Os Estados Unidos condenaram o ataque suicida deste domingo no sudoeste do Irã que matou 31 pessoas, entre elas ao menos cinco comandantes da Guarda Revolucionária iraniana, e negaram envolvimento com a ação. Como de costume, logo após o ataque, a imprensa oficial iraniana divulgou declarações responsabilizando americanos e britânicos pelo atentado, que foi assumido em seguida pelo grupo militante sunita Jundallah (Soldados de Deus), suposto responsável por outro grande atentado suicida na mesma região neste ano.
"Condenamos esse ato de terrorismo e lamentamos a perda de vidas inocentes. As informações de suposto envolvimento dos Estados Unidos são completamente falsas", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Ian Kelly em breve declaração.
Morreram na explosão, detonada por um homem-bomba na cidade de Sarbaz, cinco comandantes da Guarda Revolucionária, incluindo o vice-chefe das forças de terra, general Nourali Shoushtari, líderes tribais que os acompanhavam e civis que estavam próximos ao local da explosão, segundo a imprensa iraniana. Cerca de 20 pessoas ficaram feridas no ataque, o segundo grande atentado suicida assumido pelo Jundallah neste ano. O número de mortos foi elevado de 29 para 31 nos relatos mais recentes da TV estatal.
"O general Shoushtari juntamente com uma série de outros comandantes [da guarda] tinham ido lá para assistir a uma conferência", informou a TV Press citando um funcionário. "Mas antes de eles chegarem, havia alguns moradores tribais que estavam fazendo de cestos, e fui falar com eles e foi quando o ataque aconteceu [...] E o general Shoushtari foi morto juntamente com uma série de outros altos e de moradores tribais".
A agência de notícias Irna informou que os comandantes estavam dentro de um carro a caminho de uma reunião na região Pishin, perto da fronteira do Irã com o Paquistão, quando um terrorista detonou os explosivos que trazia consigo.
A Província do Sistão e Baluquistão, onde aconteceu o atentado, tem estado no centro de recentes ataques violentos do Jundallah, que mantém uma insurgência de baixa atividade nos últimos anos no país de maioria xiita e governado em grande parte por aiatolás. O grupo acusa o governo de perseguição à minoria religiosa e tem realizado ataques contra a Guarda Revolucionária e alvos xiitas no sudeste do Irã.
Antes de o grupo assumir a autoria do ataque, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, condenou o assassinato dos comandantes da Guarda, dizendo que o atentado teve como objetivo interromper a segurança na região.
"Nós expressamos nossas condolências pelo seu martírio [das vítimas]. [...] A intenção dos terroristas era definitivamente a perturbar a segurança na Província de Sistão e Baluquistão", disse Larijani em uma sessão do Parlamento transmitida ao vivo pela rádio estatal. Ele disse que o atentado vai servir de estímulo para uma ação mais firme contra os traficantes de armas e drogas.
Segundo a agência Isna, as palavras de Larijani, que apontou a participação dos EUA no ataque, foram recebidas pelos parlamentares com gritos de "Morte aos Estados Unidos!".
Em um comunicado divulgado pouco antes, a Guarda Revolucionária atribuiu a "mercenários da arrogância mundial" o atentado na conflituosa Província do Sistão e Baluchistão, perto da fronteira com o Paquistão e o Afeganistão.
"Sem dúvida, este ato selvagem e desumano está relacionado à estratégia satânica dos estrangeiros e dos inimigos que foram feridos pela Revolução Islâmica", disse, em nota, a força de elite do país. É de praxe o Irã usar a expressão "arrogância internacional" para se referir ao Ocidente, especialmente aos EUA. "Com este atentado, tentam romper a unidade entre xiitas e sunitas e dividir as fileiras integradas e unidas do povo iraniano."
Fontes governamentais citadas pela imprensa oficial também responsabilizaram o Reino Unido pelo ataque, o que não deve ser alterado depois que o Jundallah assumiu o atentado, porque em outras ocasiões houve acusações de que o Ocidente auxiliava o grupo sunita para enfraquecer o regime iraniano.
Em maio, o Jundallah reivindicou a autoria de um atentado suicida em uma mesquita xiita, que matou 25 pessoas em Zahedan, capital da Província de Sistão e Baluquistão, a área de alguns dos piores ataques do grupo. Treze membros da facção foram condenados pelo ataque e enforcados em julho.
O grupo Jundallah, composto de sunitas da minoria étnica baluqui, realizou atentados, sequestros e outros ataques contra os soldados iranianos e de outras forças, nos últimos anos, incluindo o sequestro, em dezembro de 2006, de sete soldados iranianos na área Zahedan. Os sequestradores ameaçaram matá-los se os membros do grupo em prisões iranianas não fossem liberados. Os sete foram libertados um mês depois, aparentemente, depois de negociações através de mediadores tribais.
Em fevereiro de 2007, um ataque do grupo matou 11 membros da Guarda Revolucionária perto de Zahedan, capital da Província de Sistão e Baluquistão, e área de alguns dos piores ataques do grupo. O Jundallah também reivindicou a autoria de um atentado suicida na cidade em maio deste ano em uma mesquita xiita, que matou 25 pessoas. Treze membros da facção foram condenados pelo ataque e enforcados em julho.
Na época desses dois ataques, o governo iraniano divulgou suspeitas de que os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido --o grande e o pequeno Satã, na retórica do regime xiita-- estavam por trás das ações, o que foi negado pelos dois países. O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, também acusou os dois países ocidentais de estarem por trás dos protestos contra supostas fraudes que se seguiram à reeleição, em primeiro turno, do presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad, em junho deste ano, mas em agosto disse que não havia provas dessa participação.
A retórica antiocidental é um dos pilares do regime clerical e se baseia no histórico de intervenções estrangeiras no país. Em 1953, os EUA participaram de um golpe contra o primeiro-ministro nacionalista Mohamed Mossadegh, e nos anos seguintes apoiaram o regime ditatorial do xá Reza Pahlevi, cuja queda abriu caminho para o governo dos aiatolás.
Atualmente, a relação entre o Irã e o Ocidente é marcada pela tensão em relação ao programa nucelar do país, visto pelos EUA e seus aliados como uma preparação para a fabricação de armas nucleares, o que é enfaticamente negado por Teerã.
Aparente alvo do ataque deste domingo, a Guarda Revolucionária foi criada depois da Revolução Islâmica de 1979, que estabeleceu o Estado de inspiração xiita, como um baluarte ideológico para defender o regime clerical iraniano. A força de elite, com por 120 mil membros controla o programa de mísseis e tem suas próprias unidades de terra, navais e aéreas, de forma autônoma em relação ao Exército.
Fonte: Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário