
Em uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), aliados ocidentais de Israel pressionaram nesta quarta-feira o país a investigar as acusações do relatório Goldstone sobre crimes de guerra ocorridos durante a ofensiva de dezembro e janeiro na faixa de Gaza. Israel, que esperava o apoio dos Estados Unidos contra o documento, disse que o relatório é uma perda de tempo para o conselho.
EUA, Reino Unido e França --todos membros com poder de veto no conselho-- disseram que Israel deveria analisar as conclusões de Richard Goldstone, um jurista sul-africano que apontou a ocorrência de crimes de guerra por parte de Israel e do grupo islâmico radical Hamas durante o recente conflito, em um relatório elaborado a pedido do Conselho de Direitos Humanos da organização.
Um comitê liderado por Goldstone analisou os 23 dias da operação que causou a morte de 1.400 palestinos, em sua maioria civis, segundo informações de hospitais locais e de ONGs israelenses, palestinas e internacionais.
O documento afirma que Israel fez uso desproporcional da força e violou o direito humanitário internacional, porém pondera que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos --que motivaram a operação, segundo o governo de Israel-- também configura crime de guerra.
O relatório recomenda ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU exija que os dois lados investiguem suas atuações, sob a ameaça de transferir o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Tanto Israel quanto Hamas rejeitam as acusações do relatório, que é mais crítico aos israelenses que aos palestinos.
Em um debate do Conselho de Segurança, a embaixadora de Israel, Gabriela Shalev, disse que o relatório era uma perda de tempo para o conselho, pois suas 575 páginas "favorecem e legitimam o terrorismo".
O embaixador-adjunto dos EUA na ONU, Alejandro Wolff, disse que Washington tem sérias preocupações com o relatório, incluindo o seu "foco desequilibrado sobre Israel". Mas repetiu a posição americana de que o governo israelense deveria examiná-lo.
"Levamos a sério as acusações no relatório", disse ele ao conselho. "Israel tem as instituições e a capacidade de realizar investigações sérias dessas acusações, e encorajamos que o faça".
Wolff afirmou que o Hamas é uma organização terrorista que não teria nem disposição nem capacidade de investigar o seu próprio comportamento. O Hamas, que governa a faixa de Gaza, não reconhece o direito de Israel a existir.
Os EUA aceitaram com relutância discutir o relatório durante o debate mensal do Conselho de Segurança sobre o Oriente Médio. Antes, Washington dizia que o assunto deveria ser tratado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, que encomendou o relatório.
Ofensiva
Israel lançou em 27 de dezembro uma grande ofensiva contra o grupo islâmico radical Hamas na faixa de Gaza com objetivo declarado de retaliar o lançamento de foguetes contra o território israelense.
Segundo o Centro Palestino de Direitos Humanos, a operação deixou 1.434 palestinos mortos --incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes. Já as Forças de Defesa israelenses admitiram ter matado 1.370 pessoas, incluindo 309 civis inocentes, entre eles 189 crianças e jovens com menos de 15 anos.
Diversos grupos de direitos humanos divulgaram relatórios criticando os dois lados por crimes de guerra --Israel pelo abuso de força em um território populoso e o Hamas por usar humanos como escudos e por atirar foguetes indiscriminadamente contra Israel.
O Exército israelense realizou uma investigação interna em abril passado diante de relatos publicados no jornal israelense "Haaretz" de soldados que lutaram na recente ofensiva na faixa de Gaza e que descrevem assassinato de civis inocentes, além de um bilhete que ordena ataques a equipes médicas e a campanha dos rabinos do Exército para transformar a operação em uma "guerra santa". Na época, as Forças Armadas israelenses rejeitaram as denúncias como boatos.
Fonte: Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário