar apenas a indústria. Pistorius precisa conversar com a indústria, e também com seu amigo, o ministro da Defesa francês Sébastien Lecornu.”

A disputa em torno do FCAS mostra mais do que diferenças bilaterais. Ela reflete a dificuldade europeia em estabelecer projetos de defesa conjuntos robustos, mesmo em um contexto de aumento dos orçamentos militares e da necessidade de independência estratégica diante das tensões globais.

Caso a Alemanha opte por seguir sozinha ou aderir ao GCAP, o continente europeu pode assistir a uma fragmentação de esforços tecnológicos, algo que já ocorreu em décadas anteriores, quando diferentes países desenvolveram plataformas concorrentes em vez de buscar convergência.

Para Berlim, a decisão que se aproxima não é apenas sobre um avião de combate, mas sobre o rumo de sua política de defesa e sua capacidade de projetar poder aéreo no longo prazo.


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com Reuters



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O Verdadeiro Custo do Gripen, muito além do preço unitário

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A recente decisão da Tailândia de adquirir quatro caças Gripen E/F, rompendo um jejum de exportações que durava mais de uma década para a versão mais moderna do caça sueco, reacendeu um debate antigo: afinal, quanto custa realmente um Gripen? E mais importante, como entender esse valor diante de outras aeronaves da mesma categoria, como o F-16 Fighting Falcon e o Rafale?

Segundo dados oficiais divulgados pelo governo tailandês, o contrato fechado em 2024 gira em torno de 5,3 bilhões de coroas suecas, ou aproximadamente US$ 553 milhões, o que significa algo próximo a US$ 138,25 milhões por aeronave. À primeira vista, o valor coloca o Gripen em uma posição competitiva no mercado internacional, sendo consideravelmente mais barato que concorrentes diretos, como o Rafale francês, cujo custo médio por unidade, segundo contratos recentes com a Sérvia, chega a cerca de US$ 240 milhões.

No entanto, comparar preços apenas pela ótica do valor unitário é um equívoco comum e perigoso. O custo real de aquisição de uma aeronave não se resume à fuselagem e aos motores. Ele envolve um pacote muito mais amplo, que inclui infraestrutura de apoio em solo, treinamento de pilotos e equipes de manutenção, sistemas embarcados, simuladores, armamentos, estoques de suprimentos, suporte logístico de longo prazo e consumíveis necessários à operação diária.

A Tailândia já opera há mais de uma década o Gripen C/D

Nesse ponto, cada contrato é único, moldado de acordo com as necessidades do país comprador e, principalmente, com a infraestrutura já existente. A própria Tailândia, que já opera caças Gripen C/D há mais de uma década, não precisará investir novamente em grande parte da infraestrutura de apoio, reduzindo de forma significativa os custos adicionais. Essa diferença explica, em parte, o valor mais baixo do contrato tailandês em comparação a outros países que iniciam do zero sua estrutura de operação.

Um bom exemplo é a Colômbia, que anunciou a intenção de adquirir o Gripen E/F a um custo estimado de US$ 162 milhões por aeronave. O valor mais elevado reflete não apenas a aquisição das aeronaves, mas também serviços e sistemas adicionais, necessários para estabelecer uma nova capacidade operacional. Já o Peru, que estuda adquirir 24 unidades, trabalha com estimativas próximas a US$ 145,8 milhões por unidade, um valor intermediário que demonstra novamente como os pacotes influenciam o preço final.

O caso brasileiro: além da aeronave, tecnologia e indústria

O Brasil é hoje o principal operador estrangeiro do Gripen E/F, com um contrato assinado em 2014 no valor de US$ 7,2 bilhões para 36 aeronaves. Mas o diferencial brasileiro não está apenas na aquisição dos caças: o acordo incluiu um amplo pacote de transferência de tecnologia e a criação de uma linha de produção local, em parceria com a Embraer e outras empresas da Base Industrial de Defesa.

Essa decisão estratégica transformou o país em coprodutor do Gripen, garantindo acesso a conhecimento sensível, autonomia logística e capacidade de manutenção em território nacional. A presença de um centro de desenvolvimento e manutenção no Brasil reduz custos futuros, cria empregos qualificados e fortalece a indústria de defesa, ampliando os ganhos além do campo militar.

