
O PODER AÉREO COERCITIVO
A Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia revelaram que a decisão política norte-americana influenciou a efetividade do poder aéreo como um instrumento político.
Acerca de estudos focados na coerção, afiançam que “entre os trabalhos mais amplamente citados dos anos 60 e 70, sobre coerção, estão aqueles de Thomas Schelling {...]”. A coerção é decomposta, em deterrence (dissuasão) e compellence, a qual “compreende encetar uma ação [...] a qual se pode interromper, ou vir a ser inofensiva, somente se o opositor responder”.
O cientista político Robert Pape assevera que o poder aéreo seria a maneira mais eficaz de se aplicar, hodiernamente, a coerção de cunho militar. A concepção de Pape concernente ao Poder Aéreo Coercitivo, imprime a ideia de que o melhor uso do poder aéreo não teria como foco a destruição maciça de alvos por intermédio de bombardeios estratégicos.
Para demonstrar suas ideias, o cientista político fundamenta o cerne da argumentação em estratégias coercitivas, nas quais um ente estratégico, a expensas de resistir, conclui que, na relação custo versus benefício, não há compensação positiva e resolve retroceder na escalada de crises internacionais político-estratégicas, tensões e instabilidades regionais entre estados soberanos limítrofes, conflitos armados e guerras convencionais.
Ademais, Pape garante que o poder aéreo tem a capacidade, por meio da coerção, de compelir o inimigo a fazer o que se deseja que ele faça e rever os seus objetivos políticos. Na lógica de uma escalada da violência, evita-se o emprego maciço de homens e de meios materiais das demais forças armadas.
No “intercurso das relações políticas”, Clausewitz (1984) afiançou que haveria “outros meios”. Atualmente, a coerção militar e o poder aéreo coercitivo podem ser mais dois desses instrumentos ao alcance do poder político na “continuação dessa relação política pela entremistura de outros meios”, que foi ideia da lavra daquele teórico da guerra prussiano. Caso seja empregado consoante estratégias coercitivas coerentes e lógicas, o poder aéreo pode constituir-se em eficaz instrumento político e econômico.
Para o Doutor Pape, o poder aéreo seria “a mais importante ferramenta da moderna coerção militar”.
Uma estratégia coercitiva se baseia, fundamentalmente, no conjunto de valores importantes ao oponente. O termo axiologia combina duas palavras gregas: axios (ponderável, valioso, digno, que merece) e logos (razão ou teoria) e é o estudo ou teoria dos valores, o que são, onde estão e como se encontram situados. A seleção axiológica de alvos pertence à escola de pensamento do poder aéreo coercitivo, a qual reputa à arma aérea, devido às suas essenciais características, uma ímpar capacidade para forçar um adversário a aceitar as imposições do atacante.
Entretanto, a maneira mais eficaz de se obter sucesso em todas as circunstâncias exige a judiciosa escolha entre todas as opções estratégicas existentes.
Para o cientista político estadunidense, o poder aéreo coercitivo tem, em contrapartida, desvantagens significativas, visto que "o problema fundamental da coerção é a validade dos mecanismos que supostamente deveriam traduzir efeitos militares específicos em desfechos políticos.”
Em tese, a coerção militar prevê a destruição de alvos, ainda na fase inicial de uma situação de crise, mas não requer o total aniquilamento do adversário ou da totalidade dos meios de resistência desse oponente.
Em “Bombing to win: air power and coercion in war”, Robert Pape expressa e define, matematicamente, a lógica coercitiva na seguinte equação:
R = B p(B) – C p(C)
Onde:
R é a resistência do inimigo;
B é o benefício da resistência;
C é o custo da resistência; e
p ( ) é a probabilidade de angariar benefícios ou suportar custos.
Robert Pape infere da fórmula acima representada e obtém a conclusão: “Uma vez que os custos são distinguidos como sendo maiores do que os benefícios (R<0), por conseguinte pode ser presumido que o inimigo promoverá concessões.” Porém, o autor demonstra que houve casos, nos quais a coerção militar falhou, ou seja, não obteve eficácia.
