O recente ataque realizado pelos rebeldes Houthi contra o graneleiro MV Magic Seas, seguido pela ofensiva contra o Eternity C, marca um preocupante retorno da campanha de agressões a navios mercantes no sul do Mar Vermelho. Após um hiato desde dezembro de 2024, os Houthis voltam a atacar com métodos cada vez mais sofisticados e letais, ampliando as tensões no comércio marítimo global.
O ataque ao Magic Seas, registrado em vídeo com produção cuidadosamente planejada, não é apenas um ato de violência. Trata-se de um movimento estratégico, pensado para projetar força, gerar propaganda e reafirmar a capacidade operacional do grupo, numa espécie de “marketing militar”. O vídeo lembra fortemente a gravação do sequestro do Galaxy Leader, em novembro de 2023, evento que inaugurou a escalada de ações contra navios mercantes na região.
O uso combinado de mísseis, drones e barcos não tripulados demonstra como o conflito assimétrico tem evoluído rapidamente. Essas táticas, baratas e de difícil detecção, impõem riscos reais até mesmo aos navios mais modernos e evidenciam o quanto as defesas tradicionais podem ser ineficazes em certos cenários.
Mais grave ainda foi o ataque ao Eternity C, que resultou na morte de três marinheiros filipinos, um claro lembrete de que o custo humano dessas operações vai muito além dos prejuízos econômicos. Os relatos apontam que o ataque foi simultâneo e extremamente agressivo, envolvendo drones marítimos, lanchas rápidas e até lançadores de RPGs. Este tipo de ofensiva, típica de guerra irregular, transforma o Mar Vermelho em uma zona de risco permanente.
O Departamento de Estado dos EUA classificou os ataques como atos terroristas não provocados, reafirmando o compromisso de proteger a liberdade de navegação. Contudo, a realidade é mais complexa. Os Houthis vêm deixando claro que seus ataques são seletivos, mirando embarcações ligadas, direta ou indiretamente, a Israel ou a seus aliados. Segundo dados da Windward, cerca de 1.113 navios atracaram em portos israelenses nos últimos seis meses, e mais de 15.000 embarcações gerenciadas comercialmente pelas mesmas empresas estão potencialmente sob ameaça.
Um alerta para o comércio global
O impacto disso vai muito além da região. Ao colocar um sexto da frota marítima global sob risco potencial, os Houthis elevam o grau de incerteza nos corredores marítimos mais estratégicos do planeta. A crise no Mar Vermelho não é apenas um problema regional: trata-se de um desafio direto ao comércio mundial, ao sistema de seguros marítimos e à própria ordem econômica global.
Os ataques também revelam uma realidade incômoda: mesmo com a presença militar das principais potências, como EUA e seus aliados, a capacidade de proteger o tráfego comercial em zonas de conflito permanece limitada. Além disso, os Houthis, ao aliarem tática militar e propaganda digital, mostram como grupos não estatais podem, com poucos recursos, paralisar cadeias logísticas inteiras e comprometer vidas.
Considerações finais
Por mais que a reação internacional condene os ataques, o conflito tende a se prolongar. Os Houthis estão utilizando o Mar Vermelho como palco para ampliar sua influência política e militar, com foco não apenas no Iêmen, mas em todo o Oriente Médio.
O mundo, por sua vez, se vê diante de um impasse: proteger a navegação mercante sem mergulhar em uma nova escalada militar aberta. Até lá, cada navio que cruzar o sul do Mar Vermelho, mesmo que sem ligação com o conflito, navegará sob risco.
O que está em jogo vai muito além da segurança de cargueiros: trata-se do futuro da navegação global em tempos de guerra híbrida.
por Angelo Nicolaci
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