
Os representantes dos 22 países-membros na Liga Árabe realizarão nesta terça-feira, no Cairo, uma reunião urgente para analisar a situação após o ataque israelense à "Frota da Liberdade", segundo informaram fontes da própria Liga.
Em princípio, a reunião ocorreria às 11h (5h pelo horário de Brasília), mas foi adiada para as 18h (12h de Brasília), quando o secretário-geral da Liga, Amre Moussa, que se encontra em Doha para assistir a um fórum econômico, chegar ao Egito.
Além disso, nesta quarta-feira deve ser realizada uma conferência de ministros de Relações Exteriores, uma reunião que será confirmada por Moussa no encontro de terça.
Na segunda, Moussa convocou esta reunião extraordinária do conselho permanente da Liga Árabe com o objetivo de analisar "o terrível crime cometido pelas tropas israelenses".
Ao menos dez pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas em decorrência do ataque, realizado por uma unidade de elite do Exército israelense em mar aberto contra seis navios que transportava mais de 700 pessoas com ajuda humanitária para a faixa de Gaza.
Também hoje, o Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU convocou "um debate urgente" para discutir a ação de Israel. O fórum teve início nessa segunda-feira, com uma sessão regular de três semanas, mas a agenda inaugural foi alterada devido ao incidente.
A sessão, que será realizada na tarde de hoje, será dedicada exclusivamente ao ataque, a pedido da Liga Árabe e dos países da Organização da Conferência Islâmica (OCI).
Leis
Em representação dessa última, o embaixador paquistanês perante a ONU em Genebra, Zamir Akram, denunciou que "Israel ignora a legislação internacional e as decisões das Nações Unidas" e reivindicou a libertação dos navios e de sua tripulação detida.
Por sua vez, a alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, se declarou "comovida" pelo ataque israelense à frota, que transportava dez mil toneladas de assistência humanitária ao território palestino de Gaza.
O CDH é um órgão intergovernamental das Nações Unidas que tem a responsabilidade de fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos no mundo.
O ministro espanhol de Assuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, que se dirigiu ao Conselho representando a União Europeia (UE), também condenou o ato.
Ataque
A cineasta brasileira Iara Lee, que estava no comboio atacado em israel
O Exército de Israel atacou na madrugada desta segunda-feira um comboio de barcos organizado pela ONG Free Gaza, um grupo de seis navios, liderados por uma embarcação turca, que transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a faixa de Gaza, deixando ao menos dez mortos e cerca de 30 feridos.
O grupo tentava furar o bloqueio de Israel à entrega de mercadorias aos palestinos. De acordo com a imprensa turca o ataque ocorreu em águas internacionais, mas as forças de defesa de Israel mantêm que as embarcações tinham invadido seu território.
De acordo com a rede de TV NBC, entre os ativistas que estavam nos navios, 11 eram americanos, entre eles um ex-embaixador e antigo funcionário do Departamento de Estado.
A cineasta brasileira Iara Lee também estava no comboio. Ontem, autoridades israelenses a localizaram, informando que esla está "em boas condições de saúde" mas havia "se recusado a deixar o país voluntariamente", por isso estaria aguardando para ser deportada.
Versão de Israel
O ministério das Relações Exteriores de Israel compilou uma nota tentando justificar o ataque do Exército israelense contra a "Frota da Liberdade". Traduzido para várias línguas e divulgado pelas embaixadas israelenses ao redor do mundo, o documento visa conter a rejeição da comunidade internacional ao ataque, julgado como "desproporcional".
Segundo a nota o chanceler israelense, Avigdor Lieberman, "os membros da embarcação não estavam em missão de paz e são, na verdade, terroristas que atacaram os militares das FDI [Forças de Defesa de Israel] quando estes abordaram a embarcação que se dirigia à faixa de Gaza".
Ainda de acordo com o comunicado, as tropas israelenses teriam tentado "dialogar e alcançar um entendimento com os organizadores da frota.
O comunicado lembra ainda que "todas as solicitações de Israel ao Hamas para que fosse autorizada a entrada da Cruz Vermelha na faixa de Gaza, com o fim de visitar e atender o soldado israelense sequestrado, Gilad Shalit, foram negadas".
Para o governo israelense a tentativa do comboio humanitário de furar o bloqueio à faixa de Gaza e entregar suprimentos à região foi uma "violência pré-planejada pelo grupo que atacou as FDI e Israel não permitirá qualquer ofensiva ao seu Estado por parte de grupos terroristas ou seus apoiadores".
Reação brasileira
O chanceler Celso Amorim afirmou nesta segunda-feira que o ataque israelense à flotilha que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza justifica a tomada uma ação por parte da ONU. "É um ato muito grave, estamos preocupados com isso, esperamos que a ONU adote alguma ação, e que Israel possa atender ao que for solicitado", disse.
O governo brasileiro condenou nesta segunda-feira, em nota oficial, o ataque. A nota indica que o governo convocou o embaixador de Israel ao Itamaraty para que seja "manifestada a indignação do governo brasileiro com o incidente e a preocupação com a situação da cidadã brasileira".
"O Brasil condena, em termos veementes, a ação israelense, uma vez que não há justificativa para intervenção militar em comboio pacífico, de caráter estritamente humanitário. O fato é agravado por ter ocorrido, segundo as informações disponíveis, em águas internacionais. O Brasil considera que o incidente deva ser objeto de investigação independente, que esclareça plenamente os fatos à luz do Direito Humanitário e do Direito Internacional como um todo", diz o governo brasileiro no comunicado.
Fonte: EFE
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