O cientista político norte-americano define coerção militar como “uma tentativa de atingir objetivos políticos de forma mais econômica, caso comparado com o alcance de uma vitória militar total sobre um inimigo”. Nesse bojo, emergem os princípios de eficiência e eficácia, que somados fornecem o juízo de efetividade, cuja importante ideia é a relevância social, haja vista a coerção poder evitar o uso de força ilimitada.
Se o uso de força coercitiva se aproxima do nível necessário para, militarmente, derrotar o adversário, então essa alternativa (pelo emprego limitado de força bruta ou violência) não mais pode ser considerada econômica. No exato e crucial momento onde uma vitória militar é obtida com o emprego maciço de recursos bélicos, a coerção, por sua vez, falhou completamente, pois não foi eficiente e, muito provavelmente, não demonstrou eficácia e, assim, não atingiu a efetividade (ser relevante na área social) almejada. Uma das potenciais vantagens da coerção militar constitui-se em poder evitar o embate maciço de forças armadas e uma exorbitante escalada na violência.
Portanto, torna-se inteligível que a opção por uma estratégia de custo imposto (também nomeada de estratégia de coerção) visa à transformação de uma resistência continuada e exorbitantemente onerosa à liderança inimiga. Procura-se realizá-la por intermédio da avaliação do limite de sacrifício que o inimigo está disposto a suportar. Há autores que elucidam o intrincado significado da coerção e o embutem na ideia de “ameaça do uso de força e, às vezes, uso limitado de força real para mover para trás a ameaça, para induzir um adversário a mudar seu comportamento”.
Sob esse aspecto, o poder aéreo tem vantagens por essência. De fato, seria vantajoso usar apenas o poder aéreo, e até mesmo econômico, em termos políticos e, da mesma forma, no campo logístico-militar.
Entretanto, a ideia inicial é a de que, aparentemente, a coerção “deveria ser fácil [...] porém coerção permanece difícil”.
Fundamentalmente, enfatize-se que o emprego eficaz da coerção continua intricado até para as mais bem equipadas forças armadas do mundo, como, por exemplo, as dos Estados Unidos da América.
Pelo pensamento teórico vigente, a estratégia da coerção se constitui em “uma função crucial ao militarismo dos Estados Unidos [...] mesmo assim os Estados Unidos freqüentemente falharam em usar medidas coercitivas, bem sucedidas ou perfeitamente, contra adversários”.
As particularidades inerentes ao poder aéreo, e.g. a ubiquidade, concedem-lhe papel capital no desempenho de futuras operações coercitivas. Dessa forma, o poder aéreo constitui-se em parcela substancial no cálculo das alternativas políticas, pois pode solucionar uma situação de crise quando há condições adversas para invasão por terra ou por mar. A Força Aérea detém vantagens coercitivas sobre as demais forças armadas. Uma equivale à capacidade de deter invasões terrestres ou limitar agressões antes que se tornem fait accomplis (fato consumado).
De fato, o poder aéreo tem características intrínsecas à coerção. Decerto que os atributos do poder aéreo, como flexibilidade e precisão, podem evitar embates corpo-a-corpo e “permitem que os elaboradores de políticas minorem as limitações como a intolerância a perdas humanas que frequentemente dificultam estratégias coercitivas”.
Essas características intrínsecas à arma aérea a tornam uma versátil ferramenta de coerção militar, mesmo em teatro de operações sem a prévia conquista da superioridade aérea, no contexto da guerra convencional.
Ademais, esses predicados próprios do poder aéreo traduzem um viés coercitivo mesmo numa arena de combate, na qual se opere ainda sem a vantagem de supremacia numérica em relação ao oponente racional. Essa aptidão não se aplica à maioria das forças terrestres e navais (exceção feita às forças especiais, aos grupamentos de comandos como, por exemplo, no caso de mergulhadores de combate em furtivas missões de sabotagem, etc).
As capacidades de logística e de mobilização aeroespaciais da nação podem aumentar (ou diminuir, se não forem eficazes), exponencialmente, os fatores da equação matemática idealizada por Pape e replicada neste estudo.
Fonte: JDRI
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