domingo, 30 de novembro de 2025

Dom Pedro II – 200 anos do nascimento do Estadista que projetou o Brasil como potência

Em 2 de dezembro, completam-se 200 anos do nascimento de Dom Pedro II, o segundo e mais longevo imperador do Brasil, uma figura que, mais do que um monarca, representou um projeto de Estado, uma visão estratégica de nação e uma concepção de soberania que moldou as bases do Brasil moderno. Sua trajetória, frequentemente reduzida a capítulos escolares ou romantizada em pinturas históricas, revela, quando analisada com rigor, um dos períodos de maior estabilidade política, crescimento territorial, avanço científico e projeção internacional da história brasileira.

Dom Pedro II assumiu o poder em 1840, aos 14 anos de idade, em um Brasil ainda em formação, fragmentado por revoltas regionais, com infraestrutura incipiente, instabilidade institucional e limitado reconhecimento internacional. Ao longo de quase cinco décadas de governo, o Império do Brasil consolidou fronteiras, construiu instituições sólidas, expandiu sua economia, desenvolveu ciência, educação, transportes e indústria, e passou a ser reconhecido como uma potência regional, respeitada por nações europeias e pelos Estados Unidos.

Sob seu comando, o Brasil alcançou uma rara combinação de estabilidade política, crescimento econômico e prestígio internacional na América Latina do século XIX. Enquanto vizinhos viviam ciclos constantes de golpes, guerras civis e fragmentação territorial, o Brasil manteve unidade nacional, coesão institucional e capacidade de projeção externa, elemento essencial de qualquer potência.

O Império estruturou as Forças Armadas como instrumentos de Estado, não de facções políticas, reorganizou a administração pública e promoveu a profissionalização do serviço civil e militar. A Marinha Imperial tornou-se uma das mais poderosas do mundo no período. O Exército foi modernizado e testado em conflitos reais, sobretudo na Guerra do Paraguai, quando o Brasil demonstrou capacidade logística, industrial, diplomática e militar compatível com grandes potências da época. O país produzia seus próprios navios, canhões e munições no Arsenal de Marinha e em fábricas nacionais, algo que hoje ainda figura como desafio estratégico.

Dom Pedro II exerceu liderança baseada em conhecimento, diplomacia e visão de futuro. Era fluente em diversos idiomas, correspondia-se com cientistas de renome internacional, como Charles Darwin, Louis Pasteur e Victor Hugo, financiava estudos científicos, apoiava a educação pública e privada e fomentava a criação de bibliotecas, museus, observatórios e escolas técnicas. Diferentemente de uma elite dirigente limitada ao curto prazo, ele compreendia que soberania verdadeira nasce do conhecimento, da tecnologia e da educação de seu povo.

Sob a monarquia, o Brasil investiu fortemente em ferrovias, telégrafos, portos, serviços postais, iluminação pública, ensino superior e pesquisa científica. Foi durante o Império que se estabeleceram bases reais para a industrialização nacional, com estímulos à siderurgia, à mecanização agrícola e à formação técnica, algo raro em economias coloniais recém-independentes.

No plano internacional, Dom Pedro II posicionou o Brasil como ator respeitado na diplomacia global. O país atuava com independência, sem submissão automática a nenhuma potência. A política externa do Império buscava equilíbrio, mediação e defesa dos interesses nacionais, seja na Bacia do Prata, seja nas relações com Europa e Estados Unidos. O Brasil não era satélite: era um ator soberano.

O contraste com os rumos assumidos após a Proclamação da República é incontornável do ponto de vista histórico. A transição não ocorreu por vontade popular ampla, tampouco foi fruto de uma revolução social estruturada. O que se seguiu foram décadas de instabilidade, golpes, fragmentação institucional, crises econômicas cíclicas e perda gradual de projeto nacional. O país, que havia atingido alto grau de previsibilidade institucional sob o Império, entrou em um ciclo recorrente de rupturas, centralismo inconsistente, conflitos civis e experiências políticas frequentemente desconectadas de uma visão estratégica de longo prazo.

Isso não significa que a República não tenha produzido avanços, mas é inegável que, em muitos momentos, o Brasil perdeu continuidade, planejamento e senso de Estado, três pilares que marcaram o período de Dom Pedro II. A substituição de um projeto de nação por projetos de poder, muitas vezes pessoais ou partidários, comprometeu a consolidação do Brasil como potência em diversos momentos do século XX e início do século XXI.

Revisitar Dom Pedro II no bicentenário de seu nascimento não é um exercício de nostalgia monarquista, mas uma reflexão estratégica sobre liderança, visão de Estado, planejamento de longo prazo e soberania. Num mundo marcado por competição entre grandes potências, guerras híbridas, disputas tecnológicas e crise de governança global, o exemplo do Imperador, um governante que pensava em décadas, não em mandatos, torna-se mais atual do que nunca.

Dom Pedro II não governava para si. Governava para o Brasil do futuro.

Talvez essa seja a maior lição de seus 200 anos: uma nação só se torna verdadeiramente grande quando é conduzida por líderes que amam seu povo, compreendem seu papel histórico e estão dispostos a trabalhar não para seu próprio tempo, mas para as próximas gerações.

Acompanhe essa série especial do GBN Defense em quatro partes.


por Angelo Nicolaci


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