quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Arábia Saudita bombardeia rebeldes no norte do Iêmen e envia tropas para a fronteira


A Arábia Saudita realizou um pesado bombardeio aéreo com aviões de caça contra rebeldes no norte do Iêmen nesta quinta-feira e está movimentando tropas terrestres perto da fronteira com o país vizinho, em uma incursão militar aparentemente destinada a ajudar o governo imenita a controlar uma rebelião xiita crescente, informaram diplomatas árabes e os rebeldes.

Os sauditas --donos de uma Força Aérea moderna raramente utilizada-- têm se preocupado cada vez mais com a possibilidade de o extremismo e a instabilidade no Iêmen atravesse as suas fronteiras, o maior exportador mundial de petróleo. A ofensiva acontece dois dias depois do assassinato de um soldado saudita, que foi atribuído aos rebeldes.

O governo do Iêmen negou qualquer ação militar da Arábia Saudita dentro de suas fronteiras. Mas o presidente iemenita é um importante aliado dos sauditas, tornando altamente improvável que o reino tenha lançado a ofensiva sem um acordo tácito com o Iêmen.

Um funcionário do governo americano disse, sob condição de anonimato, que os iemenitas não estavam envolvidos militarmente no combate.

A ofensiva levantou preocupações de outra guerra por procuração no Oriente Médio entre o Irã e a Arábia Saudita, um aliado-chave dos EUA. Governado por um regime clerical xiita, o Irã é suspeito de ajudar os rebeldes do Iêmen, enquanto a Arábia Saudita, que é sunita, é o mais ostensivo rival do Irã na região.

A mesma dinâmica entrou em ação no Líbano, onde o Irã apoia o grupo xiita Hizbollah, enquanto a Arábia Saudita favorece uma facção apoiada pelos EUA, e também no Iraque, onde a Arábia Saudita e o Irã têm apoiado os lados rivais no conflito entre sunitas e xiitas.

Um alto assessor do governo saudita confirmou que uma operação "em grande escala" está em curso na fronteira Arábia Saudita-Iêmen com reforços enviados para a área montanhosa.

O ataque acontece em um momento em que o governo do Iêmen luta contra um sentimento separatista cada vez maior. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão preocupados porque a instabilidade no país árabe pode ser explorada pela rede terrorista Al Qaeda na realização de ataques terroristas.

Em maio, O líder da rede terrorista Al Qaeda na península arábica manifestou apoio ao levante separatista no sul do Iêmen que, desde o final de abril, originou confrontos violentos no país. O norte e o sul do Iêmen foram unificados em 1990, mas, quatro anos depois, uma tentativa de separação levou o país a uma guerra civil de dez semanas que terminou com a derrota da milícia do sul por parte das forças militares lideradas pelo presidente Ali Abdullah Saleh.

Desde então, grupos do sul denunciaram a marginalização sofrida pelo sul por parte do governo de Sana.

Um dos países mais pobres fora da África, o Iêmen é um dos redutos da Al Qaeda na península Arábica, apesar das campanhas de segurança iniciadas pelas autoridades contra a organização comandada pelo saudita Osama bin Laden, cuja família paterna é iemenita. O braço da rede Al Qaeda no Iêmen publicou neste ano um vídeo na Internet em que anunciou a mudança de seu nome para Al Qaeda na península Arábica, em uma aparente tentativa de revitalizar o grupo terrorista na Arábia Saudita, país em que esteve sob forte repressão.

O regime saudita, que governa as duas cidades mais sagrados do islã --Meca e Medina-- mantém o país sob um estrito controle social e religioso, seguindo o rígido movimento wahhabita, e combate a Al Qaeda desde maio de 2003, quando terroristas do grupo lançaram bombas contra o país. O próprio Bin Laden, filho de um empreiteiro iemenita que enriqueceu a serviço da família real, fazia parte da elite saudita e saiu do país no início dos anos 90 quando sua oposição à presença de tropas americana em solo saudita transformou-se em desafio aberto ao governo.

Em setembro, o jornal árabe internacional "Al Hayat" divulgou um relatório do Ministério do Interior saudita informando que o governo tinha conseguido frustrar nos últimos seis anos 31 ataques de grupos extremistas vinculados à Al Qaeda no país. Segundo fontes confidenciais citadas, a maioria dos ataques tinha como alvo instalações petrolíferas do reino.

Esse anúncio aconteceu dias depois do mais ousado ataque atribuído à Al Qaeda no país nos anos recentes. No último dia 27 de agosto, um terrorista tentou matar o vice-ministro de Interior, o príncipe Mohammed bin Nayef Abdel Aziz, detonando os explosivos que tinha dentro de seu corpo. O ataque a um dos responsáveis pelo combate ao terrorismo chamou a atenção para o uso de supositórios-bomba por militantes da rede terrorista.

Fonte: Folha

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