sexta-feira, 5 de junho de 2020

CVMARJ - 18 anos preservando a memória militar brasileira: Entrevista exclusiva


No próximo dia 6 de junho, o Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) completa 18 anos de muitas histórias e desafios na sua missão de propagar e preservar uma importante faceta da história militar brasileira. 

O clube surgiu em 6 de junho de 2002, com sua ATA de Fundação sendo assinada no capot de um Jeep de 1942, a data Magna do CVMARJ coincide com a comemoração do "Dia D", dia da invasão da Normandia pelas Tropas Aliadas na II GM. Desde então, o dia 6 de junho marca o inicio de uma trajetória de muito trabalho e desafios para preservar a história da motomecanização das nossas Forças Armadas. Tendo como objetivo resgatar o valor histórico dos veículos militares antigos, focando na rigorosa manutenção da originalidade dos veículos, tendo se tornando uma referência nacional quando se trata de restauração e preservação de veículos militares antigos.

Os desafios são enormes, e principalmente pelo fato de só há pouco tempo as autoridades passaram a dar alguma atenção a esta importante faceta de nossa história militar, embora ainda estejamos muito distantes do ideal, os esforços e a união de civis e militares que fazem parte de clubes como o CVMARJ, tem tomado para si a responsabilidade de manter viva nossa história, não apenas com o acervo de seus sócios, os quais possuem verdadeiras relíquias, e que na sua grande maioria ainda em condições de cruzar nossas estradas e trazer a áurea dos tempos que estes veículos equiparam diversas unidades de nossas Forças Armadas, em especial as viaturas baixadas do Exército Brasileiro tem grande destaque nas coleções, como o consagrado JEEP em suas diversas variantes, mas também resgatando peças históricas no acervo de nossas Forças Armadas e auxiliando na recuperação das mesmas, realizando um minucioso trabalho de pesquisa e restauração de diversos veículos e acessórios do acervo histórico militar brasileiro. 
Nicolaci com nosso entrevistado, Sergio Capella - Presidente do CVMARJ
Ás vésperas de atingir a maior idade, procuramos nosso amigo Sérgio Capella, um ativo defensor da preservação histórica de nossa motomecanização, o qual é membro do CVMARJ desde de 2005, é integrante da diretoria, ocupando a presidência do clube, e é uma das figuras mais emblemáticas quando o assunto são veículos militares antigos, e vamos apresentar a você um pouco melhor a história e a missão desse que é um dos mais famosos e prestigiados clubes de veículos militares antigos do Brasil, o qual teve como um dos fundadores e primeiro presidente, o músico João Alberto Barone, que além de músico já conduziu importantes trabalhos de pesquisa histórica, resultando em livros e documentários sobre a atuação brasileira na IIGM.


Nicolaci (GBN Defense): Como surgiu a ideia de criar o CVMARJ? Qual foi a principal inspiração que levou ao ponta pé inicial?

Capella: Surgiu de iniciativa de um grupo de amigos, os quais possuíam viaturas militares antigas, aqui na cidade do Rio de Janeiro. A força motriz foi a preservação histórica e reunir os apaixonados por estes veículos, possibilitando uma troca de experiências. Os fundadores do CVMARJ usaram a MVPA – Military Vehicles Preservation Association, entidade americana de preservação de viaturas militares antigas, como referência e ponto de partida.

Nicolaci (GBN Defense): Quem foram os fundadores do Clube, e como se conheceram?

Capella: Foram seis amigos que lançaram a pedra angular do CVMARJ, o João Barone, José Delatorre,  Roberto Maués, Rubens Riet, Clélio Galvão e o Humberto Cordeiro, eles fundaram o CVMARJ e constituíram a primeira diretoria, não esquecendo o Geraldo da oficina Mônaco, que ficava em Botafogo, e outros entusiastas. 

Eles se conheceram nas ruas e bares da cidade do Rio de Janeiro, pois quando identificavam alguém, com outra viatura, logo surgia uma conversa e iniciavam uma amizade, pois coadunavam dos mesmos gostos. E a partir daí, resolveram marcar encontros todas as quartas feiras, na orla de Ipanema e Leblon, assim como na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Nicolaci (GBN Defense): Qual foi inicialmente o principal foco de vocês ao criar o Clube que agora completa 18 anos?

