
A União Europeia (UE) e o Mercosul deixaram de lado as divergências e concordaram hoje em retomar as negociações para a assinatura de um acordo comercial de livre-comércio entre os dois blocos, que teria impacto sobre 700 milhões de pessoas.
O chefe do Governo espanhol e presidente rotativo da UE neste semestre, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou hoje a concordância entre os dois blocos, superando assim as incertezas geradas nos últimos dias pela categórica oposição de países da União, como França e Irlanda, em obter um compromisso bilateral.
A retomada do diálogo, estagnado desde 2004, foi anunciada após a cúpula bilateral que os dois blocos realizaram nesta segunda-feira em Madri, paralelamente à reunião entre chefes de Estado e de Governo da UE e da América Latina e Caribe.
Após protagonizar em Teerã as negociações sobre energia nuclear, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou hoje à capital espanhola para participar do encontro entre as regiões latino-americana e europeia.
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, afirmou, em entrevista coletiva, que a primeira rodada de negociações será realizada até o início de julho.
Este acordo "tem um grande potencial econômico e fomentará também nossas relações políticas", assegurou Van Rompuy.
Embora ele tenha ressaltado que os líderes das duas regiões "estão cientes de que é preciso realizar um grande esforço", ressaltou que ambas as partes dão destaque a "esse compromisso para chegar a uma conclusão dessas negociações", cuja primeira rodada será realizará no máximo até o início de julho.
Este seria "o principal acordo comercial da União Europeia", acrescentou Zapatero. Segundo ele, o pacto teria impacto sobre mais de 700 milhões de cidadãos, nas duas regiões, com um potencial estimado em 5 bilhões de euros entre exportações do Mercosul à UE e vice-versa.
Também participaram da entrevista coletiva o presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Barroso parabenizou a presidente argentina por sua "Presidência tão efetiva" do Mercosul, que contribuiu para o reatamento do diálogo comercial com a UE, estagnado havia seis anos.
Segundo ele, a eventual assinatura de um acordo de associação entre ambos os blocos "permitirá criar uma das maiores zonas de livre-comércio do mundo", com "magníficas oportunidades".
Entre os desafios que ainda devem ser superados para se alcançar esse acordo, Barroso citou a liberalização do setor de serviços, a proteção dos direitos de propriedade intelectual, a salvaguarda das denominações de origem e a eliminação das tarifas de exportação.
Cristina Kirchner, por sua vez, destacou as grandes vantagens que as duas partes podem obter e pediu aos europeus e latino-americanos que acabem com o protecionismo, motivo da estagnação nas negociações.
"Em um momento de crise, e ainda quando não há crise, toda medida de protecionismo, como um desvio ou distorção dos instrumentos macroeconômicos de um país, é reprovável", criticou a líder.
Entre essas medidas protecionistas reprováveis, a governante mencionou os subsídios à produção, as promoções fiscais e a isenção de impostos a determinadas exportações em detrimento das demais.
A retomada das negociações bilaterais entre Mercosul e o bloco europeu já era facilitada pela proposta formulada no último dia 4 pela própria Comissão Europeia. Para o órgão, este é mais um passo para "reforçar a economia global depois da crise", como disse então o próprio Barroso.
Já naquela ocasião, foram bem ouvidas as vozes discordantes no seio da União Europeia. Liderados pela França, os países opositores à retomada do diálogo comercial advertiram sobre os danos que um eventual acordo de associação com o Mercosul poderia acarretar à agricultura e pecuária do bloco europeu.
Horas antes do consenso em Madri, durante o Conselho de Ministros de Agricultura realizado hoje em Bruxelas, 16 titulares do setor expressaram o temor de que o restabelecimento do diálogo com o Mercosul prejudique a agricultura e a criação de gado dos países europeus.
França, Irlanda, Grécia, Hungria, Áustria, Luxemburgo, Polônia, Finlândia, Romênia e Chipre, que assinaram uma declaração contra o reinício das negociações com o Mercosul, rejeitaram novas concessões de liberalização do setor agrícola.
Um dos argumentos citados pela França para manter sua postura hostil ao reatamento do diálogo com o bloco sul-americano é a necessidade de que antes sejam concluídas as negociações da Rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial.
A declaração adotada hoje pelo Mercosul e pela UE busca aliviar essa preocupação ao adotar o compromisso de alcançar "o mais rápido possível" uma conclusão "equilibrada" da Rodada de Doha.
Fonte: EFE
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