A Índia confirmou a aquisição de seis submarinos de propulsão independente do tipo 214, de projeto alemão, dentro do Programa P-75I, estimado em US$ 8,4 bilhões. O objetivo é equilibrar suas capacidades estratégicas frente à crescente presença da Marinha chinesa no Oceano Índico e modernizar uma frota que sofre com o envelhecimento de seus atuais meios.
O Comitê de Segurança do Gabinete indiano aprovou a decisão em 24 de agosto, abrindo caminho para as negociações contratuais. Os submarinos serão construídos localmente pela Mazagon Dock Shipbuilders Limited (MDL), em Mumbai, com apoio da alemã ThyssenKrupp Marine Systems (TKMS), reforçando a transferência de tecnologia e a integração industrial nacional.
Características técnicas e operacionais
O Tipo 214 é um submarino diesel-elétrico de 84 metros de comprimento e 1.700 toneladas de deslocamento, equipado com sistema de propulsão independente de ar (AIP) baseado em célula de combustível de hidrogênio. Essa tecnologia comprovada permite que a embarcação permaneça submersa por mais de 20 dias, um diferencial importante para patrulhas discretas no Índico.
Com autonomia de até 8.000 milhas náuticas, o submarino é adequado tanto para operações costeiras quanto para missões em pontos estratégicos de estrangulamento marítimo. A plataforma possui oito tubos de proa capazes de lançar torpedos pesados e mísseis antinavio Harpoon, além de sistemas modernos de sonar e gerenciamento de combate, que ampliam sua percepção situacional e eficiência operacional.
Experiência internacional com o Tipo 214
A escolha indiana reflete a confiança global no projeto. A Grécia foi a primeira nação da OTAN a adotar o Tipo 214, embora tenha enfrentado atrasos iniciais devido a ajustes de assinatura acústica no submarino Papanikolis. A Turquia incorporou seis unidades do modelo, batizadas de classe Reis, com forte nacionalização, incluindo sensores, sistemas de combate e torpedos próprios. Já a Coreia do Sul opera o Tipo 214 localmente sob a designação classe Son Won-il, consolidando o uso do projeto em diferentes marinhas.
A decisão de Nova Déli também representa uma preferência pela maturidade tecnológica em detrimento da inovação ainda instável. O concorrente espanhol S-80 enfrentou problemas de flutuabilidade e distribuição de peso, o que fez do projeto alemão uma aposta mais segura para atender às necessidades urgentes da Índia.
Rivalidade estratégica no Indo-Pacífico
A aquisição ocorre em um contexto de intensificação da rivalidade com a China. A Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP) expandiu suas operações no Oceano Índico, deslocando tanto submarinos nucleares quanto convencionais e apoiando-se em bases avançadas na região.
A Índia, por sua vez, aposta em uma estratégia mista: enquanto desenvolve submarinos nucleares de mísseis balísticos (SSBN) e planeja submarinos de ataque nuclear (SSN) para patrulhas de dissuasão de longo alcance, vê no Tipo 214 uma solução complementar. As embarcações convencionais, mais furtivas e de custo relativamente baixo, serão cruciais para a defesa costeira e para a vigilância de áreas sensíveis do Índico.
Impacto industrial e próximos passos
Fontes ligadas à defesa afirmam que o contrato com a TKMS não apenas preenche uma lacuna crítica de capacidade, diante da obsolescência das classes Kilo e Tipo 209 em serviço na Índia, mas também reforça os laços estratégicos com a Europa.
As entregas estão previstas para começar no início da década de 2030, condicionadas ao sucesso da transferência de tecnologia e da construção local pela MDL. Se bem-sucedido, o P-75I não só renovará a frota indiana, mas também consolidará sua posição como uma das principais forças submarinas do Indo-Pacífico.
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