Capella: O principal foco, inicialmente foi criar uma amizade maior entre os entusiastas da preservação das viaturas militares, estimulando a troca de informações e conhecimentos, promovendo passeios e encontros sociais. 

Nicolaci: Uma instituição como o CVMARJ demanda uma série de requisitos, quais foram os principais desafios e obstáculos enfrentados para criação do Clube?

Capella: Com o crescimento das atividades e aparecimento de outros proprietários de viaturas e entusiastas da causa, formalizar oficialmente o Clube, assinando a ATA de Fundação, o que aconteceu no dia 6 de junho de 2002 sobre o capot de um Jeep de 1942, e isso demandou a criação de uma entidade civil sem fins lucrativos, e lógico, tudo que envolve a criação de algo no Brasil, como um clube, traz consigo burocracia e uma série de normas e exigências, mas nós conseguimos superar todos e estamos completando 18 anos de existência, com muita atividade e fôlego para muito trabalho e novos desafios.

Nicolaci: Quando se fala em preservação da história no Brasil, tudo é muito complicado, quando se trata de história militar então..., sabemos que boa parte de nossa população e mesmo de nosso governo, desconhecem a nossa história e sua importância. Diante disso, como o CVMARJ tem avançado e conquistado tantos adeptos e admiradores no meio civil e militar?

Capella: Com o passar dos anos, o Clube começou a participar de eventos e solenidades cívicas e militares, ganhando confiança e respeito por onde se apresentava. Vivemos em um pais que não preserva sua história, nem seus verdadeiros heróis, então temos que fazer um trabalho de formiguinha, levando a nossa bandeira. 

Com o passar do tempo ganhamos espaço quando mostramos a importância da Motomecanização do Exército Brasileiro (EB), assim como a Participação do Brasil na II Guerra Mundial. Ao longo dos anos vimos que as Forças Armadas, iniciaram atividades de resgate dessa história, com nossa participação  nessa terrível guerra, ligando as Unidades Febianas, mostrando suas participações nos conflitos. A Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira, também fizeram isso, sendo assim, hoje temos estreita relação com essas Forças e com Associações de Veteranos. 

Somos idealizadores do projeto do Museu Vivo de Viaturas Militares Antigas, levado para a ABPVM – Associação Brasileira de Preservadores de Veículos Antigos, da qual somos um dos fundadores, e que assinou com o Exército esse protocolo, que tinha como finalidade, estreitar relações entre as duas entidades, e trabalhar para identificar, recuperar, apresentar viaturas históricas do Exército Brasileiro, fazer apresentações conjuntas das nossas viaturas com as do Exército, trocar conhecimentos técnicos e informações, entre outros. Esse projeto encontra-se aguardando atualização, pois é de importância estratégica para a preservação dessas viaturas do EB. 

Hoje várias Unidades tem viaturas nos seus acervos históricos, que contam com apoio do CVMARJ. Fazemos atividades, cívicas, militares, sociais e humanitárias, conquistando com isso admiração e respeito, pela nossa postura e conduta, assim como divulgação nas mídias sociais. Hoje temos 80 Sócios ativos no Clube, tanto no Brasil, como no Exterior. Participamos de encenações como a da Rendição de Fornovo, trajando uniformes da II Guerra Mundial, assim como Viaturas da época.

Nicolaci: Quais os principais desafios para se obter, restaurar e manter um acervo de veículos tão diversificado, e que além de tudo desfilam por vários cantos do Rio de Janeiro e muitas vezes fora até do Brasil, como foi o caso da Coluna da Vitória na Itália há alguns anos?

Capella: Temos um universo de viaturas no Clube de mais de 180 veículos, espalhados por todo o Brasil, temos vários grupos de debates e troca de informações, com auxilio da internet, manuais antigos e o trabalho do Diretor Técnico e fundador do Clube, José Delatorre, o qual a maioria das nossas viaturas, já passaram por suas mãos. A Coluna da Vitória de 2015, infelizmente, só teve viaturas europeias, pois as 30 viaturas que preparamos para levar de navio para Itália, não puderam embarcar, por problemas alfandegários, quando já se encontravam no porto de Santos/SP.


Nicolaci: Como é a relação do Clube com as instituições militares? Há apoio e cooperação por parte de nossas Forças Armadas? E como é a atuação do Clube na preservação de peças históricas dos acervos em posse das Unidades?

