terça-feira, 23 de setembro de 2025

"A verdade sobre o MANSUP: soberania tecnológica brasileira permanece assegurada"

Nas últimas semanas, o jornalista Luís Nassif publicou dois artigos no Jornal GGN — “MANSUP: Quando o orgulho nacional muda de bandeira” e “A desnacionalização silenciosa da tecnologia de defesa brasileira” — nos quais sugere que o Brasil teria perdido o controle sobre o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), afirmando erroneamente que haveria desnacionalização da tecnologia e comprometimento da soberania. Contudo, ao analisar os fatos e os dados técnicos disponíveis, fica evidente que tais afirmações não se sustentam, tratando-se de opiniões sem lastro na realidade, distantes do que efetivamente ocorre no setor de defesa brasileiro.

O MANSUP foi concebido como um míssil antinavio 100% nacional, fruto da cooperação entre a SIATT, a Avibras, a Omnisys e a Marinha do Brasil. Desde sua gênese, a propriedade intelectual do MANSUP pertence à Marinha do Brasil e foi licenciada para a SIATT produzir e comercializar tanto no mercado nacional quanto internacional. A Omnisys é responsável pelo desenvolvimento do autodiretor do míssil, garantindo tecnologia de ponta em guiagem e precisão. Isso significa que o Brasil não perdeu controle algum sobre a tecnologia desenvolvida. Ao contrário, a consolidação do MANSUP representa um marco de soberania, colocando o país no seleto grupo de nações capazes de desenvolver armamento antinavio de forma independente. O contrato que regula essa licença foi assinado em 2024, garantindo formalmente os direitos da Marinha e a operação da SIATT como produtora e distribuidora do sistema.

Em setembro de 2023, a EDGE Group, conglomerado de defesa dos Emirados Árabes Unidos, adquiriu 49,9% do capital da SIATT, enquanto os acionistas fundadores brasileiros mantêm os outros 50,1%. A EDGE Group conta com 40% do capital votante, enquanto os outros 60% do capital votante, permanecem nas mãos dos acionistas fundadores brasileiros da SIATT. Essa estrutura acionária garante que, apesar da parceria estratégica com o EDGE Group, a SIATT continue sendo uma empresa nacional, sob controle majoritário brasileiro. Além disso, o projeto MANSUP-ER, que utiliza tecnologia derivada do MANSUP, está sendo financiado pelo EDGE. Assim, a propriedade intelectual do MANSUP-ER será compartilhada entre a SIATT, a Marinha do Brasil e o EDGE, respeitando a proporção de investimento de cada parte no desenvolvimento do sistema. Essa parceria visa fortalecer a capacidade de exportação da empresa e ampliar a cooperação internacional, sem comprometer a soberania tecnológica nacional.

A evolução natural do projeto deu origem ao MANSUP-ER (Extended Range), com alcance ampliado para cerca de 200 km. Nessa fase, houve ampliação de cooperação com parceiros internacionais, mas sem qualquer perda de soberania. A SIATT detém participação direta na concepção e no desenvolvimento, compartilhando propriedade intelectual e industrial da versão estendida. Trata-se de uma prática comum em programas de defesa de alta complexidade, que garante acesso a tecnologias críticas ao mesmo tempo em que preserva a participação brasileira como parceiro estratégico. Portanto, ao contrário da matéria de Nassif, o que existe não é desnacionalização, mas sim cooperação tecnológica estruturada, que fortalece a capacidade nacional e garante evolução contínua do programa.

Além disso, a SIATT desenvolveu a variante do MANSUP lançável a partir da plataforma ASTROS, já integrada às capacidades de defesa costeira do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Essa adaptação permite a utilização do míssil em operações terrestres, ampliando sua versatilidade e reforçando a defesa nacional, sem comprometer a soberania tecnológica.

Outro equívoco nos textos do jornalista, que erroneamente afirmou que a SIATT teria perdido caráter nacional. A realidade é que a SIATT segue sendo empresa brasileira, estratégica e sob controle nacional, responsável por diversos programas cruciais de defesa, como o próprio MANSUP, o ATGM MAX 1.2AC, sistemas de guiagem e integração tecnológica avançada, como é o caso da integração do MANSUP a plataforma Astros. O investimento estrangeiro em empresas estratégicas de defesa é regulado e supervisionado pelo Estado brasileiro, sem abrir mão do controle sobre tecnologias sensíveis. Esse modelo permite a entrada de recursos e conhecimentos, mas sempre preservando a soberania.

O desenvolvimento do MANSUP colocou a Marinha do Brasil em um novo patamar, reduzindo dependências externas e garantindo ao país autonomia em um dos setores mais sensíveis da defesa. Com a versão original já consolidada, a variante ASTROS em operação pelo Corpo de Fuzileiros Navais, e a versão estendida em desenvolvimento, o Brasil assegura que sua frota naval e suas plataformas terrestres tenham meios modernos, eficazes e produzidos em território nacional, com participação ativa da indústria local.

As reportagens de Luís Nassif refletem suas opiniões, mas não correspondem à realidade factual do setor de defesa. O Brasil não apenas mantém pleno controle sobre o MANSUP como também participa da evolução do MANSUP-ER em posição estratégica. A SIATT continua sendo uma empresa nacional, atuando como guardiã e desenvolvedora de tecnologias críticas. O que se observa, portanto, é exatamente o oposto: longe de uma desnacionalização, o programa MANSUP é símbolo de soberania, de fortalecimento tecnológico e da capacidade do Brasil em competir no cenário global de defesa.


por Angelo Nicolaci


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*Nota: Após a publicação, o jornalista Luís Nassif nos contatou e expressou, em comentário, sua posição quanto à análise apresentada. Agradecemos o reconhecimento à precisão do nosso trabalho e às informações compartilhadas, que contribuíram para enriquecer o debate. Em atenção às suas observações, retificamos os pontos em que mencionamos questões de viés ideológico, aspecto que não correspondeu ao enfoque de sua análise. Reiteramos nosso compromisso em contribuir para o debate técnico e construtivo sobre os temas de defesa nacional.


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2 comentários:

  1. Prezados, bom material que aproiveitei para retificar na minha matéria. O único erro da reportagem foi insinuar viés ideológico na minha análise. Guardo, com muito orgulho, comendas que recebi do Instituto Militatr de Engenharia e da Marinha pela defesa da engenharia militar do Brasil. Outro engano é dizer que "insinuei" coisas. Não "insinuei" nada. Afirmei e, pelo que a reportagem mostra, estava errado e, portanto, prontamente retificado.

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    1. Prezado Nassif,

      Agradecemos pelo reconhecimento e pela utilização de nosso material em sua matéria. É muito importante para nós ver nosso trabalho contribuindo para o debate.

      Quanto às observações, recebemos com todo respeito suas colocações e nos colocamos totalmente à disposição para retificar quaisquer interpretações que possam ter sugerido viés ideológico ou uso inadequado dos termos. Nosso objetivo é sempre informar com clareza, equilíbrio e rigor, sem jamais desqualificar ou insinuar de forma indevida a atuação de colegas e analistas.

      Nosso compromisso é com a construção de um diálogo respeitoso, aberto e cooperativo, especialmente em temas tão relevantes para a defesa e a soberania nacional.

      Conte conosco para seguir contribuindo para esse debate de forma construtiva.

      Atenciosamente,

      Angelo Nicolaci
      editor GBN Defense

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