Mais do que comprar aeronaves, o Brasil investiu em soberania tecnológica, algo que não aparece no cálculo do “preço por unidade”, mas que traz benefícios de longo prazo incomparáveis em termos de capacitação industrial e independência operacional.

Comparações distorcidas

Muitos observadores internacionais costumam comparar diretamente os preços divulgados para Gripen, Rafale, F-16 ou mesmo Eurofighter Typhoon, sem considerar os aspectos contratuais e logísticos envolvidos. Essa abordagem simplista pode levar a análises equivocadas.

Enquanto um Rafale supera facilmente os US$ 240 milhões por unidade, e um F-16 Block 70, embora mais barato que o francês, ainda se aproxima de valores elevados quando somados suporte e armamentos, o Gripen mantém-se competitivo justamente pelo equilíbrio entre custo de aquisição e custo operacional. Projetado para operar com estruturas menores, menor dependência de pistas extensas e maior eficiência logística, o caça sueco oferece uma solução completa com custos de manutenção mais baixos que seus rivais diretos.

Aqui está o gráfico de barras comparando os custos aproximados por unidade dos caças Gripen (em diferentes contratos), Rafale e F-16 Block 70. Isso ajuda a visualizar como o Gripen se mantém competitivo, mesmo quando incluímos o contrato brasileiro com transferência de tecnologia.

Mais do que comparar números isolados, é fundamental compreender que a aquisição de um caça moderno envolve um ecossistema inteiro de suporte, infraestrutura, treinamento e, no caso brasileiro, até mesmo transferência de tecnologia e desenvolvimento industrial.

O Gripen destaca-se nesse cenário por oferecer um pacote competitivo, que equilibra preço, tecnologia e eficiência logística. O Brasil, ao se consolidar como maior operador do Gripen fora da Suécia e coprodutor da aeronave, mostra que investir em defesa não é apenas adquirir equipamentos, mas sim construir capacidades estratégicas para o futuro.


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terça-feira, 26 de agosto de 2025

PFCT - Fragata Tamandaré conclui testes de mar

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A primeira fragata da Classe Tamandaré, concluiu com êxito seus testes de mar, um passo decisivo para sua incorporação à Esquadra no final deste ano. Os ensaios, conduzidos por equipes conjuntas da Marinha do Brasil e da TKMS, avaliaram com sucesso os sistemas de propulsão, manobrabilidade e comunicações, confirmando a robustez do projeto e a maturidade da construção realizada no Estaleiro Brasil Sul, em Itajaí (SC).

O Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT), conduzido pelo Consórcio Águas Azuis, formado pela thyssenkrupp Marine Systems (TKMS), Embraer Defesa & Segurança e Atech, em parceria com a Emgepron e a Marinha do Brasil, representa o mais importante esforço de renovação da Esquadra em décadas. Mais do que a construção de quatro navios, o programa se afirma como um marco de transferência de tecnologia, fortalecimento da base industrial de defesa e capacitação da indústria naval brasileira, resgatando a tradição do país no setor.

Baseada no projeto alemão MEKO A100, a Tamandaré possui 107 metros de comprimento, desloca 3.500 toneladas e alcança velocidade máxima de 25 nós. Seu poder de combate reflete o salto qualitativo que o Brasil vinha buscando: contará com o sistema de defesa aérea SeaCeptor da MBDA, canhão principal Leonardo 76/62, lançadores de torpedos e estações de armas remotas, mas o elemento mais simbólico será a adoção do Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP). Desenvolvido pela SIATT em parceria com a Marinha, o MANSUP representa a consolidação da capacidade nacional em mísseis de alta complexidade, substituindo gradualmente os Exocet e garantindo soberania em um dos setores mais sensíveis da defesa.

A trajetória da Tamandaré é recente, mas expressiva: a construção começou em 2022, sua quilha foi batida em março de 2023 e o lançamento ocorreu em meados de 2024. Agora, segue em fase final de integração de sistemas e testes, com a entrega prevista para o final de 2025. O segundo navio, Jerônimo de Albuquerque, teve seu lançamento realizado no último dia 8 de agosto, e as demais unidades deverão ser concluídas até 2028. A partir daí, a Marinha contará com quatro novas fragatas plenamente operacionais, aptas a reforçar a defesa da Amazônia Azul, nossa imensa zona econômica exclusiva, vital para a economia nacional e para a projeção do Brasil no Atlântico Sul.

