
Um relatório independente encomendado pela União Europeia e divulgado na quarta-feira culpou a Geórgia por ter começado a guerra de cinco dias contra a Rússia em 2008, mas disse que a reação de Moscou ultrapassou os limites do razoável e violou o direito internacional.
O texto diz que ambas as partes violaram leis humanitárias e que há evidências de limpeza étnica contra membros da etnia georgiana durante a intervenção russa na província separatista da Ossétia do Sul.
Os dois lados disseram que o relatório corrobora sua interpretação da guerra. Mas as conclusões são particularmente críticas à conduta da Geórgia, país aliado do Ocidente, e devem prejudicar a posição política do presidente Mikheil Saakashvili.
"Na visão da missão (de investigação), foi a Geórgia que desencadeou a guerra quando atacou Tshkinvali (capital da Ossétia do Sul) com artilharia pesada, na noite de 7 para 8 de agosto de 2008," disse a diplomata suíça Heidi Tagliavini, que comandou a investigação.
O Kremlin se apressou em elogiar o que vê como a principal conclusão do relatório. "Nós só podemos comemorar que a comissão tenha descoberto que a guerra foi iniciada pela Geórgia," disse Natalya Timakova, porta-voz do presidente Dmitry Medvedev.
O relatório disse que a guerra ocorreu depois de tensões e provocações por parte da Rússia, mas Tagliavini disse que "nenhuma das explicações dadas pelas autoridades georgianas a fim de fornecer alguma forma de justificativa jurídica para o ataque lhe concede uma explicação válida."
Saakashvili alegou que a Geórgia estava reagindo a uma invasão das forças russas e por isso invadiu a região separatista georgiana da Ossétia do Sul. O relatório, no entanto, não encontrou evidências disso.
O texto diz que o contra-ataque russo inicialmente foi legal, mas que a reação militar violou o direito internacional quando as forças russas entraram na Geórgia propriamente dita.
Tbilisi diz que 228 civis georgianos foram mortos na guerra, e que 184 dos seus militares morreram ou desapareceram. A Rússia diz que 64 militares seus e 162 civis da Ossétia do Sul foram mortos, mas afirma também que a cifra de vítimas civis pode ser mais elevada.
Fonte: Agência Reuters

Outra interpretação
O relatório da UE (União Europeia) divulgado nesta quarta-feira sobre o conflito entre Rússia e Geórgia, em agosto de 2008, ganhou elogios do governo georgiano e foi recebido com satisfação por Moscou.
"O documento não fala em nenhum momento que a Geórgia tenha provocado a guerra" ao atacar a região separatista da Ossétia do Sul, afirmou, em entrevista coletiva, o ministro da Reintegração georgiano, Temur Iakobashvili. Para o georgiano, o relatório demonstra que "o conflito na Ossétia do Sul não começou em 7 de agosto, mas muito antes", e que "foi o ponto alto das provocações cometidas pela Rússia e pelo regime separatista", disse.
O relatório, elaborado após um ano de investigação pela suíça Heidi Tagliavini e financiado pela UE, indica que foi a Geórgia que iniciou as hostilidades, mas em um contexto de tensão crescente provocada pela Rússia.
Segundo Iakobashvili, o relatório ressalta que a Rússia prestava há anos "ajuda econômica e militar aos separatistas", e que suas "tropas regulares estavam na Ossétia do Sul antes de 7 de agosto", quando, segundo a Geórgia, os ataques da Ossétia do Sul contra localidades georgianas da região obrigaram Tbilisi a entrar em ação.
Por outro lado, o ministro ressaltou que Tbilisi discorda de várias teses do relatório, como a que sustenta que não houve uma invasão maciça de tropas russas na Geórgia.
Rússia
O embaixador russo perante a União Europeia (UE), Vladimir Chizhov, também recebeu com satisfação o relatório independente das causas do conflito russo-georgiano, já que, conforme ele, "confirma a principal questão: quem começou a guerra e é responsável".
Para Chizhov, a diplomata suíça fez "muito bom trabalho" em um relatório que, para ele, não é "uma grande surpresa", porque "confirma o que os russos tinham avisado ao mundo em relação ao aumento das provocações do regime georgiano". Por isso, disse confiar em que "os países e líderes que duvidaram tenham agora uma posição clara" e em que "os que deram ajuda militar aos georgianos pensem duas vezes".
Ele afirmou que a resposta russa ao ataque georgiano "foi proporcional", já que, se houvesse enviado um número menor de soldados, "teria alongado as hostilidades".
Guerra
Tropas da Geórgia invadiram no dia 7 de agosto de 2008 a Ossétia do Sul, região separatista que declarou independência no começo dos anos 90, provocando a reação da Rússia, que apoia a secessão e mantém forças de paz na região.
Nos dias seguintes, a Rússia enviou tropas para a Ossétia, bombardeia o território georgiano e abre uma nova frente de conflito na região separatista de Abkházia, no noroeste da Geórgia. A guerra matou pelo menos 390 civis e no seu auge deixou mais de 100 mil desabrigados. Um pacto de cessar fogo não cumprido e tiroteios esporádicos mantêm vivo o risco de novo conflito.
O presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, diz que a Rússia estimulou o separatismo e invadiu antes de ele agir, uma acusação que Moscou refuta.
A Geórgia afirma que a invasão foi planejada como punição por sua posição pró-ocidental e por sua tentativa de entrar na aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Fonte: folha
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