sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Homenagem ao fim da "Guerra do Contestado"


Ao abrir a sessão especial de homenagem ao fim da Guerra do Contestado, o senador Mão Santa (PMDB-PI), que no momento presidia a Mesa, leu nesta quinta-feira (8) um discurso encaminhado pelo presidente do Senado, José Sarney. A iniciativa de propor a homenagem partiu do senador Raimundo Colombo (DEM-SC).

No discurso lido por Mão Santa, Sarney lembra que a Guerra do Contestado foi a maior revolta civil do período republicano, que chegou a envolver metade do Exército brasileiro. "As causas da Guerra do Contestado são bastante complexas, mas tudo começou com duas disputas de terra, ambas relacionadas ao oeste de Santa Catarina. A primeira se deu entre Brasil e Argentina, ainda por conta do Tratado de Tordesilhas, e foi definitivamente resolvida em 1895. A outra se deu entre os Estados do Paraná e de Santa Catarina. Tais conflitos deram nome à região: Contestado", diz o texto.

Ainda no discurso lido por Mão Santa, Sarney observa que o fim do conflito resultou na fixação definitiva dos limites fronteiriços entre o Paraná e Santa Catarina, em acordo firmado em 20 de outubro de 1916. "Seu maior legado, no entanto, foi forjar e formar a identidade sociocultural do povo catarinense, cuja fibra e união é hoje reconhecida por todos nós, quando vemos a enorme capacidade desse povo de recomeçar do zero após as inúmeras tragédias naturais que vêm atingindo Santa Catarina", continua o texto, no qual Sarney expressa ainda "admiração e solidariedade" aos catarinenses


Ao discursar nesta quinta-feira (8), o senador Neuto de Conto (PMDB-SC) afirmou que a chamada Guerra do Contestado (1912 a 1916) começou logo após a Constituição do Império criar os estados do Paraná e de Desterro (hoje Santa Catarina) sem estabelecer suas divisas. Com isso, tropas e cidadãos paranaenses começaram a entrar nas terras de Desterro, que julgavam suas, mas encontraram a resistência de caboclos, sertanejos, peões e posseiros, que defendiam seu direito àquelas terras, das quais tiravam o sustento.

Depois de muitos combates e mortes, disse o senador, a divisa entre os estados foi acordada entre os governadores do Paraná e de Santa Catarina e o governo federal. Esse acordo foi ratificado pelas assembleias de ambos os estados, resultando num aumento do território catarinense de 28 mil quilômetros quadrados.

- Dentro dessa mesma área contestada, temos uma história fantástica de habitação, com dezenas e dezenas de famílias, que, trazendo a esperança, a fé e a força do braço, adentravam para domar a terra, para plantar e para colher. Lá foram, com picaretas, cabos de enxada. Construíram as pontes e as primeiras estradas, domou-se a terra, substituíram-se as matas por campos de produção e construíram, fazendo surgir e crescer vilas e cidades - disse Neuto de Conto, ressaltando que, atualmente, Santa Catarina possui o maior complexo agroindustrial da América Latina.

Neuto de Couto também disse que Santa Catarina pode se orgulhar de seus poetas, músicos e artistas; da produção de maçã, uvas e vinho, dos projetos de reflorestamento; da produção de cerâmica e carvão; do litoral e do desenvolvimento tecnológico.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) apontou a importância da reflexão sobre as razões da Guerra do Contestado no momento em que está sendo discutido o modelo de exploração de petróleo na camada pré-sal , para que erros históricos não se repitam. A senadora fez a afirmação nesta quinta-feira (8), ao discursar durante a celebração do fim do conflito. A Guerra do Contestado ocorreu no sul do país, entre 1912 e 1916, envolvendo cerca de 20 mil camponeses, que enfrentaram forças militares numa área de disputa territorial entre o Paraná e Santa Catarina.

A senadora se referia a concessão feita pela União, à época, à multinacional americana Brazil Railway, responsável pela construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande. O Estado garantiu à multinacional uma subvenção de 30 contos de réis por quilômetro construído, além de juros de 6% ao ano sobre todo o capital investido pela concessionária na obra. Além disso, a empresa, conforme explicou a senadora, obteve o direito de explorar 15 quilômetros de cada lado da estrada, numa área rica em madeira e em erva mate, além do aval para revender terrenos desapropriados às margens da estrada.

- Talvez essa tenha sido a primeira grande entrega de um patrimônio nacional a empresas estrangeiras. Analisar a Guerra do Contestado sob essa ótica da concessão num momento como esse, em que debatemos a descoberta dessa grande riqueza que é o pré-sal, é muito importante. Os interesses do povo brasileiro têm que ser colocados em primeiro lugar - disse.

Ideli disse ainda que a luta pela terra, base da Guerra do Contestado, acabou produzindo em Santa Catarina um dos modelos mais democráticos de distribuição da terra do país.

- Esse espírito lutador e solidário do povo do Contestado sempre norteou as reivindicações de todo o povo catarinense, esses homens e mulheres de um estado que, me orgulho em dizer, não é formado só por latifúndios mas principalmente por pequenas propriedades rurais, que com seus pequenos agricultores ajudam a garantir a oferta de alimentos para a nação - disse

Fonte: Agência Senado

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