A chegada das fragatas Tamandaré também atende a uma necessidade urgente de substituição. Atualmente, a Marinha opera fragatas das classes Niterói (incorporadas entre 1976 e 1980) e Greenhalgh (adquiridas do Reino Unido nos anos 1990), embarcações que já ultrapassaram 40 anos. Apesar das modernizações pontuais, essas fragatas enfrentam crescentes limitações operacionais, custos de manutenção elevados e a obsolescência, o que reforça a importância das Tamandaré como espinha dorsal da Esquadra.

Entretanto, ainda que o programa represente um avanço inquestionável, é consenso entre especialistas que quatro fragatas são insuficientes para as necessidades do país. O Brasil possui mais de 7.000 km de litoral, uma zona marítima equivalente à Amazônia terrestre e responsabilidades de segurança crescentes em um cenário internacional marcado por incertezas. O PFCT provou ser um modelo bem-sucedido de integração tecnológica e construção naval local; justamente por isso, é fundamental que o governo avalie a aquisição de um segundo lote de fragatas, consolidando a capacidade industrial já instalada e evitando a descontinuidade que no passado comprometeu outros programas estratégicos.

Ampliar o número de navios não é apenas um reforço para a Esquadra: trata-se de garantir empregos qualificados, inovação tecnológica, geração de conhecimento e, sobretudo, autonomia estratégica. Expandir o PFCT é, portanto, um passo natural e necessário para que o Brasil não apenas renove, mas fortaleça de forma consistente seu poder naval, assegurando a proteção da Amazônia Azul e a presença firme no Atlântico Sul.


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Índia se despede do lendário MiG-21 após mais de seis décadas de serviço

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A Força Aérea Indiana (IAF) marcou o fim de uma era ao realizar a cerimônia de aposentaria do MiG-21, o icônico caça de projeto soviético que serviu ao país por mais de 60 anos. Um mês antes da cerimônia de descomissionamento, o Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica da Índia, marechal Amar Preet Singh, realizou voos finais a bordo da aeronave, em homenagem à sua trajetória histórica.

Singh visitou o Esquadrão Nº 23 "Panthers", último a operar o MiG-21, participando de surtidas de combate e de uma formação liderada pelo Líder de Esquadrão Priya, simbolizando a transição entre tradição e modernização. "É uma aeronave incrível de pilotar, muito ágil e manobrável... Fará falta a todos que a pilotaram", afirmou Singh.

Desenvolvido pelo Mikoyan-Gurevich Design Bureau da antiga União Soviética, o MiG-21 se tornou a espinha dorsal da frota de caças indiana. Ao longo de seis décadas, participou de conflitos históricos, como as guerras de 1965 e 1971 contra o Paquistão, e registrou feitos notáveis, incluindo a derrubada de uma aeronave naval paquistanesa em 1999 e, em 2019, um F-16.

Mesmo após tanto tempo, a aeronave manteve relevância estratégica, destacando-se por sua velocidade, agilidade e capacidade de atuação em combates aéreos intensos. Para a Índia, o MiG-21 não é apenas um instrumento de defesa, mas um símbolo de tradição e resiliência tecnológica, atravessando gerações de pilotos e conflitos.

A aposentadoria do MiG-21 abre caminho para a modernização da Força Aérea Indiana. A frota será substituída pelo caça leve Tejas Mark K1A, com um contrato de US$ 7,6 bilhões para 97 unidades, e complementada pelo desenvolvimento de uma aeronave de combate média avançada, um caça furtivo multifuncional destinado tanto à Força Aérea quanto à Marinha, com investimento atual de US$ 175 milhões.

O fim do ciclo do MiG-21 marca mais do que um adeus; simboliza a passagem do legado soviético à modernidade indiana. É uma transição estratégica que combina respeito à tradição e busca por inovação, mantendo a Índia preparada para os desafios do futuro.


