quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ahmadinejad diz aceitar proposta de Lula para troca de urânio


O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse nesta quarta-feira, em conversa por telefone com o colega venezuelano, Hugo Chávez, aceitar "em princípio" a proposta do brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para realizar a troca de urânio iraniano pouco enriquecido por combustível nuclear.

Segundo a agência de notícias local Fars, Ahmadinejad anunciou que aceitava a proposta do presidente Lula e pediu para continuar em Teerã as conversas sobre os aspectos técnicos.

O site de Ahmadinejad também divulgou a conversa e disse que "o essencial das conversações entre Ahmadinejad e Chávez foi a aprovação por parte do presidente iraniano das bases da proposta brasileira".

Nem Fars, nem o site do presidente deram detalhes da suposta proposta de Lula.

No último dia 27, em visita a Teerã, o ministro de Relações Exteriores Celso Amorim afirmou que o Brasil estaria disposto a examinar uma eventual proposta para a troca de urânio enriquecido iraniano em seu território. O país já havia sido pleiteado para a troca do combustível nuclear, mas nunca recebeu proposta formal de Teerã.

Dois dias depois, contudo, Lula descartou a possibilidade de o Brasil ser depositário do urânio e afirmou que há países mais próximos do território iraniano que podem desempenhar esse papel --as maiores apostas estão com a Turquia.

"O Brasil não trabalha com a hipótese de ser depositário do urânio do Irã. Tem países mais próximos que poderiam depositar urânio, mas isso também vai depender da disposição do Irã", afirmou Lula, depois de reunião com Chávez, no Palácio do Itamaraty.

Turquia

A proposta foi levantada inicialmente pelo diretor da organização iraniana de energia atômica, Ali Akbar Salehi, na linha do acordo assinado no ano passado com as potências e a ONU (Organização das Nações Unidas) para o enriquecimento de seu combustível nuclear em solo exterior.

Caso aceitasse a proposta, Brasil receberia o urânio iraniano enriquecido a 3,5% e entregaria combustível enriquecido a 20% --suficiente para geração de energia e inviável para a produção de armas.

Em fevereiro, contudo, Amorim descartou completamente a possibilidade de o Brasil vir a enriquecer o urânio para o Irã. "Pelo que tenho lido, o Brasil, não tecnologicamente, mas industrialmente, não teria condições de produzir essa quantidade que seria necessária. Se você não tem condições de fazer industrialmente, não adianta discutir hipótese", afirmou.

O Brasil defende a ideia de que a Turquia seja a depositária de urânio pouco enriquecido iraniano. Lula já discutiu a questão no início do mês, em Washington, com o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente dos EUA, Barack Obama, como alternativa às duras sanções que o americano vem defendendo.

Pela proposta das potências, sob mediação da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o Irã embarcaria 70% do seu estoque de urânio baixamente enriquecido, que seria convertido na França ou Rússia em cápsulas de combustível compatíveis para produção de isótopos de uso médico.

Teerã recusou a proposta dizendo que o projeto de acordo não apresentava as garantias necessárias para a entrega do combustível. Depois disso, o país apresentou uma contraproposta para um intercâmbio gradual e intercalou acenos de diálogo com duras declarações sobre a soberania de seu programa nuclear.

Com a paralisação das negociações, o Irã anunciou que começou a enriquecer o urânio a 20% em fevereiro passado, mesmo diante da repreensão das potências. Desde então, os EUA lideram uma campanha por uma nova rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU, à qual o Brasil se opõe.

Lula deve viajar para Teerã em 15 de maio próximo, para uma visita em princípio de 48 horas. Dois dias depois, em 17 de maio, Irã vai participar da cúpula do Grupo dos 15, do qual o Brasil faz parte e está previsto que também participe o presidente venezuelano. A presença de Lula ainda não está confirmada.

Fonte: Folha

Nenhum comentário:

Postar um comentário