A Avibras divulgou um comunicado anunciando o avanço no processo de transição iniciado em agosto. Segundo a empresa, auditorias, diligências, manutenção das instalações industriais e preservação do acervo tecnológico já estão em andamento. Atividades essenciais foram retomadas, reuniões técnicas com clientes estratégicos foram realizadas e há planejamento para restaurar a plena capacidade operacional após três anos de paralisação.
O comunicado fala em uma “Nova Avibras”, alicerçada em governança renovada, estabilidade institucional e estrutura de capital voltada para o longo prazo. Mas é impossível analisar esse anúncio sem considerar o histórico da empresa e o contexto mais amplo da indústria nacional de defesa. A Avibras já enfrentou crises sucessivas, sendo a mais recente em 2022, quando entrou em recuperação judicial devido à queda de contratos internacionais agravada pela pandemia. Nos últimos anos, planos de reestruturação foram aprovados por credores, mas embargos judiciais e exigências fiscais, como certidões negativas de débitos, atrasaram ou paralisaram a execução, mantendo a empresa em um ciclo de incertezas.
O que se observa é que a fragilidade da Avibras não é apenas problema da empresa, mas reflexo de um cenário sistêmico de ausência de políticas de Estado consistentes para a Base Industrial de Defesa (BID). A falta de previsibilidade orçamentária, a ausência de mecanismos claros de incentivo a investimentos estratégicos e a inexistência de apoio real e estruturado do governo deixam empresas essenciais à soberania nacional vulneráveis a crises recorrentes. Sem uma política robusta e contínua, mesmo empresas com tecnologia crítica, como a Avibras, que domina propulsão, integração de sistemas, mísseis, veículos especiais e lançadores de satélites, ficam à mercê de obstáculos financeiros e jurídicos que poderiam ser mitigados com planejamento estratégico de Estado.
O atual momento exige mais do que retórica. A Avibras precisa demonstrar que aprendeu com seus erros passados, recuperando credibilidade junto a trabalhadores, fornecedores e clientes. Mas, ao mesmo tempo, é responsabilidade do Estado criar condições de estabilidade e previsibilidade, garantindo que crises financeiras e burocráticas não comprometam a soberania tecnológica do país. Cada atraso, cada disputa judicial, cada interrupção de pagamento a funcionários ou fornecedores representa não apenas perda de capital humano, mas erosão da autonomia estratégica brasileira.
Se a Avibras conseguir superar entraves históricos e avançar de forma consistente, poderá se tornar um pilar da defesa nacional e da inovação tecnológica, contribuindo para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros. Mas sem uma política de Estado clara e contínua, a empresa continuará a repetir o ciclo de crises, transformando uma das mais importantes indústrias estratégicas nacionais em exemplo de como a falta de visão governamental, apoio financeiro e planejamento de longo prazo pode corroer décadas de investimento e conhecimento técnico.
Soberania não se improvisa, não se terceiriza e não se sustenta apenas com discursos. O futuro da Avibras é, acima de tudo, responsabilidade do Brasil, do governo, da sociedade e de todos que entendem que a capacidade de defender e projetar tecnologia própria não é luxo, mas necessidade estratégica.
por Angelo Nicolaci
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