Capella: Nossa relação é muito boa, já ajudamos a restaurar o JIPANF, do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), uma Dodge Comando do MUSAL, viaturas de Unidades do Exército, como do Regimento Sampaio, do ResI, do 11º GAC, do 21º GAC, do CPOR/RJ, do Esqd Tenente Amaro, 15º R C Mec, assim como informações, manuais e peças para outras Unidades, com objetivo de recuperar, identificar ou melhorar suas apresentações, pois estando inertes, paradas, representam a história da Força. Temos ótima relação com os Grandes Comandos, assim como com a DPHCEX e DECEX.


Nicolaci: Com relação ao Projeto Museu Vivo? Qual seu objetivo e como está sendo o processo de criação deste interessante e ousado projeto?

Assinatura do Projeto Museu Vivo com Exército Brasileiro em 2007
Capella: O projeto do MUSEU VIVO, aguarda sua reativação, com melhorias de fluxos e processos, que visam aumentar a sua eficiência. Como já disse é um projeto de interesse estratégico para a preservação de viaturas históricas do Exército, evitando que tenhamos perda de exemplares, já utilizados pela Força, e que não encontramos mais no Brasil, havendo alguns em mãos de particulares...

Nicolaci: Com relação a identificação de viaturas e peças históricas raras do acervo nacional, como tem sido o desafio de conscientizar autoridades e mesmo cidadãos de sua importância?

Capella: Em 2020, comemoramos os 75 anos da Vitória dos Aliados na II Guerra Mundial, infelizmente essa pandemia, somada por interesses políticos, vem prejudicando as grandes comemorações que estavam previstas em todo o mundo. Como disse esse tema vem ganhando ao longo dos últimos anos, uma grande importância, com maior reverência aos poucos combatentes que participaram do conflito, Unidades utilizando uniformes da II GM, toques para Ex Combatentes, solenidades em Associações de Veteranos, exposições fora de Unidades Militares e etc. 

Sempre que identificamos uma viatura histórica em unidades militares que demandem uma atenção especial e mesmo um trabalho de restauração, entramos em contato com os comandos e informamos sobre a importância dessa viatura para preservação de nossa história e nos disponibilizamos em ajudar na recuperação da mesma. 

Nicolaci: Capella, gostaria que nos contasse um pouco sobre o CVMARJ:

Capella: Sempre lembramos dos fundadores do Clube, que com certeza, nunca imaginariam que o CVMARJ chegasse no atual patamar em que se encontra. Nosso primeiro, e eterno Presidente de Honra, João Barone, é uma referência nacional e mundial sobre os temas que norteiam o modus operandi do Clube, sempre divulgando nosso Clube, sendo um amigo que mesmo afastado por motivos profissionais, sempre nos apoia com sua larga experiência e conhecimentos. 

Outros fundadores continuam conosco, e são tratados com a merecida reverência e respeito. Hoje temos uma marca forte, conhecida no Brasil e no exterior, em breve teremos eleição da nova diretoria e conselho, e com certeza buscaremos melhorias de benefícios para nossos associados, assim como maior divulgação na mídia em geral. Temos atividade mensais, com diversas opções para sócios e familiares, buscando sempre unir os membros do Clube, em eventos diversos. 
Somos uma entidade civil, sem fins lucrativos, que hoje tem uma gestão moderna e objetiva, dentro da finalidade que hoje vivenciamos, com uma evolução constante, junto à sociedade, e as Forças Armadas, tendo muito orgulho de pertencer à um Grupo, que hoje é uma referência nacional.

Nicolaci: Dentre tantos momentos vividos nestes 18 anos de história, qual você consideraria os mais importantes e emblemáticos?

Capella: Vou informar alguns:
  • Assinatura do Projeto do Museu Vivo.
  • Criação da ABPVM.
  • Realização do Encontro Nacional de Veículos Militares Antigos no Forte de Copacabana.
  • Ações Humanitárias, nas tragédias em Itaipava, e no Morro do Bumba, em Niterói.
  • Coluna da Vitória no Brasil  e no Rio de Janeiro.
  • Participação das Comemorações dos 70 anos da Vitória da FEB, na Itália.


Nicolaci:  Hoje como é a composição do CVMARJ? Quantos sócios e viaturas compõe essa grande família?

