
O ministro da Defesa francês, Hervé Morin, disse nesta terça-feira que a presença de componentes estrangeiros nos aviões Rafale não comprometerá a transferência de tecnologia ao Brasil caso a proposta da França seja a vencedora na licitação da Força Aérea Brasileira (FAB) para compra de novos caças.
Em entrevista na sede do Consulado da França no Rio de Janeiro, o ministro garantiu que esses componentes "importados" não serão um obstáculo para a proposta francesa apresentada à FAB, que considera fundamental a transferência tecnológica.
"Isso não é um problema. Todos os equipamentos do mundo têm pequenos componentes de outros países. São tijolinhos tecnológicos, pequenos detalhes. Quando se fala em transferência de tecnologia e parceria tecnológica, para nós não é problema", afirmou Morin.
A francesa Dassault, com o Rafale, a norte-americana Boeing, com o F-18 Super Hornet, e a sueca Saab, com o Gripen NG, disputam o contrato para a venda de 36 caças de multiemprego à FAB.
Além de considerar os caças franceses superiores aos da Boeing e da Saab, o ministro destacou a boa relação política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a afinidade de ambos os países nas discussões internacionais.
"O nosso é o melhor avião. Nós temos todo o conjunto. Temos uma parceria política, propomos uma parceria industrial e tecnológica e é melhor quando você olha a capacidade operacional", disse.
Morin se reuniu nesta terça-feira com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que afirmou que a escolha da proposta vencedora vai levar em conta, além da questão política, os critérios operacional, transferência de tecnologia, capacitação industrial e preço.
"O critério político vamos analisar... (há uma pressão) muito grande dos três, do presidente Obama, Sarkozy e da administração sueca. Isso é normal. É interesse de Estado", disse Jobim.
Morin provocou o concorrente sueco ao ser questionado sobre o preço do caça francês, que seria o dobro do valor ofertado pela Saab.
"O nosso avião está voando e o deles não", afirmou ele, destacando que os caças Rafale já são utilizados pela Força Aérea francesa, enquanto os caças Gripen NG estão em fase experimental.
O ministro francês acrescentou que se o Brasil optar pela compra dos caças Rafale, o projeto de aprimoramento armamentista previsto para o modelo poderá ser desenvolvido em parceira com o país.
Morin encerrou no Rio um tour pela América Latina que contou com passagens por Chile e Argentina. Ele e Jobim sobrevoaram o Rio de Janeiro para conhecer as instalações onde serão construídos os submarinos de uma parceria estratégica entre os dois países.
Os acordos já firmados com o Brasil e uma eventual vitória na licitação para compra de caças poderiam, segundo Morin, transformar o país em uma espécie de base industrial militar para atender as demandas de outros países da América Latina.
"Os chilenos e os argentinos ficaram interessados nessa parceria entre Brasil e França. A parceria estratégica com o Brasil interessa muito a todos os países da América Latina."
Fonte: G1 Notícias
Nota do Blog: Interessante a afirmação francesa de que o Rafale posui componentes importados. Eu já havia dito isso a muito tempo em debates ocorridos em outros blogs sobre aviação militar, e por lá todos diziam que eu estava louco, então agora esta ai a resposta a quem duvidava do que se tinha certeza, pois nada hoje é 100% produzido em um único país.
Angelo,
ResponderExcluirhoje vivemos num mundo globalizado, no qual a produção extrapolou os limites territoriais e as fronteiras do Estado Nacional.
A Ford, por exemplo, também não produz mais carros com componentes totalmente dos EUA e nem mesmo a Boeing, se pensarmos em stricto sensu. Os fornecedores estão espalhados pelo mundo. Foi-se o tempo da "indústria nacional" fechada em um único país.
No Brasil também é assim....na Embraer também é assim.
Neste sentido, e apenas neste sentido, é que podemos entender os componentes importados do Rafale.
Só que, uma coisa é vc importar peças, outra coisa é deter o conhecimento tecnológico completo sobre o caça. E isso a Rafale Internacional domina completamente e está sob o comando da França.
No outro blog fizeram uma confusão dos diabos com isso. E uma coisa não tem nada a ver com a outra. São coisas diferentes e bem diferentes.
Mas no caso do Rafale existe ainda um dado que nenhum outro concorrente pode garantir: ele permite o Brasil sair da esfera de poder (ao menos neste ponto, dos caças) dos EUA. O Rafale tem essa dimensão também, geopolítica, estratégica, que os outros não tem e nem podem ter (no caso do Super Hornet, é justamente o oposto disso me no caso da Suécia, ainda é um país com pouco peso político no mundo).
É por isso que Chile e Argentina (entre outros países da AL) esperam muito dessa parceria do Brasil com a França, pois ela pode indicar novos rumos para a AL, dada a liderança do Brasil na região. Para onde o Brasil vai, a América do Sul (e Latina) vai também.
Há toda uma discussão nos blogs sobre custos, qual caça voa mais alto, qual é o preferido de não sei quem etc.
nada disso está em jogo no FX2.
O que está em jogo é a permanência do Brasil, ou não, na esfera de influência dos EUA. E está mais do que claro que o caminho tomado é a parceria com a França (isso não tem mais volta).
O Obama é um cara simpático e legal, mas ele não ficará eternamente no poder. Portanto, o Brasil está tratando a questão como se deve: ou seja, pensando em seus interesses e não nos interesses dos EUA.
Pode escrever: ganha o Rafale no FX2 (na verdade, já ganhou faz tempo).
A discussão que se faz agora é outra. É a seguinte: como podemos viabilizar outras parcerias paralelas, seja com os Suécos e até mesmo com os EUA, tendo em vista que o FX2 não é concurso de miss...não acaba com o anùncio do escolhido.
Acho que a SAAB fará parceria industrial com a Embraer.
E acho que o Brasil poderá propor, aproveitando a boa vontade do governo do Obama, outras parcerias.
No caso da parceria com a França, ela foi pensada desde o início como um meio de, ao mesmo tempo, sair da esfera de influência direta dos EUA, mas se manter no campo dos EUA...com independência. Não existe afrontamento.
É uma política madura e estrategicamente bem feita.
abração