domingo, 15 de novembro de 2009

Insegurança pressiona governos na América do Sul


Na contramão da reativação econômica e da redução da pobreza na última década, os índices de violência na América do Sul não cederam ou pioraram. A insegurança crescente contamina a agenda política da região, colocando os governos de centro-esquerda contra as cordas e dando fôlego às oposições.

Da Argentina ao Equador e também na Venezuela, a insegurança já supera os problemas econômicos como a principal preocupação da população. Os números são eloquentes: com apenas 8% da população mundial, a América Latina e o Caribe respondem por um terço dos homicídios e mais de 50% dos sequestros mundiais.

Nos oito países da América do Sul (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela) com dados disponíveis, a taxa de homicídios cresceu, em média, 34% de 1994 a 2005. O fenômeno tem reflexos eleitorais. No Chile, na Bolívia e no Uruguai, que elegem presidentes neste ano, é bandeira da oposição de centro-direita contra candidatos governistas.

Mas por que a segurança ficou para trás? Para Paula Miraglia, diretora-executiva do Ilanud (divisão da ONU para prevenção de delitos na região), é preciso primeiro dissociar "cuidadosamente" a violência dos fatores estruturais vinculados a ela e encarar suas causas múltiplas. A disseminação de uma nova droga --como o crack e similares em Buenos Aires ou no Rio-- tem de ser considerada como fator, por exemplo.

Não há diagnósticos precisos da questão, e a tradição militar-repressiva da região é farol quase exclusivo das políticas. Some-se ao quadro a dificuldade dos governos de esquerda com o tema. "O fato de as esquerdas considerarem esse um tema da direita provocou um vácuo", continua Miraglia.

A falta de conexão entre a política de segurança local e uma estratégia integrada regional também alenta o fracasso. "Como criar cooperação para enfrentar o narcotráfico quando estão discutindo política militar?", questiona ela.

Medo e celebridades

Na Argentina, a insegurança ajudou a construir a pior derrota do casal Cristina e Néstor Kirchner. Com popularidade em baixa, a presidente apostou na candidatura a deputado do antecessor Néstor nas eleições legislativas de junho. Ele foi eleito, mas perdeu para o dissidente Francisco De Narváez. "Ele capitalizou o silêncio oficial sobre a violência. Seu slogan, "a segurança se faz", alude à inação do governo", diz o analista Patricio Giusto.

O caso de um ex-jogador de futebol baleado durante assalto reavivou o tema no país. Enquanto o governo fala em "sensação de insegurança" alimentada pela mídia, estrelas da TV saíram a criticar a violência. "As pessoas estão fartas de que os políticos neguem a realidade", disse a popular apresentadora Mirtha Legrand.

Paraguai e Equador

Um crime isolado também foi o estopim de uma nova onda de pressão sobre o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. O sequestro do fazendeiro Fidel Zavala, há um mês, atribuído a um grupo guerrilheiro de esquerda, reacendeu a oposição no país, que tenta vincular Lugo a ações do grupo.

Segundo a pesquisa Barômetro Iberoamericano 2009, só 14% dos paraguaios confiam na polícia, menor índice da região. A gestão do presidente em segurança é aprovada por 9% (só maior que os 4% da Argentina). "O Paraguai está mais inseguro. Diante disso, a direita se fortalece e vai a extremos. O futuro de Lugo depende do desfecho desse sequestro", diz o analista Alfredo Boccia.

A fatura da segurança bate à porta de outro governo de esquerda da região. No Equador, a Justiça aceitou denúncia contra o presidente Rafael Correa feita por uma mulher que teve o marido morto durante assalto em Guayaquil. "O governo não está dando respostas eficientes", diz Simon Pacheco, da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais.

Fonte: Folha

Nenhum comentário:

Postar um comentário