Capella: Hoje temos a seguinte composição: Presidente, Vice Presidente, Diretor Secretário, Diretor Financeiro, Diretor de Relações Públicas, Diretor Técnico e o Conselho Fiscal com 5 membros.

Temos 80 Sócios, sendo que todos com anuidade de 2019, em dia e mais de 25% com a anuidade de 2020 quitada. Como disse temos mais de 180 veículos militares antigos em diversos estágios de funcionamento, distribuídas em várias cidades do Brasil.


Nicolaci: Sabemos que por todo Brasil temos vários clubes de preservação de veículos militares antigos, qual a principal característica que diferencia o CVMARJ dos demais? E como é a relação entre os diversos clubes? Pois sabemos que há uma associação que congrega esses clubes.

Capella: Além da ABPVM, que congrega 14 Clubes em vária regiões do Brasil, ainda temos Clubes independentes e outros em processo de oficialização, já que praticam os nosso conceitos, mas não estão devidamente organizado. Mantemos contato por telefone, aplicativos, redes sociais e e-mails, assim trocamos informações e conhecimentos, que nos ajudam a evoluir sempre. 

Importante ressaltar  que somos um Clube de Veículos Militares Antigos, não um Clube de carros antigos, nem um Jeep Clube, preservamos a originalidade das nossas viaturas, assim como zelamos pela postura dos nossos Associados em todos os momentos, pois nossas viaturas representam o Exército Brasileiro, não participamos de eventos políticos ou religiosos, pois somos o único Clube do Brasil, que tem autorização para utilizar as identificações antigas das viaturas do Exército Brasileiro, utilizadas até os anos 70.

Nicolaci: Diante dos desafios com a pandemia do COVID-19, quarentena e diversas medidas que tem sido executadas pelos governos estaduais e Federal, como o CVMARJ e seus associados tem enfrentado esse momento? Há alguma ação sendo realizada pelo clube?

Capella: A pandemia, realmente está sendo terrível, sob todos os aspectos, e com certeza está nos causando várias dificuldades, mas com certeza, em breve voltaremos as atividades normais, com certeza o mundo será outro, coisas boas e ruins irão ocorrer, temos que esperar e colocar tudo nas mãos de Deus. Temos trabalhado via e-mails, telefone, aplicativos e redes sociais, mantendo a chapa quente, como diz o João Barone.  Recomendamos aos nossos associados, que mantenham suas viaturas prontas, pois em breve teremos muitas atividades, ainda em 2020

Nicolaci: A Pandemia levou ao cancelamento de todos eventos previstos neste primeiro semestre, como estão os planos do CVMARJ para as atividades públicas após a pandemia?

Capella: Temos previsão do Encontro Nacional em Campinas, Coluna da Vitória em São Paulo, e no Rio de Janeiro, Desfile de 7 de Setembro, Acampamento de Veteranos, Viagens à AMAN, Esqd Tenente Amaro, Exposição em Friburgo, churrasco de confraternização, eleições da nova diretoria e conselho, entre outros eventos.

Nicolaci
: Capella, são 18 anos de atividade, como resumiria o saldo da missão do CVMARJ até aqui, e quais as perspectivas futuras?

Capella: Muito positivo, os fundadores do Clube e Sócios mais antigos, nunca poderiam imaginar que hoje, 18 anos depois daquela assinatura no capot de um Jeep da II Guerra Mundial, na Lagoa Rodrigo de Freitas, iria se tornar uma referência no seu segmento, com toda a humildade que podemos ter, criamos o que chamamos de “FAMÍLIA CVMARJ”, e temos um brado que diz: “VAMOS EM FRENTE”.

Nicolaci: Para fechar, gostaria de agradecer mais uma vez pelo apoio que sempre temos dos nossos amigos do CVMARJ em nossa missão, e quero em nome de todo público que acompanha o GBN Defense, parabenizar os membros do CVMARJ, e dizer que é uma imensa honra ser amigo destes verdadeiros guardiões da história da motomecanização de nossas Forças Armadas, e nada mais justo que abrir aqui espaço para que você deixe uma palavra ao nossos leitores. 

Capella: Eu que agradeço em nome do CVMARJ, principalmente pelo carinho que recebemos de parceiros estratégicos como seu site, nos permitindo contar quem somos e o que fazemos para a sociedade em geral.



Fotos: Acervo CVMARJ /Acervo Rafael Sayão / Acervo Nicolaci

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