sábado, 4 de março de 2017

SAIA 90 - Oportunidade perdida dos Hermanos...


Assim como o Brasil já teve grandes oportunidades no campo de defesa, onde no passado recente, desenvolvemos bons projetos no campo de viaturas de combate, aeronaves e outros sistemas, os nossos vizinhos argentinos também experimentaram uma fase de grandes projetos e oportunidades que infelizmente foram perdidas, dentre estas vamos falar nesta matéria sobre o caça de superioridade aérea que tinha tudo para ser uma bem sucedida aeronave, nós estamos falando do SAIA 90, uma aeronave projetada pela FMA, indústria aerospacial que teve grande prestígio nos idos anos 60-80.

Os argentinos haviam concebido um planejamento estratégico que previa um grande programa de desenvolvimentos que previa atingir a independência tecnológica através da concepção de um projeto dividido em 3 etapas, definidos após o sucesso no programa do IA-58 Pucará nos meados dos anos 60.

IA-63 Pampa
Os passos desta estratégia incluíam a concepção de um treinador avançado nacional, que viria a resultar no IA-63 Pampa  que foi o único dos três programas a chegar à produção, uma aeronave de transporte leve de carga, que resultaria no programa IA-67 Córdoba e uma aeronave de combate multifuncional, este resultaria no programa SAIA 90, objeto desta matéria.


IA-67 Córdoba

Em meados dos anos 80, com a estreita relação entre a FMA e a Dornier, que teve como fruto o desenvolvimento do FMA IA 63 Pampa, que resultou no acordo de cooperação para produção das aeronaves, além de ter demandado o estabelecimento de um escritório conjunto entre as duas indústrias na cidade de Córdoba, responsável pelo gerenciamento da produção, marketing e suporte. 


Assim, a Dornier cedeu alguns esboços afim de estabelecer um ponto de partida para a nova aeronave, que incluía muitos aspectos na concepção aerodinâmica e soluções. O estudo alemão permitiu formular os requisitos básicos, tais como suas capacidades de combate aéreo e as condições operacionais, além de definir o armamento que a nova aeronave poderia receber em seu leque. Estes estudos serviram de base para a Força Aérea Argentina estabelecer os requisitos da nova aeronave multifunção que iria substituir os seus Mirage III e Dagger em operação. 




Tendo como referencia adotada o então recente conflito no Vietnã, onde a arena de combate aéreo esteve estabelecida em uma altitude inferior a 8000 m, com a grande ameaça representada pelas baterias antiaéreas. Com a maioria dos embates aéreos sendo travados em velocidades entre Mach 0,5 á 0,9, apesar de muitas da aeronaves presentes no conflito possuir capacidade de atingir maiores velocidades, sendo esta velocidade observada em prol de manter a maior manobrabilidade possível das aeronaves durante os dogfights, permitindo aos mesmos realizar manobras mais adequadas no combate aéreo e permitindo travar o inimigo em suas miras. O programa SAIA 90 tinha como parâmetro manter a capacidade de grande manobrabilidade obtidas a baixas velocidades também em voos supersônicos, sendo um dos pontos relevantes considerados na concepção da nova aeronave, sendo capaz de atingir valores elevados de Mach.

O SAIA-90 possuía uma empenagem dupla muito similar ao norte americano F/A-18 Hornet, construída em materiais compostos, com cerca de 65% das asas construídas em fibra de carbono, 20% de alumínio e o restante em vários materiais como o titânio, a fuselagem dianteira teria 60% de CFRP (fibras de plástico reforçado com carbono), o centro 18% e 10%, sendo completado com outros materiais utilizados na asa, projetadas para possuir reduzidas assinaturas radar e infravermelha. Sua motorização ficaria a cargo de dois motores turbofan, tendo sido avaliada a adoção das turbofans GE F404, o que permitiria a aeronave atingir a velocidade máxima de Mach 2,25,  contando com um radar capaz de monitorar e atacar múltiplos alvos aéreos, terrestres e navais. O FMA SAIA 90 previa o uso intensivo de material absorvente de emissão de radar, como utilizado no francês Rafale e no Eurofighter Typhoon. 

O armamento proposto para a nova aeronave contaria com misseis infra-vermelho AIM-9 Sidewinder, os mesmos utilizados pelos Sea Harriers da Royal Navy durante a Guerra das Malvinas, misseis guiados por radar semi-ativo AIM-7 Sparrow, e uma carga útil de 5.000kg de bombas e mísseis ar-terra, contando ainda com um canhão interno Mauser BK-27mm com 150 projeteis. O peso vazio ficava na casa de 7.800 kg.

A FMA planejava construir o primeiro protótipo em 1989 e entregar as primeiras aeronaves operacionais a Força Aérea Argentina em 1991, porém, com a grave crise em que mergulhou a Argentina após a derrota na Guerra das Malvinas, o que resultou no afastamento da Dornier do programa argentino na metade dos anos 80. A FMA possuía um deficit de 50 milhões de dólares por ano e novamente buscava um parceiro para dar continuidade em seus projetos. Inicialmente abordaram a McDonnell-Douglas, onde se buscava um acordo para a construção sob licença dos caças A-4M Skyhawk II e de assentos ejetores para os IA-63 Pampa, porém, os americanos não queriam assumir o risco de desenvolver um novo caça, pois na época a McDonnell-Douglas já tinha desenvolvido um caça da mesma categoria que objetivava o programa SAIA 90, sendo este o F/A-18 Hornet. A Alenia-Aermacchi também foi procurada pela FMA, porém a grave situação econômica na qual mergulhara a Argentina impossibilitou a viabilidade de qualquer acordo , assim infelizmente a FMA teve de cancelar o programa SAIA 90, alocando todos seus recursos no IA-63 Pampa.

A Argentina neste projeto conquistou o domínio de diversas tecnologias, principalmente com relação às estruturas e materiais compostos, como fibra de carbono e titânio. Mas infelizmente o fim do programa, e a instabilidade política e financeira no país, impossibilitaram qualquer novo desenvolvimento que representasse algum importante avanço em sua indústria de defesa, sendo um reflexo negativo da política e economia predominantes no continente. 

Hoje vemos uma Argentina muito distante do que já foi um dia, sendo em outros tempos uma nação considerada forte e bem equipada, hoje pena em busca de manter suas forças armadas com o mínimo para que possa garantir a sua soberania e defesa.

Esperamos que nós brasileiros venhamos a observar os erros de nossos vizinhos e os nossos próprios, para que não se percam as novas oportunidades que surgem em nosso horizonte com programas importantes como o KC-390 e o Gripen E/F. Que haja consciencia política e visão economica, onde se vislumbre um planejamento estratégico com o qual não venhamos apenas a obter os 36 caças previstos no primeiro momento, mas uma força que vislumbre um número adequado a nossa capacitação industrial e absorção de tecnologias com vistas a possibilitar um futuro promissor no campo de defesa da indústria nacional brasileira.

Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor e fundador do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do Oriente Média, Leste Europeu, Rússia e América do Sul.

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Um comentário:

  1. Excelente matéria. Hoje os argentinos estão piores do que jamais pensaram em matéria militar, sobretudo de aviação. Fica o alerta a nós.

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