
Quem analisa os concorrentes no páreo para a renovação da frota de aeronaves militares da FAB, ou mais precisamente o sueco Gripen NG, o francês Rafale e o americano F-18, convence-se de que a proposta francesa é a pior de todas, assim como concluiu o relatório da Aeronáutica Militar.
O certame deveria prosseguir apenas entre suecos e americanos. Contra o Rafale o próprio ministro da Defesa da França, Hervé Morin, deu uma explicação convincente: "O Rafale é uma Ferrari, o Gripen, um Volvo". O Brasil precisa justamente de um Volvo para ir ao supermercado, e não de uma Ferrari - de altíssima performance, reservada para oportunidades especialíssimas.
A FAB precisa, para defender seu espaço aéreo, de um meio confiável de baixo consumo, até para não drenar seu "suado" orçamento e se comprometer a um ônus econômico maior do que sua perna. A hora voada do Rafale/Ferrari custa US$ 14 mil, do Gripen/Volvo, US$ 4.000. A diferença em performance é quase inexpressiva. Dispensa-se, portanto, comentários e delongas quando se esbarra numa diferença técnica que não justifica certamente um sacrifício econômico superior em 250%.
Se o Volvo satisfaz, a baixo custo, todas as exigências de uma família, dando-lhe a segurança de que precisa, comprar uma Ferrari representaria uma maluquice, como o ministro Morin se encarrega de esclarecer.
Porém, se as circunstâncias levassem a procurar um desempenho de Ferrari, o modelo norte-americano, oferecido pela Boeing, fabricante do F18, ganha em tudo do Rafale e oferece, ainda, um custo 30% inferior.
Para que o Rafale? Seria uma questão política? Isso tem que passar no Conselho de Segurança Nacional, no Congresso e, eventualmente, num debate qualificado. Não pode ficar restrito a um presidente da República que tem mais 11 meses de mandato. O Brasil vai continuar depois dele.
Se analisarmos a transferência de tecnologia prometida pela França ao Brasil, verificaremos que o Rafale e o F18 são projetos consolidados e globalizados. O Brasil seria mero espectador e usuário das tecnologias empregadas. No projeto Gripen, aberto a modificações substantivas, presta-se (como especificado na proposta e reconhecido pela FAB) a uma participação direta. Considere-se ainda que a supremacia econômica do Brasil em relação à Suécia possibilitaria ao Brasil uma relação favorável e exercer uma soberania compartilhada sobre o projeto. Isso se traduz numa garantia de longo prazo que Rafale e F18 não possuem.
Mas, se fosse o caso de escolher o parceiro de melhor tecnologia, a Boeing é quem dá um banho na Dassault francesa. Os americanos possuem projetos como do F-22, F-35 dentre tantos outros na vanguarda tecnológica. Os franceses estão atrasados 20 anos. A Boeing, em terra, é um oceano de conhecimentos tecnológicos; a Dassault, apenas uma lagoa. A Saab, fabricante do Gripen, tenta entrar num nicho menos pretensioso, equilibrar-se no custo-benefício suportável para economias emergentes e fornecer um meio inovador e excelente meio de defesa.
A escolha do Rafale, anunciada pelo governo atropelando prazos e processos licitatóorios, não convence. O presidente Lula terá que fornecer explicações consistentes e muito mais objetivas de quanto sejam seus entendimentos com o presidente Sarkozy.
Fonte: O Tempo
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