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com The Times of India



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Submarinos Nucleares e o Futuro da Dissuasão Brasileira

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No oceano, a verdadeira força não se mede apenas pelo tamanho de uma frota ou pela quantidade de armamentos visíveis. O poder silencioso dos submarinos tem transformado a guerra naval e a estratégia de defesa global. Entre essas embarcações, o submarino nuclear surge como a plataforma mais sofisticada, capaz de unir mobilidade extrema, autonomia quase ilimitada e furtividade. Para o Brasil, que possui sob sua responsabilidade a chamada “Amazônia Azul” — mais de 5,7 milhões de km² de águas jurisdicionais ricas em recursos estratégicos —, o desenvolvimento desse tipo de embarcação representa um salto tecnológico e estratégico sem precedentes.

Diesel-elétrico versus nuclear: o contraste entre furtividade e autonomia

Os submarinos convencionais, movidos a diesel-elétrico (S-BR), são silenciosos em baixas velocidades e ideais para operações costeiras, patrulhamento próximo ao litoral e missões de negação de área. No entanto, sua autonomia é limitada: precisam emergir ou usar snorkel para recarregar baterias, expondo-se a radares, satélites e aeronaves de patrulha. Isso reduz a liberdade estratégica e impõe restrições temporais e geográficas às operações.

Em contrapartida, os submarinos nucleares (SN-BR) operam com reatores que fornecem energia praticamente ilimitada, permitindo deslocamentos contínuos por semanas ou meses sem necessidade de emergir. Eles podem manter alta velocidade sustentada e transportar cargas maiores de armamentos, sensores e até equipes de operações especiais. Em termos de analogia, se o submarino diesel-elétrico se assemelha a um gato ágil e silencioso, capaz de se mover furtivamente em territórios próximos, o submarino nuclear é como um lobo, estratégico, capaz de atravessar vastas regiões, coordenar movimentos e impor incerteza ao adversário em qualquer ponto do oceano.

Essa comparação ajuda a entender a complementaridade entre as duas tecnologias. Submarinos diesel-elétricos são ideais para furtividade em curtas distâncias e operações discretas perto da costa, enquanto os nucleares oferecem alcance, persistência e dissuasão estratégica em escala global.

Amazônia Azul: o palco estratégico brasileiro

O Atlântico Sul concentra rotas marítimas essenciais para o comércio internacional e para o escoamento de recursos naturais do Brasil. A presença de submarinos nucleares nesse espaço amplia significativamente a capacidade de projeção de poder e dissuasão. A incerteza sobre a localização de um submarino nuclear funciona como uma ferramenta estratégica: adversários em potencial devem calcular cuidadosamente os riscos antes de qualquer ação hostil.

Por exemplo, um submarino nuclear pode monitorar áreas estratégicas, proteger plataformas de petróleo e acompanhar forças-tarefa inimigas sem jamais revelar sua posição. Essa presença invisível garante controle indireto do território marítimo, reforçando a soberania e a segurança nacional.

Segurança nuclear e qualidade: o coração silencioso do programa nuclear brasileiro

A operação de reatores nucleares embarcados exige padrões de segurança e qualidade absolutamente rigorosos. É nesse ponto que a Secretaria Naval de Segurança Nuclear e Qualidade (SecNSNQ) desempenha papel central. A secretaria garante que cada etapa do projeto, da concepção, construção, operação até a manutenção, seja conduzida com excelência e confiabilidade, assegurando que o submarino nuclear brasileiro funcione de forma segura e eficiente.

Essa atenção aos detalhes vai desde a integridade estrutural do casco e o controle da propulsão nuclear, até a calibração dos sistemas de sensores e armamentos. Em analogia, se o submarino nuclear é um predador silencioso, a Secretaria funciona como o centro nervoso que coordena cada músculo e cada movimento, garantindo que o “lobo” do oceano se mova com precisão e segurança.

Histórico e exemplos globais

Ao longo do século XX, o desenvolvimento de submarinos nucleares redefiniu a estratégia naval de países como Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e França. A capacidade de permanecer submerso por meses, transportar mísseis de cruzeiro ou nucleares e operar em qualquer ponto do oceano criou uma nova dimensão de dissuasão.

