quarta-feira, 19 de maio de 2010

Brasil denunciará EUA no conselho de segurança da ONU



O Itamaraty não escondeu hoje a sua indignação com a atitude dos Estados Unidos de ignorar o acordo extraído pelo Brasil e a Turquia do governo iraniano e enviar uma proposta de novas sanções contra o Irã ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como reação, os chanceleres do Brasil e da Turquia encaminharão nesta semana uma carta a cada membro do Conselho. No texto, que na prática funcionará como uma denúncia da posição dos EUA e aliados, Brasil e Turquia defenderão que o acordo traz exatamente os termos exigidos por essas potências e censurarão o fato de Washington não ter dado um prazo para que o Irã pudesse colocá-lo em marcha antes de colocar a máquina das sanções em ação.

"O acordo (de Teerã) é o acordo que eles propuseram. Nós (Brasil e Turquia) apenas estávamos viabilizando uma maneira de chegar ao acordo que estava sobre a mesa. Todas as dificuldades foram superadas", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Segundo o chanceler, as negociações conduzidas pelas delegações turca e brasileira no último final de semana permitiram eliminar todas as resistências e novas exigências do Irã em relação à proposta de acordo de outubro do ano passado. Conforme argumentou, o governo iraniano aceitou o depósito de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido na Turquia em um prazo de 30 dias e o recebimento, um ano depois, dos elementos combustíveis para o reator de Teerã.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta terça-feira que o acordo com o Irã, mediado por Brasil e Turquia, é a porta de entrada para negociações mais amplas e a melhor forma de garantir que o país não continuará a enriquecer de urânio.

Para o chanceler, o Brasil não tem motivos para acreditar que o programa nuclear iraniano tenha objetivo militar, como acusam algumas potências militares, e também questionou a eficácia de se aplicar sanções, sugerindo que o Irã pode se fechar.

Amorim disse que o fato de o Irã ter anunciado que manteria seu processo de enriquecimento de urânio a 20 por cento, após ser divulgado o acordo intermediado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não enfraquece o compromisso firmado pelo país.

Ignorar o acordo, segundo o chanceler, representa uma atitude de desprezar uma solução pacífica.

"Esta é a primeira vez que o Irã aceita, por escrito, a proposta, sem condicionalidades", disse a jornalistas Amorim, que esteve com Lula em Teerã. "Está é a porta de entrada para um processo de discussão mais ampla."

"Todos os pontos que eram considerados essenciais para esse acordo para troca de urânio, que era considerado o passaporte para uma solução negociada e pacífica, foram preenchidos", afirmou Amorim, acrescentando que o governo iraniano se comprometeu a escrever uma carta à AIEA formalizando os termos do acordo.

O chanceler afirmou ainda que a maior garantia de que não está havendo um desvio do programa nuclear iraniano para atividades militares seria a presença de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no Irã, e isto está "garantindo implicitamente" no acordo.

"Nós não temos uma relação profunda nem temos uma razão específica pra defender o Irã. Agora, nós defendemos sim a justiça internacional, a paz internacional, a norma internacional, e não decisões tomadas em opiniões que não sejam totalmente comprovadas", disse Amorim.

Brasil e Turquia assinaram com o Irã, no fim de semana, um acordo pelo qual a República Islâmica enviará ao exterior 1.200 quilos de seu urânio de baixo enriquecimento em troca de 120 quilos de combustível nuclear para um reator de pesquisas médicas em Teerã.


NOVAS SANÇÕES

O objetivo do acordo era acalmar as potências globais e afastar a imposição de novas sanções ao país.

Mas autoridades norte-americanas disseram que o acordo era uma manobra do governo iraniano para adiar novas sanções, e, nesta terça-feira, o esboço de uma resolução com novas sanções do Conselho de Segurança da ONU pedia a expansão de medidas punitivas contra o Irã e instituições do país pela recusa em interromper as atividades nucleares.

Após o anúncio do acordo com Brasil e Turquia, o Irã disse que pretendia continuar a enriquecer urânio, aumentando as suspeitas de que seu programa nuclear não tem fins pacíficos.

O Brasil ocupa atualmente um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU, e Amorim afirmou que haverá uma reação do país contrária ao esboço da resolução.

"Temos uma chance, sim, para uma solução pacífica e negociada. Aqueles que desprezarem esta chance, ou que acharem que através de sanções e outras medidas chegam mais perto, eles assumirão suas responsabilidades", disse.

Amorim afirmou ainda ver "avanços notáveis" no impasse nuclear iraniano, acusado pelas potências ocidentais de ser um disfarce para a produção de armas nucleares, o que Teerã nega.

Fonte: Estadão

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