Durante a Guerra Fria, por exemplo, submarinos nucleares soviéticos e americanos foram responsáveis por monitorar e rastrear forças inimigas com furtividade quase absoluta, tornando-se instrumentos de poder psicológico e estratégico. Já na Guerra das Malvinas, submarinos convencionais britânicos demonstraram como a furtividade e a paciência podem mudar o curso de um conflito, embora operando em escalas menores.

O Brasil, ao desenvolver seu primeiro submarino nuclear no âmbito do PROSUB, não apenas entra nesse grupo restrito de nações, mas também adapta a tecnologia à realidade regional: o Atlântico Sul, a Amazônia Azul e as necessidades de soberania nacional.

Tecnologia, tripulação e disciplina

A operação de um submarino nuclear exige tripulações altamente treinadas. Manter silêncio, seguir protocolos de segurança nuclear e operar sistemas complexos em um ambiente confinado é tão crucial quanto a própria tecnologia embarcada. A disciplina da tripulação é o que transforma o potencial do submarino em eficácia real, permitindo que cada missão seja realizada com precisão e confiabilidade.

Além disso, a integração de tecnologia avançada, como sensores acústicos, sistemas de navegação autônoma e contramedidas eletrônicas, torna o submarino nuclear uma plataforma multidimensional, capaz de coletar inteligência, dissuadir ameaças e apoiar operações estratégicas simultaneamente.

Dissuasão estratégica: o silêncio que fala alto

A simples existência de um submarino nuclear funciona como um instrumento de dissuasão. Mesmo sem engajar diretamente em combate, sua presença invisível cria um efeito psicológico sobre qualquer potencial adversário. A combinação de autonomia, alcance e letalidade transforma a embarcação em um lobo silencioso nos mares, capaz de decidir o equilíbrio de poder antes mesmo de qualquer confronto se iniciar.

E é essa mesma disciplina, tecnologia e controle de qualidade, coordenados em segundo plano pela Secretaria Naval de Segurança Nuclear e Qualidade, que sustenta todo o programa. Sem ela, o submarino nuclear não seria apenas vulnerável, mas incapaz de cumprir seu papel estratégico.

O "lobo do Atlântico Sul"

Entre as profundezas do Atlântico Sul e a superfície aparentemente tranquila, o futuro submarino nuclear SN10 Álvaro Alberto se projetará silencioso, estratégico e letal. Ainda em fase de projeto, ele já simboliza a ambição da Marinha do Brasil de dominar tecnologias de ponta e ampliar a capacidade de dissuasão no Atlântico Sul.

Mesmo antes de sua construção, o simples planejamento do SN10 Álvaro Alberto cria uma camada de dissuasão: potenciais adversários sabem que uma plataforma de propulsão nuclear brasileira poderá no futuro, operar de forma autônoma, silenciosa e precisa, impondo incerteza sobre deslocamentos e operações. Esse efeito estratégico, mesmo em planejamento, é uma ferramenta poderosa de projeção de poder.

A disciplina, o rigor na engenharia e a supervisão estratégica da Secretaria Naval de Segurança Nuclear e Qualidade garantem que, quando concluído, o submarino seja seguro, confiável e capaz de cumprir missões complexas. Assim como um lobo calcula cada movimento antes de atacar, o SN10 Álvaro Alberto será projetado para se mover com paciência, coletar informações e posicionar-se estrategicamente nos momentos críticos.

Mais do que uma arma, o projeto do SN10 Álvaro Alberto representa soberania, ciência, tecnologia e inovação. Ele impulsiona a indústria nacional, fomenta o conhecimento técnico e demonstra que o Brasil pode de forma autônoma, desenvolver plataformas estratégicas para proteger seus interesses em águas internacionais.

Quando estiver operacional, o SN10 Álvaro Alberto deverá incorporar sistemas de navegação inteligente, sensores avançados e contramedidas eletrônicas, tornando-se um verdadeiro guardião silencioso da "Amazônia Azul". A combinação de tecnologia, disciplina da tripulação e rigor da segurança nuclear transformará esse submarino em um predador invisível, letal e estratégico.

Como lobo entre as sombras e correntes marítimas, o futuro SN10 Álvaro Alberto será invisível, preciso e temível, o silencioso guardião da soberania nacional, símbolo da paciência, disciplina e excelência tecnológica que definem o futuro da Marinha do Brasil.


por Angelo Nicolaci


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